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terça-feira, 6 de agosto de 1985

Regresso do Bojador ... uma aventura no deserto

Cabo Bojador, 23 de Julho de 1985. Com a "garantia" do nosso simpático Caïd de que os problemas mecânicos seriam certamente solucionados, partimos de Boujdour antes da uma da tarde. O próximo objectivo era Smara, a cidade santa do Sahara ocidental, 230 km a nordeste, para o interior.
Mas ... à medida que nos afastávamos da costa, a  temperatura  ia subindo rapidamente;  íamos  começar  a
A caminho de Smara, tarde de 23 de Julho de 1985
pagar a frescura do litoral. A paisagem transformou-se numa imensa e inóspita planície, recortada apenas de quando em quando por pequenas hammadas, as mesetas pedregosas características destas remotas paragens.
Pelas sete horas da tarde, o termómetro de bordo ... atingiu os 50º. O céu não estava muito limpo, mas era uma neblina estranha, de uma cor amarelo-rosa ... a mesma cor da areia que nos rodeava...! No mesmo sentido que nós, uma Toyota ultrapassou-nos quando estávamos parados numa das cada vez mais frequentes operações para tentar que o dínamo funcionasse. Perguntaram-nos se precisávamos de alguma coisa ... dissemos que não. Pouco depois, a somar à luz da bateria ... a luz do óleo começou também a piscar! Nova paragem e ... céus, o motor estava a perder óleo! Juntas da cabeça desapertadas ou queimadas, foram as hipóteses menos graves que o "mecânico" de bordo considerou. Não poderíamos sair de Smara sem arranjar o que se passava ... isto se chegássemos a Smara. Mas entretanto deixámos para trás a Toyota, parados que estavam os seus ocupantes a enviar as suas preces a Alá ... em bonitos tapetes estendidos na areia. Mais tarde agradeceríamos nós a Alá o facto daqueles seus servos terem ficado para trás de nós...
Começa a formar-se uma tempestade de areia...
Eram já quase oito horas e sentimos o dia a declinar mais rapidamente que o normal. As nuvens ... não eram afinal nuvens, mas sim areia que rodopiava no ar, impulsionada pelo temível vento irifi.  Estávamos a entrar ... numa tempestade de areia! Tudo em redor se tornou de um tom acobreado. A paragem foi obrigatória. Com todos os vidros fechados e as portas trancadas, a areia finíssima via-se acumular dentro da carrinha! E quando já começava a passar-nos pela ideia a impossibilidade de prosseguir, o fenómeno terminou tão depressa como tinha começado. Viam-se nuvens de areia a avançar pelo deserto para sudoeste ... e de repente vimo-nos numa "clareira" a perder de vista ... com o céu azul e um Sol implacável!
O estado do motor era deplorável, coberto por uma mistura de areia e óleo queimado. Mas a nossa casa ambulante continuava a andar...! Quase nove horas. Faltavam 80 km para Smara e a noite caía rapidamente. Não podíamos acender os faróis, para não gastar bateria. Parámos mais uma vez para acrescentar óleo ... e nova tempestade de areia nos envolveu, agora no escuro da noite. Formas fantasmagóricas pareciam surgir do nada! Só quando chegavam a escassos metros podíamos distinguir nelas enormes colunas de areia que se deslocavam deserto fora. Só tínhamos uma solução: esperar de novo pela complacência da Natureza ... e pela Toyota que em boa hora havia ficado para trás!
Quando a tempestade voltou a amainar, verificámos com prazer que havia luar ... mas a temperatura era de 40º! Não se verificam ali as grandes amplitudes térmicas características de outras zonas do Sahara, mais a sudeste. Deveriam ser dez da noite quando uma luz branca apareceu por trás de nós, em movimento. Eram finalmente os nossos salvadores! E assim fizemos 80 km atrás deles, com os faróis apagados, a luz do dínamo sempre acesa ... e a do óleo quase sempre. E pouco depois das onze horas ... entrávamos em Smara, a cidade santa do Sahara ocidental.
O guardião da zaouïa de Ma el
Ainïn, Smara, 24.07.1985
Foi em Smara que vimos maior movimento de tropas. Estávamos a uma escassa centena de quilómetros da fronteira da Mauritânia e a 400 km de Tindouf, na Argélia. E em Smara sabíamos ir ficar num Hotel com um nome sonante: Hotel "Sables d'Or". Com este nome, o calor e a areia que tínhamos em cima, a primeira pergunta foi se podíamos ir tomar um duche. Resposta do gerente: "mais oui, certainement, pas de problème" ... e aparece-nos a seguir com um balde cheio de água e uma garrafa cortada ao meio ... para encher e despejar por cima do corpo...! Numa das casas de banho do hotel, interior ... seguramente dava para cozer ovos. A temperatura na rua, à meia noite, permanecia acima dos 35º...
Na manhã seguinte, a VW foi confiada às mãos de um mecânico que, supostamente, mandaria vir de Agadir as peças necessárias. Vamos passar 3 ou 4 dias em Smara, pensámos nós. E, durante a manhã, visitámos a zaouïa de Ma el Ainïn, o cheikh que, na primeira década do séc.XX, a partir dali pregou a guerra santa contra o invasor francês.
Regressados à oficina, o mecânico garantiu-nos que a carrinha estava pronta para andar, depois de uns apertos nas juntas do motor e uma regulação do dínamo. Pouco crédulos ... depois do almoço lá partimos em direcção ao norte. A temperatura era de 49º à sombra; ao Sol ... bem, ao Sol estava a 64º!
No regresso, tínhamos obrigatoriamente de voltar a passar em TanTan e Guelmim. Entre Smara e TanTan tínhamos 225 km de deserto ... e que deserto. De ambos os lados da "fita" alcatroada, uma imensa e inóspita planície estendia-se a perder de vista. E, para a frente, parecia-nos ver, lá muito ao fundo ... um lençol de água e até palmeiras! Avançámos 20, 50, 100 km ... mas a paisagem inóspita continuava sempre igual. Estávamos ... com miragens! Camadas de ar a diferentes temperaturas são as responsáveis por este fenómeno, até porque, à medida que avançávamos para norte e para o litoral, a temperatura descia rapidamente: quase 40º em pouco mais de 100 km!
Estrada Smara - TanTan, 24.07.1985: ao fundo,
lá muito ao fundo ... estávamos a ver miragens!
Mas ainda a uns bons 100 km de TanTan ... eis que surge de novo o alarme: há fumo dentro da carrinha! Uma rápida inspecção ... e  encontramos  o  motor  banhado  em  óleo!  Paragem,  deixar arrefecer,  limpar,
Mala suerte ... de novo empanados!
E 130 km rebocados, entre TanTan e Guelmim
acrescentar óleo comprado em Smara para o que desse e viesse ... e era preciso chegar a TanTan ... tanto mais que desta vez não tínhamos visto um único veículo! As previsões mais modestas apontavam já para quebra de segmentos ou de pistons ... mas a nossa "velha companheira" nunca parou. E foi portanto apenas por segurança que fomos rebocados de TanTan a Guelmim ... onde iríamos passar os 3 dias seguintes!
E assim voltámos ao Hotel Salam, o primeiro onde tínhamos ficado na "corrida" para o sul. O simpático recepcionista ficou satisfeito de nos voltar a ver ... pregando dois repenicados beijos aos dois elementos masculinos da nossa tripulação...J!
O motor foi assim desmontado pela segunda vez. A superfície de um piston tinha literalmente derretido, os segmentos correspondentes estavam partidos, alguns pedaços soltos tinham entrado no cárter ... e o automático do dínamo estava queimado! Nada mau...J! Mas estávamos cheios de sorte...: um mecânico amigo do "nosso" mecânico ... tinha uma VW idêntica à nossa ... da qual foram retiradas as peças necessárias! No sangue português corre de certeza sangue árabe ... e os genes do desenrascanço...J!
Marrocos é verdadeiramente um país de contrastes
Paisagens típicas do Alto Atlas, 30.07.1985
Durante os 3 dias de espera, visitámos as termas de Abeïno, a típica povoação de Asrir e as nascentes de Teghmert, maravilhoso oásis com campos de milho, palmeirais e olivais. E no dia 29 de Julho, com a carrinha finalmente arranjada, partimos em direcção ao Alto Atlas. Com a carrinha arranjada ... julgávamos nós...L!
Por Tiznit e Taroudannt chegámos às montanhas. O Atlas é um outro Marrocos, é o reino da frescura, da água e das grandes extensões arborizadas, salpicadas aqui e ali por pequenos e típicos povoados de cor vermelho-ocre. De repente ... parecia que tínhamos sido transportados para os altos planaltos do Tibete! No Tizi-n-Test, quase a 2100 metros de altitude, não estávamos longe do Jbel Toubkal, ponto culminante de Marrocos e de toda a África do norte, com os seus 4167 metros.
Encantadores de serpentes na Praça Jemaa el Fna,
Marrakesh, 2 de Agosto de 1985
E do Alto Atlas descemos para a mais marroquina das cidades de Marrocos: Marrakesh. Só que, nessa "etapa" ... começámos a ouvir de novo ruídos estranhos no motor! Instalados já no Camping de Marrakesh ... às 6 da tarde decidimos que só na própria VW saberiam ver o que se passava. A oficina VW mais próxima ... era em Casablanca ... a 250km! E lá fomos nós para Casablanca, onde chegámos já noite ... e onde passámos 2 dias! Depois, então sim, tínhamos finalmente a nossa "casa" arranjada! Marrakesh, a "pérola do sul", ficara para trás...L! Não podia ser! Remando contra a maré da má sorte ... no segundo dia de Agosto estávamos de novo em Marrakesh!  E  em boa hora o fizemos.  A  visita  à
Cascatas de Ouzoud, Médio Atlas, 3.08.1985
"praça mágica", a mítica e mística Praça Jemaa el Fna ... vale a viagem!
E de Marrakesh a Lisboa foi uma "corrida" contra o tempo. Mas, para além das cidades de Fez e Meknes (e da presença romana em Volubilis), os últimos dois dias em África permitiram ainda atravessar mais duas regiões de espectacular beleza: as montanhas do Médio Atlas e, já na costa mediterrânica, a região do Rif. Na primeira, dois espectaculares monumentos naturais deixaram-nos maravilhados: o arco rochoso natural de Imi-n-Ifri (a "porta do abismo") e as espectaculares Cascatas de Ouzoud. Vindos da imensidão desértica do Sahara ... nas cascatas de Ouzoud pareceu-nos estar no seio de uma densíssima floresta equatorial...
Chegada a Lisboa, 6 de Agosto de 1985

Esta viagem tinha-nos realmente permitido obter imagens impressionantes, de um mundo pleno de
Apresentação do livro
"Expedição Gil Eanes", 19.05.1986
contrastes!
E tinha-nos deixado vivências e recordações inesquecíveis
... dignas de registar em
livro.

A 19 de Maio
do ano seguinte,  1986,  na presença do Embaixador de Marrocos  em
Lisboa, apresentei o livro "Expedição Gil Eanes", de minha edição. E tive o grato prazer de ter, entre os meus convidados ... o meu velho professor, Dr. Hernâni de Seabra Ribau! Quis o destino ... que tivesse sido a última vez que o vi.
11 de Fevereiro de 2011

segunda-feira, 22 de julho de 1985

Expedição Gil Eanes - de Lisboa ao Cabo Bojador

No ainda mais longínquo ano de 1966, havia feito uma primeira incursão a Marrocos com meus pais e irmão, até Goulimine, ao sul de Agadir. E, em 1984, a carrinha VW então acabada de comprar tinha-me já levado a Ceuta ... talvez como "ensaio" para o projecto que começara a desenhar: uma viagem até às areias do Sahara ... porque não mesmo até ao antigo Sahara espanhol, território disputado entre Marrocos e a Frente Polisário ... e onde se situa o Cabo Bojador?
Próximo de Alcácer Seguer, costa
norte de Marrocos, 14.07.1985
Vários condicionalismos pesavam contudo sobre este projecto: não seria certamente uma viagem recomendável para crianças de 3 e 7 anos (idade dos meus dois filhos, na altura) ... nem para fazer sozinhos; um casal amigo, eles como nós professores do ensino secundário, aceitou de bom grado a proposta.
Os problemas derivados de uma situação de guerrilha constituíam um condicionalismo ... mas também por outro lado um aliciante! A famosa "Marcha Verde" de Hassan II sobre o Sahara Ocidental ... tinha sido há apenas 10  anos ...  e  a  disputa  sobre  o  controlo  do
Mercado de Arzila, 14.07.1985
território perdura até hoje.

Assim, a 12 de Julho de 1985 estávamos a partir para uma "aventura africana" ... que nalguns aspectos viria a  ser  mesmo  uma  aventura...J!  Quase no Trópico de Câncer ... tivemos frio, no Cabo Bojador; suportámos temperaturas de 60º em Smara, a uma escassa centena de quilómetros da fronteira da Mauritânia; passámos por tempestades de areia e vimos miragens no deserto. Quase fomos obrigados a passar a noite nele ... com a nossa pobre VW avariada! Velhinha de 16 anos, as condições extremas foram fortes demais para ela, cujo pobre motor foi aberto nada menos de três vezes! Mas nunca parou, mesmo sem dínamo ... e a espirrar óleo por tudo quanto era sítio! 26 anos depois, restam-nos as recordações ... e quase meio milhar de slides para rever...!

As primeiras imagens deste "outro mundo" tivemo-las logo em Tanger, Arzila ... e em Alcácer Quibir. Depois, as grandes cidades de Rabat e Casablanca. E, sempre para sul, a histórica presença portuguesa sentia-se em Azamor,  Mazagão,  Safi,  Mogador.  Mas a verdadeira sensação de  uma  Natureza  diferente,
Não ... não estávamos no Paris - Dakar...J!
começámo-la  a  sentir depois de  Agadir.  Era  o
"cheiro"  do   deserto  ...   principalmente  quando
uma placa de  grandes proporções nos informava
que estávamos ... a 2580 km de Dakar!
A sul de Agadir ... estávamos mesmo a entrar em regiões desérticas

Entrada em Sidi Ifni, 20.07.1985
E o primeiro "cheiro" sentimo-lo a caminho de Sidi
Ifni, antigo enclave espanhol na costa atlântica de
Marrocos. Pouco depois estávamos em Guelmim...
muito  longe  de  sonhar  que,  no  regresso ...
passaríamos lá 3 dias!
No dia 21 de Julho passávamos as zonas costeiras
de TanTan e Tarfaya ... e entrávamos no Sahara
ocidental!
Entrada em TanTan, 21.07.1985
21.07.1985 - Estávamos mesmo no grande Sul !
"Senhor, redarguiu Gil Eanes, dizem que para aqueles
lados a terra é mais baixa que o mar...."
".... e que as correntes arrastam os navios para onde
a morte é certa..." - Tarfaya, 21.7.1985

Próximo de Laayoune,
Sahara ocidental, 21.07.1985
No Sul, a partir de Guelmim, não existindo na altura parques de campismo ... não dormíamos na carrinha. Começava a haver controlo militar à entrada das povoações, mas mais nenhum sinal de conflito. Em Laayoune (a El Aaiún do tempo dos espanhóis, capital do Sahara ocidental), ficámos na Residencial "Casa de España". Edifício antigo, numa parede encontrava-se ainda pendurado um retrato ... do rei Juan Carlos! Pouco depois de nos instalarmos, declarou-se num dos quartos ... uma guerra à barata, atrás de meia dúzia daqueles bichinhos, que faziam questão de passear por todos os recantos. Tudo faz parte da Natureza...J!
E às quatro e meia da tarde de uma 2ª feira, 22 de Julho de 1985 ... chegávamos ao Cabo Bojador. Tínhamos ligado por terra o que Gil Eanes ligara por mar, há mais de meio milénio.
Objectivo atingido: Boujdour, Cabo Bojador, 22.07.1985
Foi esta a costa que Gil Eanes vislumbrou ... a sul do Bojador
Boujdour é a cidadezinha que nasceu em redor do Cabo Bojador. Naquela franja de terra que entra pelo oceano, o vento zunia-nos aos ouvidos e a temperatura não passava de uns pouco calorosos 16ºC. A neblina persistia, mas descortinava-se a costa a sul do Bojador. Tal como Gil Eanes ... a nossa promessa estava cumprida: "... aqui vos trago, Senhor, estas rosas de Santa Maria, colhidas ao sul do Bojador...".
Mas, nestas paragens que já foram consideradas o " limite da terra habitável " ... a nossa velha VW começou a dar sinais de "doença": ruídos estranhos que, de início, julgávamos tratar-se do escape roto, e, para cúmulo, luz de bateria a acender de vez em quando!
Com estes credos na boca ... em Boujdour fomos hóspedes do então Caïd local ... até porque não existia qualquer unidade hoteleira. E que fabuloso jantar árabe tivemos em sua casa, confeccionado pela sua também simpática esposa ... de nome Fátima!
Poucos anos depois desta "expedição", a estrada alcatroada chegava já a Dakhla - a antiga Villa Cisneros - e à fronteira sul com a Mauritânia ... permitindo sonhar com a ligação Lisboa - Dakar - Bissau sempre pelo litoral. Mas nós ... íamos afastar-nos do litoral; antes da uma da tarde do dia seguinte, 12º dia de viagem, estávamos a iniciar o regresso, partindo de Boujdour rumo ao norte ... e à aventura...J!
10 de Fevereiro de 2011

domingo, 7 de julho de 1985

Quando pela 1ª vez levo os alunos aos Pirenéus...

A nossa "descoberta" dos Pirenéus e de Ordesa, 2 anos antes, tinha deixado água na boca para vir a descobrir mais ... e a mostrar mais! A 29 de Junho de 1985 estava assim a partir para uma jornada pirenaica ... com os meus alunos e os da minha "colega" de trabalho...J. Finalistas em Sacavém, eles mereciam a "aventura" que todos íamos viver. Acompanhados por mais uma professora de Biologia e um de
Junto ao Parador Nacional Monte Perdido, 30.06.1985
História, estava formada a "equipa" para 9 fabulosos dias, em que a meta eram as duas principais áreas protegidas da vertente espanhola dos Pirenéus: o Parque Nacional de Ordesa e o Parque Nacional de Aigües Tortes, este último já na Catalunha. Na digressão ... ainda havia tempo para uma curta entrada em França ... e para uma visita a Andorra!
Em 1983 tínhamos explorado o vale de Ordesa, pelo que nesta digressão escolar optei pelo lado oposto do mítico Monte Perdido, o vale de Pineta. No último dia de Junho, acampámos assim junto ao rio Cinca ... aos pés do Parador Nacional Monte Perdido. O campismo era autorizado, mas não havia parque propriamente dito ... pelo que a maior parte da higiene matinal era no rio...J.
Higiene ... no rio Cinca, 1.07.1985
E acampados junto ao Cinca ...
... tínhamos esta vista!










O dia seguinte foi dedicado a viver o imponente vale de Pineta. Subimos o curso do Cinca até à base dos glaciares que pendem do Monte Perdido ... e com pena de a neve e o gelo não aconselharem a subir até ao Lago de Marboré. Mas, mesmo da meia encosta ... a panorâmica era já de cortar a respiração.
1.07.85 -  Cascatas por entre a ramagem
E vamos subindo...
A imponência do Vale de Pineta, visto
da encosta de Marboré




















E se a caminhada feita em 83 me tinha feito apaixonar por estas montanhas ... esta primeira vinda com alunos aumentou essa paixão! Que imponência! Que sensação de pequenez, face à grandiosidade da Natureza! E logo ali nasceu um sonho que, apesar das várias vezes que ali já voltei ... até hoje ainda não foi realizado: o de unir, a pé, o vale de Ordesa ao vale de Pineta, atravessando o maciço do Monte Perdido. Talvez ... um dia...

Mas no dia 2, pelo túnel de Bielsa, aberto apenas 9 anos antes ... entrámos em terras gaulesas. Mas não por muito tempo: por Arreau e Bagnères-de-Luchon, regressámos a Espanha, ao vale de Aran, na Catalunha. A neve, nos Cols de Peyresourde e do Portillon, fez as delícias dos que quase a não conheciam.
2.07.1985 - Entrada em França
Col de Peyresourde
E ... haja neve!
O vale de Aran é um vale encravado nas montanhas do ocidente catalão, com identidade cultural, histórica, geográfica e linguística próprias. Passada a capital, Vielha, o objectivo era agora a vila de Espot, ponto de partida para o Parque Nacional de Aigües Tortes e do Lago de S. Maurício. Ali acampámos nas duas noites seguintes - em parque de campismo... - para nos "aventurarmos", ao quinto dia de jornada, naquela que era, também para mim, uma área completamente nova.
3.07.1985 - Entrada no Parque Nacional de Aigües Tortes
A partir de Espot, distribuídos por vários jeeps, subimos até ao Lago de S. Maurício - ou Estany de Sant Maurici, em catalão. O espectáculo natural era deslumbrante, com as montanhas e os frondosos bosques de pinheiro negro, pinheiro silvestre, abeto e faia a reflectirem-se nas águas cristalinas. Mas  Sant Maurici  é  apenas  um  dos
Na pista de Amitges, 3.07.1985
mais de 200 lagos, cujas águas percorrem os sinuosos caminhos do Parque, as "aigüestortes". Para lá do Sant Maurici, continuámos a subir em direcção aos Lagos de Ratera e de Amitges. Estávamos já acima dos 2000 metros de altitude ... e a neve já abundava. Os jeeps deixaram-nos junto ao refúgio de montanha de Amitges ... para fazermos todo o percurso de retorno a pé, até Espot, cerca de 15 km.
O Lago de S. Maurício, ou Estany de Sant Maurici, 3.07.1985
A caminho dos Lagos de Ratera
Lagos de Ratera, Aigüestortes, 3.07.1985
A caminhada dava fome...
Caminhada na neve!
Lagos de Ratera, Aigüestortes, 3.07.1985
Lagos de Ratera, 3.07.1985
Caminho de regresso...
Els Encantats, sobre o Lago de S. Maurício, 3.07.1985
  
As cerca de três horas do regresso a Espot foram uma alegre confraternização entre todos, maravilhados com as belezas naturais que tínhamos acabado de conhecer e de viver. À chegada à vila, um bom chocolate quente ficou também nalgumas memórias ... e para a história desta "aventura" pirenaica...J.
E a "aventura" terminaria em terras andorrenhas. Paraíso das compras baratas - para além de também integrado no seio de uma Natureza belíssima - o Camping "Valira", em Andorra, recebeu-nos para as duas noites seguintes. Para a história ficou igualmente uma "chegada triunfal" de um dos grupos de alunos ao Camping ... entoando uma canção acabada de compor: "no tengo dinero ... no tengo dinero ..."...J!
Camping "Valira", Andorra, 5.07.1985
Camping "Osuna", Madrid ... na última noite, 6.07.1985
O 8º e 9º dias de viagem ... foram o regresso a casa. À semelhança da primeira, a última noite foi em Madrid ... onde pouca gente quis dormir...J!

O percurso do Parque Nacional de Aigües Tortes no Wikiloc / Google Earth:



9 de Fevereiro de 2011

segunda-feira, 13 de maio de 1985

Regresso ao Gerês e à Tapada de Mafra ... com novos alunos

Ano lectivo de 1984 / 1985: o grupo de alunos que eu começara a acompanhar 5 anos antes, estava agora no 11º ano. E, claro, outras turmas e outros alunos tinham começado também a aprender comigo as Ciências da Natureza. Para uns e outros ... no meu pensamento estava sempre o desbravar de horizontes, o viver o campo e a Natureza. É assim que, a 21 de Março de 1985, parto para novos 4 dias no Gerês, com turmas do 8º ano, minhas ... e da minha "colega", que entretanto já se encontrava igualmente efectiva na Escola Secundária de Sacavém.
Acampamento em Chaves,
a caminho do Gerês, 21.03.1985
Desta vez acampámos em Chaves, para depois fazermos uma curta visita a Montalegre ... e nos demorarmos em Tourém e Pitões das Júnias. O "alcatrão derretido" nas ruas de Tourém fez de novo sensação, mas desta vez tínhamos até uma aluna cuja avó era de Tourém. Com a hospitalidade típica das  gentes  simples  e  sãs,  quis
Ruas de Tourém, 22.03.1985
oferecer-nos da sua melhor broa de centeio ... olhada com alguma apreensão por aquela "maltinha", apenas acostumada aos usos e costumes urbanos, ou da periferia da grande cidade ... principalmente quando a avó referiu que a broa tinha um mês na arca...! Não fora a neta comer um pedaço ... e ninguém provavelmente lhe teria tocado. Depois ... provaram e gostaram; mais uma forma de aprender...J!
Nas águas do rio Homem,
23.03.1985
Como já vinha sendo tradicional, da zona de Pitões e Tourém passámos ao Gerês, acampando de novo no Vidoeiro. E não foi cansativa nem monótona a segunda das muitas vezes que já subi a geira romana com alunos, de Vilarinho da Furna à Portela do Homem, nem as sempre fascinantes panorâmicas da Pedra Bela ou a contemplação da cascata do Arado. Junto a esta, subimos pela primeira vez a encosta a nascente da mesma, ao longo das sucessivas piscinas naturais. Nessa altura, estava longe de saber que, anos mais tarde, iria conhecer o autêntico Shangri-La do vale da Teixeira!

Entretanto, poucos dias antes, a 3 de Março do mesmo ano de 1985, um grupo de amigos inicialmente ligados à Escola Gaspar Correia, na Portela de Sacavém, dava os primeiros passos do que viria a ser um Grupo de Caminheiros ... que 17 anos e meio mais tarde viria a ser a minha "família" Caminheira!

E ... com os alunos do 11º ano? A maioria já tinha ido à Arrábida, ao Gerês (muitos por duas vezes), a Doñana,  à  Serra da Nogueira ... mas não tinham ido  à  Tapada de Mafra.  Assim,  a 13 de Maio de 1985,
Na Tapada de Mafra,
13.05.1985
fizemos uma visita à Tapada, não menos apreciada do que as restantes "aventuras" em que já tinham participado.
Família de javalis na Tapada, 13.05.85
Na Tapada de Mafra, 13.05.1985






O 11º ano era, na altura, o último ano existente na Escola. Para culminar a sequência de áreas naturais que aqueles alunos conheceram ... tínhamos de pensar numa actividade "em grande"...J! Excursões de finalistas para Benidorm ou Marbella ... felizmente não lhes agradavam nem a eles nem a mim.
Pelo que ... os planos foram outros...
8 de Fevereiro de 2011