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sexta-feira, 14 de dezembro de 1990

Jornada pelos Picos de Europa ... com regresso por Montesinho

8 a 14 de Setembro de 1990. Início de mais um ano lectivo. Para os "Amigos da Natureza", antes de começarem as aulas propriamente ditas ... estava  reservada  uma  "aventura"  nos  Picos de Europa,  com
8.09.1990 - Vilar Formoso,
quando ainda havia fronteiras
regresso pelo Parque Natural de Montesinho! Para a maioria dos alunos, era a última actividade vivida na Escola; antes das 6 da manhã já havia gente à porta, para uma jornada de 700 km sem história até ao Camping de Cubillas, para lá de Valladolid. A primeira aventura foi montar as tendas; é que o chão ... parecia de cimento! Mas no dia seguinte a paisagem mudava radicalmente: o árido planalto castelhano dava lugar à magnífica paisagem verdejante das montanhas. Estávamos na Cordilheira Cantábrica!
Ainda nesse segundo dia, Santander e Santillana del Mar foram visitas obrigatórias. Estava a levar os alunos à Espanha verde, que havíamos conhecido oito anos antes. Ao longo do desfiladeiro de La Hermida e do Rio Deva, fomos percorrendo aquele maravilhoso cenário natural, terminando em Potes e no Camping "La Isla - Picos de Europa", onde igualmente havíamos ficado em 1982. Este Camping seria aliás base para várias "expedições" aos Picos de Europa, nos anos seguintes. À beira do Deva, o parque fica num verdejante vale rodeado de montanhas, atrás das quais o Sol se preparava já para desaparecer, naquele fim de tarde. O solo relvado contrastava com o de Cubillas. O café e esplanada, junto ao rio, construídos em madeira, prendiam-nos àquele recanto saído como que de um conto de fadas.
E a primeira "aventura" foi a subida de teleférico ao Balcón del Cable, em Fuente De, 22 km a oeste de Potes e no coração do maciço oriental dos Picos de Europa. Rodeados pelos altos Picos Tesorero, Peña Vieja e Torre Cerredo, estávamos também bem perto do mítico Naranjo de Bulnes. E o almoço foi no Refúgio de Aliva, na parte inicial de um percurso de 16 km a pé, que nos havia de levar de regresso ao vale e à aldeia de Espinama, onde nos aguardava o Sr. Agostinho e o seu autocarro. Este motorista, não muito mais velho que os alunos mais velhos ... havia de ficar para a história das nossas "aventuras".
Maciço central dos Picos de Europa, 10.09.1990
Percurso a pé Balcón del Cable - Espinama, 10.09.1990
Mais um dia ... e saímos de Potes, contornando os maciços oriental e central dos Picos. Deixávamos a Cantábria  para  entrar  nas Astúrias. Seguiu-se Covadonga e os seus Lagos Enol e Ercina ... não sem alguns arrepios ao longo dos 12km da estrada estreita e íngreme que leva do Santuário àqueles lagos de altitude.
Covadonga, Gruta Santa, 11.09.1990
Lago Enol, Covadonga, 11.09.1990
Uma visita a Cangas de Onís e à sua medieva ponte e, ao fim da tarde, estávamos no Camping de Ribadesella. Preparados para montar tendas por uma noite ... soubemos que podíamos ficar em bungalows pelo mesmo preço! Foi uma festa! Tão grande que o grupo comprou todos os frangos do supermercado do parque, para um churrasco nocturno de convívio e camaradagem. No dia seguinte ... soubemos que um "utente" de um beliche superior tinha vindo parar ao chão...J!
Em Ribadesella, situam-se as grutas de Tito Bustillo. À falta das de Altamira, que em 1990 já não se podiam visitar, Tito Bustillo ilustrou a arte paleolítica que os alunos haviam aprendido nas aulas de História.
Ribadesella marcava o ponto de inflexão para sul: por Oviedo e León, o destino seguinte ... era já em Portugal: o Parque Natural de Montesinho, em terras transmontanas.  E íamos ficar  em  plena  serra, na
Casa-abrigo da Lama Grande, perfeitamente  integrada na rocha e na espectacular paisagem que nos rodeava.
A Lama Grande foi a nossa "base" para exploração da zona de Bragança, incluindo a própria cidade. É claro que não podia faltar a visita a Rio de Onor; o guia do Parque Natural que nos acompanhou falou-nos das vezeiras para a guarda do gado, à vez, pelos diferentes habitantes; falou-nos mais uma vez do boi do povo, do forno e de outros hábitos comunitários destas aldeias perdidas no tempo. Falou-nos também do Rio-de-Onorês, o dialecto local, com alguma mistura de português e leonês.
O almoço desse dia foi em Gimonde ... e ficou histórico. A tradicional e deliciosa posta mirandesa foi o prato escolhido ... e foi a primeira vez, em tantas e tantas "aventuras" com gente jovem e normalmente "esfomeada" ... que vi carne ir para dentro em relativa quantidade ... porque aquela gente já não conseguia comer mais posta..J!
Mas o nosso guia falou-nos também da riqueza florestal e faunística de Montesinho, das manchas de carvalhos, das maiores da Europa e dos trabalhos para a preservação do lobo, do corço e de outras espécies. Tal como em 84, visitámos também o picadeiro e viveiro de trutas, na aldeia de França.
A última noite, como tradicionalmente acontece, foi "liberalizada": uma fogueira, música, conversas, convívio ... nalguns casos até às 6 da manhã. Porque a seguir era o regresso a casa, sem história.
E esta história teve ainda uma estória original: à chegada a Sacavém ... porque não irmos todos jantar ao "famoso" bacalhau assado, na Bobadela? É que o restaurante ... era e ainda é da família de um dos alunos que participaram nesta actividade!

Esta actividade nos Picos de Europa e Montesinho inspirou também a "construção" de um genérico do Clube "Amigos da Natureza", para os respectivos vídeos. E que gozo deu essa montagem! Naqueles tempos ... funcionava a imaginação e o improviso; o efeito de focagem do emblema do Clube sobre a paisagem ... foi conseguido com uma folha de acetato que se deslocava em peças de LEGO, puxadas com cordéis, frente à projecção de um slide com a paisagem...! Mais tarde, já na era do digital, viríamos a montar um segundo genérico do Clube.

E ainda em 1990, no dia 14 de Dezembro, nova "geração" de alunos se estreava nas "andanças" e "aventuras" do Clube "Amigos da Natureza". O cenário ... foi mais uma vez a Tapada de Mafra.

A caminhada Balcón del Cable / Espinama no Wikiloc / Google Earth:


2 de Março de 2011

sábado, 11 de agosto de 1990

De Gavarnie às brumas de Avalon...

Ao contrário do ano anterior, o verão de 1990 foi relativamente estável, permitindo sonhar com a reconstituição da "aventura gaulesa" interrompida 7 anos antes, com  o  assalto  em  Paris.  Assim,  a  19  de
Monasterio de Piedra, 19.07.1990
Cascata no Monasterio
de Piedra, 20.07.1990
Julho de 1990, estávamos de partida para França ... com os Pirenéus de permeio. Passada a fase do atrelado-tenda e da carrinha VW ... regressámos ao campismo em tenda...J!
A caminho dos Pirenéus, havia um monumento natural para conhecer: o Monasterio de Piedra, um "oásis" fabuloso no meio da meseta castelhana, entre Madrid e Zaragoza. O rio Piedra modelou a rocha, formando lagos, grutas e cascatas, por entre os densos, frondosos e frescos bosques.
Por Huesca e Ainsa, ao longo do já nosso bem conhecido vale do Cinca ... fomos matar saudades do Monte Perdido, embora só de passagem para França. E, nos Pirenéus franceses, o destino era Gavarnie, a mais famosa estância pirenaica da primeira metade do século XX.
Estar em Gavarnie é uma sensação indescritível. Apesar do peso do muito turismo, sente-se ali a ruralidade e a imponência da montanha. Na aldeia, estamos a pouco mais de 1300 metros de altitude, mas da aldeia vê-se a famosíssima cascata, a mais alta da Europa, com os seus 423 metros, despenhando-se das alturas do Circo de Gavarnie. Lá em cima, por trás do Circo, está o Monte Perdido ... e o Lago de Marboré, onde dois anos antes havia subido com os alunos, a partir do vale de Pineta!
À "sombra" do Monte Perdido, lado espanhol, 21.07.1990
E do lado francês, em Gavarnie, 22.07.1990
E ... aí vamos a pé à famosa Cascata de Gavarnie, 22.07.1990
Cascata de Gavarnie, 22.07.1990
Próximo do Puerto de Bujaruelo, sob a Brecha de Rolando, 22.07.90

Em Gavarnie, é obrigatório fazer a caminhada até ao Circo e à Cascata; são pouco mais de 10km, ida e volta. E é outro local "mágico", onde nos sentimos pequenos, onde nos sentimos parte da Natureza, da montanha que nos rodeia. Mas também é "obrigatório" ir até ao Col de Bucharo (em francês), ou Puerto de Bujaruelo (em espanhol), precisamente na linha de fronteira entre os dois países. As panorâmicas são espectaculares para ambas as vertentes; e não estamos longe da mítica Brecha de Rolando.
19 anos depois voltaria a Gavarnie, com o meu grupo de Caminheiros. E, precisamente pelo Puerto de Bujaruelo, atravessaríamos os Pirenéus a pé, no sentido França - Espanha.

A 23 de Julho estávamos a deixar para trás os Pirenéus ... viajando para norte. Uns dias em Tours, nas sempre belas margens do Loire, depois Paris. Desta vez não fomos assaltados ... e para quem "foge" das cidades e tanto ama o campo, a montanha, a água, o verde ... Paris é talvez a cidade simultaneamente mais acolhedora e imponente que conheço. Incluindo o Parque Asterix ... que fez as alegrias dos 4 viajantes...J!
Mas o destino principal deste périplo ... eram terras de brumas e mistérios: as terras da Normandia e da Bretanha. Em Arromanches, Omaha Beach, Utah Beach, Cherbourg ... sentimo-nos viver a epopeia do desembarque aliado, iniciando a libertação da Europa do jugo nazi. E pouco depois do célebre Monte de St. Michel ... entrámos em terra bretã.
Praias da Normandia, 1.08.1990 - A memória do Dia D
Pôr do Sol próximo de Vauville, 1.08.1990
Monte de St. Michel, 2.08.1990
Costa norte da Bretanha, 2.08.1990
A Bretanha é de certo modo um lugar mágico. Nas praias e nas falésias agrestes da costa ... quase recuamos 1500 anos no tempo, vendo desembarcar hordas de bretões, acossados pelos anglo-saxões na ilha da Grande Bretanha. Por entre as "brumas de Avalon" ... quase vemos chegar o Rei Artur e as suas tropas. Ou, recuando ainda mais no tempo ... assistimos aos grandes construtores dos megalitos "mágicos" que povoam estas terras de bruma.

A costa selvagem do oeste da Bretanha, 5.08.1990
Notre-Dame-des-Naufragés,
P.te du Raz, 5.08.1990
Marie-Jeanne-Gabrielle
Entre la mer et le ciel
Battu par tous les vents
Au raz de l'océan
Ton pays
S'est endormi
Sur de belles légendes
Illuminant son histoire
Gravées dans la mémoire
Des femmes qui attendent
Les marins
D'île de Sein
P.te du Raz, frente à ilha de Sein ... a ilha de todas as lendas
("Marie-Jeanne-Gabrielle", do álbum "Marines", Tri Yann)

À volta da baía de Douarnenez e, principalmente, na Pointe du Raz, o vento, o mar e a bruma envolviam-nos nas lendas e na música bretãs. A ilha de Sein não se via, a lendária ilha de Is muito menos ... mas víamos, talvez, aquela Marie-la-Bretonne, ou a Marie-Jeanne-Gabrielle esperando os marinheiros da ilha de Sein...
Seguiu-se Carnac e o seu núcleo megalítico. Segundo o nosso júnior ... Obélix faria melhor...J! Depois ... foi descer toda a costa ocidental francesa, até às Landes ... e à Ibéria.
Carnac, 6.08.1990 - Obélix faria melhor...J!
Campismo na floresta das Landes, 8.08.1990
Baía de San Sebastian, País Basco, 10.08.1990


E no dia 11 de Agosto ... chegávamos a Santa Cruz, para, como habitualmente ... passar o resto das férias.
25 de Fevereiro de 2011

segunda-feira, 18 de junho de 1990

1990: Regresso a Doñana, S. Jacinto ... e Berlengas

1990! Tínhamos entrado na última década do século! Com o Clube "Amigos da Natureza", os próprios alunos escolhiam agora os destinos onde todos íamos, em conjunto, viver e partilhar a Natureza, as áreas protegidas da nossa Península Ibérica. O programa de actividades era delineado por todos, de acordo com as idades e as experiências anteriormente vividas. A equipa de professores tornava-se  também  mais unida,
Praia de Matalascañas, 20 de Fevereiro de 1990
constituindo um núcleo dinamizador. E da colaboração com o Clube de Áudiovisuais resultou não só a consolidação de amizades, mas também o início das "brincadeiras" em vídeo: as nossas "aventuras" passaram a ser filmadas!
A 20 de Fevereiro de 1990, estava assim a partir pela 4ª vez, com alunos, rumo ao Parque Nacional de Doñana: 4 dias de são convívio, observação e aprendizagem, com alunos ... desde o 7º ao 12º ano! Um dos alunos deste grupo era aliás ... o filho mais velho do autor destas linhas, no seu primeiro ano na Escola Secundária de Sacavém (7º Ano de escolaridade).
Acampámos no já velho conhecido Camping Rocío Playa, permitindo o tradicional fogo de campo e convívio nocturno, na praia. O Clube tinha pedido a eventual colaboração da Câmara de Loures, para esta e outras actividades ... colaboração que veio sob a forma de salsichas, assadas na fogueira da primeira noite na praia...J!
El Acebuche, Doñana, 21.02.1990 - à porta do Centro
Esta visita a Doñana ficaria também assinalada por uma alegre e divertida "canção", composta pelos alunos e dedicada aos professores, que se tornaria "célebre" durante todas as actividades seguintes dos "Amigos da Natureza". O refrão rezava assim:

Olhem só a cambada
com que a gente se meteu!
É Roques p'ra cá,
Callixtos p'ra lá,
e Boavida, é o que isto dá,
e mais um Canhão...
p'ra aumentar a confusão

E a música propriamente dita:

Aí vem o Roque,
o Roque da pequenada;
parece chanfrado
mas no fundo não é nada...
É o Roque, Roque da pequenada!
Roque, Roque, Roque...
Roque da pequenada!

Agora o Callixtinho,
tão pequenininho,
tem uma passada
que não lhe chega a nada.
É o Callixto...
o nosso Callixtinho!


No fim, seguia-se o refrão ... e ainda a estrofe à direita:
Aí vem o Canhão,
com o seu bonezinho.
Toca bem violão,
é um coroa enxutinho.
Canhão ... bum!
É o nosso Canhãozinho!

Há um bem baixinho
e mais caladinho.
É bom na bebida:
é o prof Boavida!
Ai sim, sim, sim, sim...
isto é que é vida!

Ai que Boavida
é esta a dos "Profes"
Começa nos Callixtos...
e acaba nos Roques



Esta deslocação a Doñana foi ainda objecto ... do primeiro "documentário" em vídeo das actividades de campo realizadas na Escola Secundária de Sacavém, pela mão do Clube de ÁudioVisuais. A "Canção dos Profes" ... pode portanto ser vista e ouvida.

Dois  meses depois,  a 22  e  23 de Abril  de 1990,  estávamos na Reserva  das  Dunas de S. Jacinto,  em
Dunas de S. Jacinto, 23.04.1990
Chapim na mão do guia de S. Jacinto
modalidade inédita: um carro particular e uma carrinha VW alugada! Éramos apenas 14 ... 10 rapazes, 2 raparigas e 2 professores. Receberam-nos as já conhecidas camaratas da casa-abrigo. E mais uma vez novos alunos conheceram aquela área protegida. Com as explicações do guia, ficaram a conhecer os chapins, os mergulhões, várias espécies de patos, visitaram a estação de recuperação de aves de rapina.

E, a 14 de Junho, voltava a estar de partida da Escola, com os "Amigos da Natureza" ... rumo às Berlengas. A base foi no Parque de Campismo de Peniche, onde passámos três noites. Como "prémio" de final do ano lectivo, esta actividade foi fundamentalmente de praia para aquela rapaziada ávida, mas fizemos o percurso pedestre de volta à Península de Peniche, do Baleal ao Cabo Carvoeiro e deste de regresso à vila, incluindo a visita ao Forte, de tenebrosas memórias. Junto ao Cabo, o Santuário dos Remédios lá estava ... recordando-me a estadia feita 17 anos antes ... acampado à porta da amada...J!
A caminho da Berlenga, 17 de Junho de 1990
Berlenga à vista!
A Berlenga também mereceu a volta à ilha, claro. As gaivotas com as suas crias já então eram donas e senhores. A maioria dos alunos não conhecia aquele pedaço de Portugal afastado da costa, tendo ficado maravilhados com tudo ... menos com os balanços do velho "Cabo Avelar Pessoa"!
Ao fim destes 4 dias, as vivências e a camaradagem entre todos ficaram, como sempre, nas memórias.

23 de Fevereiro de 2011