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segunda-feira, 24 de abril de 1995

Regresso aos Pirenéus ... nas terras de "L'últim ós de Pallars"...

Da visita ao Alvão e Montesinho, com as minhas turmas de Ciências, e a Mérida com as turmas de Humanísticas, tinha resultado um grupo que, logo na altura, começou a sonhar com outras "aventuras". Em estreita colaboração e amizade, eu e o colega que tinha organizado a ida a Mérida fomos assim pondo de pé, ao longo do ano lectivo de 1994/95, o projecto de uma actividade interdisciplinar nos Pirenéus. Seria a terceira vez a levar alunos meus, mas a primeira em que, à componente da montanha, da Natureza, das áreas protegidas, se aliava a componente da História e do património construído.

1ª Parte: de Lisboa aos Pirenéus, 17 a 19.04.1995
Assim, a 17 de Abril de 1995, estávamos a partir de Sacavém com alunos daquelas duas áreas, para uma actividade de oito dias nos Pirenéus. O meu filho mais velho fazia parte das turmas de Humanísticas ... e o mais novo, não tendo ainda chegado ao secundário, participou igualmente, como aluno da Escola. Professores ... éramos a equipa já habitual: um casal de "cientistas" e outro de Línguas e Literaturas, além do co-organizador, professor de História.
A primeira "etapa" terminou no Camping Osuna, em Madrid, cidade que deixaríamos para o regresso. No dia seguinte entrávamos em terras de Aragão, com uma breve visita a Zaragoza e Huesca. E a partir de Huesca ... entrávamos no paraíso...J. A componente histórica e arquitectónica deste périplo começou pelo Castelo de Loarre, considerado a fortaleza românica melhor conservada da Europa. Seguiram-se-lhe os Mosteiros de San Juan de la Peña, o Mosteiro Velho e o Mosteiro Novo, ligados à origem lendária do próprio reino de Aragão. Ao fim da tarde do dia 18, por Jaca e Biescas, estávamos a entrar em terras de Sobrarbe, um dos três condados que formaram aquele reino.  Os  bungalows  do Camping de Fiscal iam-nos

2ª Parte: Vale de Ordesa, 20.04.1995
receber para as duas noites seguintes.
O terceiro dia desta "aventura" ... era dedicado à "aventura"! Pela primeira vez, levava alunos a subirem o vale de Ordesa, onde havia estado 12 anos antes, no Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido. As duas anteriores excursões com alunos tinham sido para o vale de Pineta. E a subida do vale de Ordesa, a partir de Torla, revelou-se mais uma vez espectacular, ao longo do rio Arazas e das suas Gradas de Soaso, até à mítica cascata da Cola del Caballo, aos pés do Monte Perdido ... o "señor de los montes"! Ao longo desta suave ascensão, até perto dos 2000 metros de altitude ... começou a nevar copiosamente, neve que acompanhou todo o regresso, fazendo-nos sentir "perdidos debajo del Monte Perdido", no "país perdido" de Sobrarbe, cantado pela "Ronda de Boltaña" (grupo folk aragonês).

E a neve iria caracterizar os dias seguintes. O objectivo era passar do Parque Nacional de Ordesa para o de Aigües Tortes por França, pelo túnel de Bielsa, à semelhança de 1985, com uma visita de passagem ao vale de Pineta. Ao vale de Pineta fomos ... mas a França não!  O  Parador Nacional  Monte Perdido,  o  vale

3ª Parte: de Ordesa a Aigües Tortes, 21.04.1995
do Cinca, onde tínhamos acampado em 85 e em 88 ... tudo era agora uma imensidão branca. Muitos dos rapazes e raparigas que nos acompanhavam, nunca tinham visto neve; ao fim destes dias ... já nem leite podiam ver...J! É que, em Abril deste ano da graça de 1995 ... até em Madrid iríamos apanhar neve!
No acesso ao túnel de Bielsa, a estrada estava já completamente coberta de neve e gelo. Concluindo da impossibilidade de passar por França, fizemos meia volta antes do túnel e, mesmo assim, esperando que o limpa neves nos viesse "salvar" e a outros carros que ali se encontravam. É também aí que o colega de História vê, pela única vez na vida ... os pés passarem-lhe por cima da cabeça! Ao sair do autocarro e pôr os pés no chão gelado ... autenticamente "voou"...J!
O itinerário alternativo prosseguiu então por Castejón de Sos, entrando na Catalunha e no quase isolado vale de Arán, pequeno tesouro com identidade cultural, histórica, geográfica e linguística específicas. A capital da comarca é Viella, que atravessámos, para depois subir o curso do alto Garona, até ao Puerto de Bonaigua, a 2072 metros de altitude, junto à famosa estância de ski de Baqueira-Beret. A paisagem em redor ... era realmente uma paisagem surrealista: desta vez a estrada estava felizmente limpa, mas tudo à volta nos fazia parecer que estávamos em pleno inverno, numa paisagem alpina em que tudo era de uma brancura imaculada. A fita estreita e sinuosa do alcatrão era o único elemento que nos prendia à realidade. Agora a descer para o vale d'Àneu, o nosso motorista tentava serenar os receios, falando sobre os múltiplos sistemas de travagem do autocarro ... enquanto o "prof" de História apenas lhe dizia ... "use-os todos, use-os todos!"...J!

4ª Parte: Aigües Tortes i Estany de St Maurici, 22.04.1995
Mas ao fim da tarde estávamos sãos e salvos no Camping "La Presalla", em Esterri d'Àneu, onde passaríamos as duas noites seguintes. À beira do Noguera Pallaresa, Esterri d'Àneu é um dos concelhos da comarca de Pallars Sobirà, naquele que foi um dos últimos refúgios do urso pardo europeu nos Pirenéus ... o ós de Pallars. Próximo de Espot, Esterri d'Àneu foi a nossa base para a visita ao Parque Nacional de Aigües Tortes e Lago de S. Maurício, e o "programa" foi igual ao que tínhamos feito 10 anos antes, também com alunos: de jeeps desde Espot ao Lago de S. Maurício e depois a pé até ao Refúgio de Amitges (2380m alt.). Só que desta vez ... havia 10 vezes mais neve! Os lagos de Ratera e de Amitges estavam completamente gelados ... e nalguns locais a progressão tornava-se complicada, enterrando-nos na neve por vezes até quase à cintura! Estávamos verdadeiramente num outro mundo! Mais do que nunca, as agulhas de Amitges e de Els Encantats ... pareciam saídas de um mundo encantado e distante. Se há momentos mágicos na vida, esta caminhada a Amitges e o regresso a Espot foram um deles.

L'últim ós de Pallars, Camping La Presalla, 22.04.1995
E os momentos mágicos continuaram à noite: de regresso a Esterri d'Àneu e ao Camping, era mais indicado fazermos a habitual "última noite" ali do que no dia seguinte em Madrid. E ... o que se seguiu foram momentos mágicos de convívio, de amizade, de sã alegria de viver. Música, houve a de alguns brilhantes guitarristas no nosso grupo ... mas ao qual se juntaram o filho e filha do casal que geria o Camping, que connosco partilharam aquelas horas. Ele, filho das terras de Pallars e do Noguera Pallaresa, brindou-nos com uma espectacular interpretação de um seu poema, alusivo ao infeliz desaparecimento gradual do urso naquelas paragens ... "L'últim ós de Pallars". Mas para além da magia do momento, da música, do convívio ... o pessoal feminino estava também maravilhado com os alegados atributos estéticos daquele filho da catalã terra de Pallars...J!

E a "aventura Pirenaica" estava no fim. Faltava-nos o longo regresso a casa. Até às imediações de Lérida, o Noguera Pallaresa acompanhou-nos sempre, ao longo de uma paisagem igualmente de sonho. Sonho ...

5ª Parte: Regresso Pirenéus - Lisboa, 23 e 24.04.1995
no qual mais de metade do autocarro efectivamente estava, pondo os sonos em dia...J. E, como já foi dito mais atrás, naquele dia 23 de Abril de 1995 ... até no percurso entre Zaragoza e Madrid apanhámos neve! Tudo o que aparecesse branco ... já enjoava...! A perspectiva de um eventual nevão, ou de chuva, levou-nos aliás a trocar a prevista dormida em tendas, no Camping Osuna, pelos respectivos bungalows, felizmente livres.

Um passeio nocturno por Madrid marcou o fim de mais esta digressão. Ao chegarmos a casa, levávamos mais uma vez as histórias e as vivências de oito dias passados em conjunto, aprendendo e convivendo, todos com todos, seguindo o lema de aprender convivendo ... e conviver aprendendo!
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As caminhadas de Ordesa e de Aigües Tortes no Wikiloc / Google Earth:

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21 de Março de 2011