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terça-feira, 31 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (3): Terceira, Flores e Faial

25 de Outubro de 2000. Às 10 horas, o "Golfinho Azul" largou do porto de S. Roque do Pico, rumo à Terceira. A ligação Pico – Terceira fazia 2 curtas escalas de 1 hora cada, nas ilhas de S. Jorge e Graciosa. A ilha de S. Jorge merecia uma visita mais alongada, mas limitámo-nos à escala na vila de Velas.
Adeus Pico, 25.10.2000
Na Graciosa ainda deu para um pequeno passeio ... e para saborear as famosas e deliciosas queijadas...
Depois ... continuemos a acompanhar as descrições dos então alunos Cristiana e Cláudio, para o site do Clube "Amigos da Natureza":

"O “Golfinho Azul” era um navio grande, que até tinha uma sala de cinema!! Um autêntico Titanic em miniatura, que nos transportou por alto mar. Durante a viagem houve tempo para tudo... dormir, jogar às cartas, dançar, ler, escrever... Instalámo-nos junto ao bar e foi-nos permitido colocar a música que quiséssemos, porque não estava mais ninguém naquela área!
Cerca das 18h30 chegámos ao porto de Praia da Vitória, na Terceira, onde 3 carrinhas nos esperavam para nos transportar para a Pousada da Juventude, no lugar de Negrito, em S. Mateus, próximo de Angra do Heroísmo. A Pousada era um autêntico hotel de 5 estrelas: camaratas espaçosas, casas de banho luxuosas,

Do Pico à Terceira, no "Golfinho Azul", e visita à Terceira, 25 e 26.10.2000
sala de estar confortável e um terraço com uma vista deslumbrante sobre o mar! Estar no terraço ao pôr-do-sol, com toda aquela mistura de cores, o céu avermelhado, os reflexos no mar agitado... Lindo! Após a instalação nos respectivos quartos, seguiu-se o jantar, depois do qual fomos (quase) todos até um pequeno bar junto ao mar, onde dançámos (até os professores demonstraram os seus dotes rítmicos, mais ou menos ágeis!), rimos e divertimo-nos imenso! Mas estava na hora de recolher e, como o dia tinha sido agitado, adormecemos depressa...

26.10 Quinta-feira. O despertar decorreu por volta das 7h30. Tomámos o pequeno almoço na Pousada e partimos nas carrinhas para uma visita à ilha Terceira. Inicialmente, dirigimo-nos ao Algar do Carvão, que pudemos visitar e não poderia ter sido mais magnífico! Não só pela gruta em si e todas as suas estruturas mas, sendo um algar, tinha uma abertura no topo da gruta que nos permitia ver a luz do dia. Mas não só. Por essa abertura, como tinha estado a chover, caíam gotas de água de uma forma tão particular que parecia em “câmara lenta”; mas infelizmente o tempo não pára... era apenas a altura que dava essa ilusão de óptica! Sonhar não custa...!
Daí, partimos para Biscoitos, onde visitámos o museu do vinho (e provámos!) e as magníficas piscinas naturais! Água límpida mesmo aos nossos pés!! Em seguida, fizemos uma pequena paragem num miradouro sobre a vila de Praia da Vitória, onde depois almoçámos na Escola Secundária de Vitorino Nemésio.
Depois do almoço, continuámos a nossa viagem, mas entretanto parámos numa Igreja, onde o Cláudio demonstrou os seus dotes de organista!! Continuação da visita pelas piscinas naturais (cada uma mais bonita que a anterior!), pela cidade de Angra do Heroísmo, Património Arquitectónico Mundial, e Monte Brasil, de onde se tem uma vista magnífica sobre Angra.
Chegados à Pousada, não resistimos e fomos tomar uma banhoca na pequena baía rochosa mesmo em frente. Até o professor Callixto nos acompanhou neste baptismo em águas açoreanas!
Chegou a hora da caminha e ninguém contestou... No dia seguinte o despertar seria mais cedo, uma vez que nos esperava mais uma viagem de avião... à descoberta de outra ilha!

27.10 - Sexta-feira. 7h15, hora de acordar, arrumar as últimas malas, tomar o pequeno-almoço e partir rumo

Ilha das Flores, 27 e 28.10.2000
ao aeroporto das Lages. Por volta das 10h20, partimos para a ilha das Flores (ilha mais ocidental dos Açores), com escala na Horta (1h30 de voo e 20 minutos de escala), dizendo adeus à Terceira, ilha que nos acolheu e nos mostrou alguns dos locais mais belos do mundo que conhecemos! Eram 12h15 quando aterrámos no aeroporto de Santa Cruz, onde nos esperava um autocarro da Câmara Municipal de Lajes das Flores. Alojámo-nos em instalações camarárias e... bem, é necessário descrever os nossos aposentos: basicamente, eram 2 salas pequenas, onde os 20 colchões (sim, é verdade, faltava um colchão, mas como éramos um grupo de pessoas elegantes, lá nos juntámos mais e todos tiveram direito a um bocadinho de colchão!), todos juntinhos e semelhantes aos de Madalena do Pico, só que cobriam completamente o chão, havia apenas uma casa de banho; as malas foram colocadas, em pilha, junto
Admirando as maravilhas
naturais das Flores, 27.10.2000
às janelas, atrás das portas e no corredor minúsculo que dava para a casa de banho, o qual também servia de vestiário quando a casa de banho estava ocupada! Realmente, uma casa acolhedora, com instalações multiusos...!!
Almoçámos num restaurante na vila das Lages e partimos para uma visita à ilha, de acordo com programa estabelecido pela Câmara Municipal. Visitámos as famosas Lagoas das Flores, como a Lagoa Rasa, por exemplo. Cenários verdadeiramente espectaculares, de uma beleza incrível e indescritível! Olhávamos à volta e os nossos olhos só alcançavam o verde das colinas e o azul das águas... os mais diversos tons de verde e azul, sempre misturados, numa conjugação perfeita e harmoniosa!! (....)
As lagoas e as cascatas naturais são uma constante na ilha das Flores, caracterizada pela sua natureza selvagem e de destacar o curioso fenómeno geológico da Rocha dos Bordões. Visitámos ainda a Fajãzinha e a Fajã Grande, o ponto mais ocidental da Europa.
De regresso às Lages, jantámos e, depois de darmos um passeio pela vila (que é muito pequena), reunimo-nos todos (excepto os professores) no porto. Até aqui tudo bem, só que não estávamos propriamente sentadinhos, mas sim todos deitados no chão, uns em cima dos outros, literalmente! Sempre dava para aquecer (apesar de não estar assim tanto frio!) e ver as estrelas!! Ao voltar para as nossas “instalações maravilha”, ainda ficámos algum tempo a conversar no exterior, antes de entrar e recolher aos lençóis (sim, porque desta vez tínhamos lençóis! Uma conquista!...

28.10 - Sábado. Neste dia o despertar ocorreu por volta das 7h30. Depois do pequeno-almoço (....), visitámos alguns pontos emblemáticos da ilha, alguns miradouros e até conseguimos avistar a ilha do Corvo (onde não pudemos ir, pois os 14 lugares existentes no avião não chegavam para todos!). Cerca das 12h30 regressámos ao aeroporto de Santa Cruz das Flores (....) 50 minutos depois chegámos ao aeroporto do Faial, a última ilha que iríamos visitar, onde nos esperava um autocarro da Câmara da Horta. Por volta das 15 horas chegámos à cidade e instalámo-nos nos quartos da Residencial “S. Francisco”, no centro da cidade.

Na área desértica dos Capelinhos, 29.10.2000
No resto da tarde visitámos a Horta e, como não poderia deixar de ser, com um tempo excelente, fomos à praia de Porto Pim, uma baía calma, de água límpida e areia muito escura (....)

29.10 - Domingo. Às 7h30 foi o despertar geral e, após um requintado pequeno-almoço na Residencial, partimos de autocarro para uma visita à ilha do Faial. Inicialmente, fizemos uma pequena paragem no miradouro de Espalamaca, onde se tem uma vista magnífica sobre toda a cidade da Horta e as praias. Parámos ainda junto de alguns moinhos de vento bastante pitorescos que denotam a presença holandesa na ilha. A nossa próxima paragem foi na Caldeira do Faial, cratera enorme, uma imensidão de verde que, noutros tempos, devia ter sido palco de cenários bastante mais aterrorizantes, mas simultaneamente belos!
Em seguida, rumámos ao conhecido vulcão dos Capelinhos, onde encontrámos uma paisagem completamente diferente daquela a que estávamos habituados desde que tinhamos chegado a terras açoreanas: um solo árido, sem vegetação; uma paisagem agreste e seca que simboliza a terra “morta”! O solo era cinza autêntica e foi com algum esforço que chegámos ao ponto mais alto. O que dali podíamos avistar não poderia ser mais peculiar: uma terra seca e, lá em baixo, o mar azul, límpido, tentando ganhar terreno, batendo violentamente nas rochas... Impressionante!!

Ilha do Faial ... e regresso, 28 a 30.10.2000
Após mais esta aventura, regressámos ao autocarro e, a caminho da cidade da Horta, ainda parámos num parque para nos refrescarmos e onde encontrámos uns amiguinhos muito simpáticos! Numa cerca, estavam vários gamos; uns descansavam, outros brincavam, mas os mais espertos dirigiram-se até nós porque já sabiam que “turistas dão-nos sempre comidinha boa!”! E assim foi, através das redes lá lhes demos uns petiscos acompanhados de alguns mimos!
Na descida para a Horta, parámos para almoçar numa Pizzaria, seguimos a pé até ao centro da cidade, voltámos a visitar a praia de Porto Pim (mas desta vez sem banhoca!) e passeámos pelas ruas da cidade. De novo na Residencial, fomos informados que o resto da tarde, noite e manhã do dia seguinte era por nossa conta. Assim, aproveitámos para fazer compras, jantámos no Clube Naval, ainda passeámos um pouco, mas como num Domingo à noite está tudo fechado, voltámos para a Residencial mais cedo que o previsto e ficámos na sala a ver televisão, até o sono nos vencer...

E fomos notícia de jornal, na Horta!
Adeus Pico ... Adeus Açores! 30.10.2000
                         
30.10 - Segunda-feira. O despertar foi um pouco mais tardio porque não havia grandes planos para a manhã. Depois do pequeno-almoço, fizemos as últimas compras, visitámos o famoso Peter e ultimámos as arrumações da bagagem. Às 12 horas partimos de autocarro para o aeroporto e procedeu-se ao despacho das bagagens. Cerca das 13h40 partimos para S. Miguel, onde chegámos aproximadamente 1 hora depois. Como também não havia grandes planos para a ocupação desta tarde, apenas combinámos uma hora para nos encontrarmos no final do dia. Assim, almoçámos no Centro Comercial de Ponta Delgada, fizemos mais umas compras; enquanto uns foram ao cinema, outros ficaram junto ao mar a conversar, ouvir música, ou apenas a descansar o olhar nas águas, pois seria a última vez que olhávamos para elas!
Cerca das 20 horas reunimo-nos todos no centro da cidade e fomos de táxi até ao aeroporto. A excitação presente aquando da ida estava completamente desvanecida, pois ninguém queria regressar!! Estávamos todos tão bem, rodeados de amigos, em terras lindas... Que mais poderíamos querer?! Mas a hora da partida aproximava-se...! Às 21h25 partimos rumo a Lisboa, num voo de 2h05. Chegámos ao nosso destino já no dia 31, devido à diferença horária. A vontade de ir recolher as bagagens era cada vez menor! Não queríamos que tudo terminasse assim, tão depressa!
O reencontro com as famílias não foi mais que uma grande despedida daqueles 10 dias no paraíso! Antes de abraçarmos os familiares, abraçávamos os amigos que tinham partilhado tudo connosco, sorrisos e tristezas (não muitas, felizmente!), divertimento, brincadeiras, emoções, e isso é impossível de transcrever! Assim, fica a imagem de um grupo muito unido, que passou 10 dias maravilhosos, num autêntico paraíso!

                         

E desta viagem ficaram mais uma vez as imagens ... e os testemunhos, para memórias futuras...

“As recordações não são só para serem relembradas, mas também para serem revividas.”
Margarida Rodrigues

“Foram 10 dias espectaculares, num mundo misturado de verde e azul ... Queria agradecer aos “setores” por terem organizado esta viagem e por terem agido como nossos amigos.”
Mónia Nakamura

“Há certas coisas que por serem tão maravilhosas se tornam impossíveis de descrever; esta viagem foi uma delas.”
Susana Marques
6 de Maio de 2011

quarta-feira, 25 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (2): quando subo pela 2ª vez a montanha do Pico

24 de Outubro de 2000. Estamos em Madalena do Pico, preparados para a grande "aventura" da subida à montanha. Pela minha parte, era a segunda vez que a subia ... depois de 4 anos antes o ter feito também com alunos. Agora é o Cláudio Gonçalves, então aluno, a descrevê-la para o Clube "Amigos da Natureza":

"Às 7h45 lá partimos, cheios de ansiedade, rumo ao local onde se ia iniciar a grande aventura da viagem: a escalada ao Pico! Quando chegámos ao sopé do Pico, abandonámos o autocarro, que logo deu meia volta, regressando a Madalena do Pico, e que só nos viria buscar no fim da aventura. Fomos então ao encontro do nosso guia, o Joaquim Nené, que tinha vindo no seu próprio carro. A euforia e a adrenalina eram bastantes, porque o nevoeiro matinal teimava em não levantar, impossibilitando que conseguíssemos um contacto visual com o cimo do Pico, para podermos fazer uma estimativa do percurso que estávamos prestes a iniciar. Terminadas as últimas instruções e trocadas palavras de encorajamento, começámos a nossa escalada por aquilo que se chama um "caminho de cabras". O caminho era escorregadio, pois por entre a terra húmida existiam "paletes" de musgo encharcado pelo orvalho da manhã. Muitos arbustos ladeavam o pequeno trilho, não nos deixando alternativas de percurso. Depois de pouco andarmos, chegámos a umas elevações que pareciam pequenas montanhas e que foram facilmente identificados como cones secundários. Um deles permitia que se entrasse e, lá dentro, lugar onde nem todos foram, sob a protecção de um muro edificado pela mão humana, podia-se apreciar uma grande fenda escura e húmida, com plantas nas suas paredes. A escalada continuou e o caminho foi-se tornando mais íngreme, mas ao mesmo tempo mais livre, porque à medida que subíamos os arbustos iam rareando, deixando-nos a possibilidade de fugir um pouco ao caminho seguido pelo guia e, dentro do possível, sermos como pioneiros, inaugurando um novo trilho para alcançar o topo do Pico."

Foi por esta altura que se deram as primeiras desistências, tal como tinha acontecido 4 anos antes. Mas continuemos a acompanhar a descrição:

"O resto do grupo, agora mais pequeno, prosseguiu a viagem mais apreensivo e consciente do perigo. À medida que subíamos,  repetíamos tentativas frustradas de avistar a paisagem  encoberta  por  "resmas"  de
Subida à montanha do Pico, 24.10.2000
"nuvens que, além de não nos deixarem aproveitar a vista panorâmica da ilha, nos banhavam com salpicos quando as atravessávamos. No entanto, por pequenas abertas entre as nuvens, era possível vislumbrar campos cultivados, pedaços da costa onde se notava a zona da rebentação das ondas e alguns pequenos cones como os que tínhamos visto de perto lá em baixo. Aquela não era definitivamente uma simples neblina matinal. Finalmente alcançámos a nossa primeira meta, estávamos a 2280m de altitude, na borda da cratera do Pico. A cratera era enorme, de forma circular, e bastante funda, com cerca de 80m de altura, da qual irrompia o Piquinho, ao qual estávamos destinados a chegar. Perante esta magnificente "miragem", resolvemos parar para almoçar e assim juntar o útil ao agradável, pois ao mesmo tempo que enchíamos a barriga aliviávamos o peso das mochilas.
Como não podia deixar de ser, as nossas fieis perseguidoras (as nuvens) acharam que era também uma altura propícia para aliviar a carga e, para mal dos nossos pecados, começou a chover. Aconchegámo-nos todos na tentativa de nos protegermos daquela chuva persistente, que era tocada pelo vento, mas de nada adiantou. E assim, terminada a refeição, o grupo prosseguiu, deixando mais uma jogadora do nosso “plantel” naquele local, que por si só era prémio suficiente de uma escalada ao Pico, a descansar do percurso já feito e à espera de dar umas boas risadas à custa dos nossos tropeções na última e mais difícil etapa da escalada. Descemos até à cratera por um caminho íngreme e iniciámos a subida ao Piquinho. Esta subida foi muito difícil, porque as pedras estavam soltas e à medida que um subia ia deixando atrás de si uma chuva de calhaus para os outros.

No Piquinho (2351m alt.), 24.10.2000
Após muitas escorregadelas, chegámos enfim ao ponto mais alto de Portugal (2351 m de altitude). Olhámos em volta e não pudemos deixar de nos sentir bem e satisfeitos, pois apesar de as nuvens nos impossibilitarem uma panorâmica da ilha, proporcionavam-nos um espectáculo igualmente belo. Tudo abaixo de nós era branco, só com uns farrapos de azul do mar, e, acima de nós, o céu estava limpo e o sol brilhava, despertando arco-íris pela cratera. Depois de muitas fotografias e muitos risos de alegria, voltámos pelo mesmo caminho até ao local onde antes tínhamos estado a almoçar. Pegámos nas mochilas que aí tinham ficado e começámos a grande descida do Pico, que era talvez mais perigosa mas mais divertida, pois o esforço era menor e sempre podíamos dar uma corridinha de vez em quando e uns espalhos engraçados, sempre sem nos afastarmos muito do Nené (o nosso guia), pois o nevoeiro veio para ficar e não nos podíamos perder.


Quando chegámos ao sopé do Pico, o autocarro ainda não tinha chegado. O Nené levou no seu carro alguns de nós que se tinham lesionado e todo o resto do grupo seguiu a pé estrada fora, conversando, contando anedotas e ouvindo histórias que os "profs" tinham para contar. Já nem a chuva que caía nos perturbava, tínhamos conseguido o nosso objectivo. Por fim apareceu o autocarro, entrámos todos molhados como uns pintos e sentámo-nos confortavelmente como nunca tínhamos estado nas últimas horas. Eram então 16h45 e estávamos de volta a Madalena do Pico, cansados mas realizados, por termos conseguido enfrentar um desafio, com a companhia e a ajuda sempre agradavelmente presente dos nossos amigos e dos nossos professores (que também são, sem dúvida, nossos amigos)! Quando regressámos, e após uma banhoca reconfortante no Quartel dos Bombeiros, que ficava mesmo em frente às nossas instalações (porque não se podia tomar banho nos nossos balneários...), seguiu-se o jantar no mesmo restaurante do dia anterior. À entrada do restaurante, a luz não era muita e como não havia nuvens, fomos brindados com um céu no mínimo espectacular! Dava a sensação de que se estendêssemos um pouco mais o braço poderíamos tocar nas estrelas, porque elas estavam ali para nós!!
Como era a nossa última noite naquela ilha, os professores permitiram uma pequena escapadela às horas, ou seja, fomos divertir-nos para um barzinho junto ao mar, onde dançámos, rimos, brincámos... Chegámos aos nossos confortáveis aposentos e quando chegou a hora do recolher, as melgas voltaram ao ataque, o calor também (porque para não entrarem mais melgas “kamikazes”, fecharam-se as janelas, o que tornou o ambiente mais abafado), e, claro, o nosso lindo “coro” privativo!! Até houve pessoas que preferiram ir dormir para o átrio do que enfrentar toda aquela cena de filme, com aviadores, climas quentes e banda sonora (?!) !!

25.10 - Quarta-feira. 7h30... hora de despertar, fazer as últimas arrumações e partir rumo a S. Roque, onde tomámos o pequeno-almoço e onde nos esperava o navio “Golfinho Azul”, para uma aventura marítima até à ilha Terceira!
6 de Maio de 2011

terça-feira, 24 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (1): S. Miguel e Pico

Em Setembro de 2000, inicia-se um ano lectivo que entrará no novo milénio. E, com ele, os alunos que haviam vivido a semana mágica de Somiedo e dos valles del oso, estavam no 12º ano. Embora apenas com um grupo mais restrito ... os Açores esperavam por nós. Dois professores "batidos" e duas professoras "estreantes" nestas andanças, 17 alunos, 7 das 9 ilhas açoreanas percorridas! Embora S. Jorge e a Graciosa apenas com uma pequena escala, de resto só não fomos a Santa Maria e ao Corvo, a esta última pela simples razão ... de que não cabíamos todos no avião...J
Deixemo-nos levar pelas descrições da Cristiana Franco, então aluna, escritas em Novembro de 2000 para o site do Clube "Amigos da Natureza":

"Aeroporto de Lisboa, 21 de Outubro, 5 horas da manhã. A noite estava estrelada, como que a dar um toque de magia ao começo da viagem, que se esperava inesquecível (no mínimo). Aos poucos, a zona das partidas ia ficando mais composta, com alunos, professores e famílias... Sim, porque os papás, as mamãs, os manos, as manas e até os filhos deslocaram-se ao aeroporto para se despedirem e desejarem boa viagem. (....) A conversa era mais que muita, uns para disfarçar o sono, outros para controlar a ansiedade e outros ainda, para conter o nervosismo da viagem de avião. (....) Finalmente, por volta das 8 horas (hora local), o avião aterrou em terras açoreanas – Aeroporto João Paulo II, Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.
Sobre a Lagoa das Sete Cidades, 21.10.2000
Depois da recolha das malas (uff, chegaram todas!), partimos de autocarro a caminho do centro da cidade, mais propriamente da Pousada de Juventude de Ponta Delgada, que nos iria acolher nas 2 noites seguintes. Assim que lá chegámos, colocámos as malas numa sala e partimos à descoberta da ilha. Um dos primeiros sítios visitados foi a famosa Lagoa das Sete Cidades. Primeiro, do alto de uma colina, estávamos novamente sobre as nuvens, com a lagoa aos nossos pés, mas desta vez em chão firme. As fotografias não poderiam faltar, como faltam as palavras para descrever a paisagem... Todos queriam registar cada momento, cada paisagem, cada pormenor... Ficarmos com uma recordação de tudo aquilo, para além das que ficarão para sempre gravadas nos nossos corações!
Bom, após as primeiras impressões, descemos até junto das lagoas... Sim, é verdade que uma é azul e a outra verde... Tentámos encontrar uma explicação lógica, mas a beleza era tão grande que preferimos imaginar, sonhar, inventar explicações sem nexo, mas que fizessem perdurar a magia... Uma magia que só existe nalguns sítios e que só algumas pessoas as conseguem ver! Porquê?! Bem, porque o paraíso é onde nos sentimos bem e abrimos o nosso coração para o que a vida tem de mais puro... Logo, estávamos perante uma paisagem idílica, que fotografávamos com os olhos e tentávamos captar fragmentos da sua beleza numa máquina... O que nós não sabíamos, era que essa sensação se iria repetir por muito mais vezes ao longo daqueles 10 dias... Quando a fome apertou, encontrámos um local simpático e fomos retirando das mochilas os petiscos que as “mamãs” carinhosamente tinham preparado para que os seus meninos se alimentassem bem fora de casa (ou seja, comida a mais!).

Almoço junto às Sete Cidades, 21.10.2000
Em seguida, de novo no autocarro, rumámos a uma praia como nunca tínhamos visto... Água muito azul, alguma ondulação... Até aqui tudo normal... Só que a areia era muito escura, quase preta! Estranho?! Nem por isso! Natural em ilhas vulcânicas, como é o caso de todo o arquipélago. Após esta pequena paragem, seguimos rumo a Ponta Delgada, fazendo ainda outras paragens em pontos mais ou menos emblemáticos, mas sempre deslumbrantes, como por exemplo, falésias arrepiantes onde, se nos abstraíssemos de tudo o resto, parecia que flutuávamos por cima daquela água transparente!
Chegados à Pousada, procedemos à distribuição dos quartos, arrumámos as malas e visitámos a cidade de Ponta Delgada (onde se destacam as famosas Portas da Cidade) (....) Como ainda era cedo (e o sono ainda estava escondido pela excitação do dia), alguns ficaram em frente à Pousada, num muro não muito confortável, mas que se torna um dos melhores sítios do mundo, quando se está em boa companhia, e a conversa surgiu... Uns diziam como tinham gostado do dia, outros já acusavam o cansaço, e outros diziam que iriam ter muitas saudades dos mimos das mães!...

Visita à ilha de S. Miguel, 21 a 23.10.2000

22.10 - Domingo. Por volta das 7 horas, o professor Callixto encarregou-se do nosso despertar (como já é habitual nestas viagens). O dia amanheceu tristonho mas nem isso desanimou o grupo, que já tinha recuperado as forças e estava preparado para mais um dia de descobertas! O pequeno almoço foi tomado na Pousada e em seguida partimos de autocarro para uma visita à parte oriental da ilha de S. Miguel.
A primeira paragem foi num local bastante peculiar... Deparámo-nos com uma cascata e uma pequena lagoa
"(Caldeira Velha)" , só que o cenário era deveras especial porque a água, para além de estar a ferver, apresentava uma coloração acastanhada e um cheiro não muito agradável (devido ao enxofre). A própria terra em redor da lagoa estava quente e em pequenos orifícios podia observar-se lama a borbulhar. Este foi o nosso primeiro contacto com a realidade de que a terra é um sistema vivo, em constante renovação e actividade! Seguidamente, partimos para um local de onde se poderia observar a Lagoa do Fogo... Só que quando lá chegámos, o cenário não era dos mais favoráveis, ou seja, encontrámos um nevoeiro cerrado que não nos permitia ver um palmo à frente dos nossos narizes curiosos!! Daí, um pouco desiludidos, partimos à descoberta de alguns miradouros e das suas vistas impressionantes (é quase indiscritível a beleza das paisagens que vimos... Um misto de verde e azul, com algum casario e uma imensidão de água, que tanto pode parecer um lençol calmo, como uma criança endiabrada!). A visita à vila de Ribeira Grande permitiu-nos ter um contacto mais próximo com os habitantes daquela zona, mas também nos proporcionou estar num local que, no Inverno, quando algumas tempestades assolam aquela área, tudo aquilo fica inundado e destruído.
Depois dessa pequena visita, dirigimo-nos para o vale e caldeiras das Furnas. Aí, e com a Lagoa das Furnas como cenário, observámos a forma como o típico cozido das Furnas é cozinhado, em pleno solo vulcânico. Também aqui o calor era mais que muito e o próprio chão fervilhava, tal a actividade que percorria o subsolo, bem debaixo dos nossos pés. O estômago já acusava a falta de alimento e rumámos à vila das Furnas, onde almoçámos o célebre cozido. Opiniões?! Bem, uns gostaram muito, outros acharam picante, outros nem por isso... Enfim, foi uma experiência nova!
A parte da tarde foi preenchida com a visita a mais alguns miradouros (como o miradouro de Stª. Iria) e a Cascata dos Caldeirões, que nos proporcionou mais uma visão que se ía tornando habitual aos nossos olhos: água translúcida que parecia mergulhar numa imensidão de verde!
Chegados à Pousada, e após algum descanso, a próxima paragem seria nas Instalações Militares de S. Gonçalo, onde o jantar esperava por nós. A noite decorreu de forma semelhante à do dia anterior. (....) no dia seguinte partiríamos para outra ilha...

23.10 - Segunda-feira. 6 horas da manhã... O habitual despertar do professor Callixto (....). Por volta das 7h30 partimos de táxi até ao aeroporto de Ponta Delgada, a fim de embarcarmos rumo à ilha do Pico, o nosso próximo destino. Cerca das 9 horas o avião descolou e uma hora depois aterrámos em Santa Luzia, no aeroporto do Pico. (....) Quando o autocarro finalmente chegou, qual não foi o nosso espanto quando constatámos que a carrinha não tinha porta bagagens!! Resultado: éramos 21, numa carrinha com 19 lugares, o corredor atravancado com malas, bagagens nos bancos e pessoas sentadas em cima... Foi uma aventura!! Primeiro entraram uns quantos para a parte de trás da carrinha, em seguida começaram a entrar malas que iam sendo literalmente atiradas e empurradas umas por cima das outras, e os últimos a entrar tinham que pedir licença às malas!!

Ilha do Pico, 21 a 23.10.2000
Chegados a Madalena do Pico, a aventura continuou! (....) As instalações eram, no mínimo, curiosas... As famosas instalações do Futebol Clube de Madalena do Pico eram constituídas por um edifício de 2 andares, fachada normalíssima, átrio onde começavam as escadas e 2 corredores. No 1º andar ficavam os nossos aposentos que eram, nada mais nada menos, que uma sala, com mesas e cadeiras encostadas às paredes e uma mesa de “snooker” no meio. No rés-do-chão encontravam-se os balneários do Clube que, para se falar com sinceridade, não estavam nas melhores condições... Até aqui tudo bem, mas uma pergunta começava a dominar as nossas mentes: “onde vamos dormir?!” Todos tinham levado sacos-cama, mas não serviam para dormir directamente no chão!! Pois era... Essa foi uma ideia que se alojou em nós durante todo o dia... Tentávamos encontrar soluções minimamente viáveis mas nada... Restou-nos esperar!
Depois de deixarmos as bagagens nas nossas “suites”, dirigimo-nos à Escola Secundária Cardeal Costa Nunes, onde almoçámos na cantina, juntamente com os alunos, que nos olhavam de forma intrigada (ou parecíamos extraterrestres, ou então já éramos famosos!). Findo o almoço, partimos de autocarro para uma visita de volta à ilha do Pico, com passagem por S. Roque (onde existem as antigas instalações para onde se transportavam as baleias pescadas), na costa norte, e Lages, na costa sul, onde se destaca o Museu dos Baleeiros, onde se podem encontrar instrumentos da pesca à baleia, bem como pinturas emblemáticas em ossos de baleia, entre outros.

Objectivo ... a montanha do Pico, 23.10.2000
Após a visita à ilha, regressámos às nossas instalações e demos um pequeno passeio pela Madalena do Pico, uma vila pequenina, mas muito acolhedora. Do seu porto é possível observar-se a ilha do Faial, mesmo em frente e a cidade da Horta que, de barco, dista cerca de 25 minutos do sítio onde nos encontrávamos. Ainda durante este pequeno passeio, compraram-se os almoços para o dia seguinte, que, para a maioria, iria ser passado na montanha. Seguiu-se o jantar num restaurante da vila e uma conversa com o guia de montanha sobre o dia seguinte.
Com todas estas visitas, tínhamo-nos esquecido de algo importante: os colchões!! Eram 22 horas, estávamos quase todos à porta dos nossos aposentos, o professor Callixto já tinha contactado várias pessoas a fim de saber o que se passava... E eis que chega uma carrinha de caixa aberta com as nossas caminhas!! Colchões com cerca de 6 cm de espessura mas que para o nosso cansaço seriam as melhores camas de sempre! Apressámo-nos a transportá-los, arrumámo-los todos juntos uns aos outros, numa ponta da sala, preparámos o almoço para o dia seguinte, apagámos as luzes e caminha (ou melhor, colchãozinho!)! Durante a noite, não se pode dizer que todos tenham dormido muito... As melgas invadiram o salão! Era verem-se braços no ar, cabeças tapadas com os sacos-cama, mãos a perseguir zumbidos... Mas não era só isso... Algumas pessoas tinham um sono um pouco mais sonoro, formando um desafinado coro não muito agradável a ouvidos mais sensíveis, principalmente durante a noite!!

24.10 - Terça-feira. Acordámos por volta das 7 horas e foi nessa altura que se tornaram visíveis os ataques dos nossos inimigos voadores! Todos vermelhos e inchados, tal foi o banquete!! As meninas que não se aventuraram ainda ficaram mais um bocadinho no quentinho, enquanto viam a azáfama de todos os outros, a ultimarem os preparativos.
"

Os preparativos de que fala a Cristiana eram, obviamente, para a grande "aventura" da subida ao Pico do Pico! Pela minha parte, ia subir pela segunda vez à montanha mais alta de Portugal ... ambas as vezes em actividades com alunos...J
5 de Maio de 2011

segunda-feira, 14 de agosto de 2000

Dos Alpes suiços e franceses ... aos Pirenéus

No primeiro dia de Agosto de 2000 partimos, eu e a "sócia", de Tours para Paris. Estávamos em férias, tínhamos descoberto mais um recanto paradisíaco dos Pirenéus e tínhamos atravessado a Dordonha. Em Paris, a caravana ia contudo apanhar mais dois "passageiros", os cunhados com quem tínhamos partilhado
Grimselsee, Alpes suiços, 2.08.2000
a "aventura" de 1993. Ao contrário desse périplo 7 anos antes, desta vez as crianças já não eram crianças ... e éramos portanto só os dois casais.
Atravessada a França no sentido NW/SE, entrámos na Suiça pelo Jura, direitos a Neuchâtel e a Berna. Depois ... lagos e montanhas, glaciares e paisagens alpinas! Thun, Interlaken, os Thuner See e Brienzer See, e subimos para o Grimselpass. Acima já dos 2000 metros de altitude, o Grimselsee saúda-nos, e entramos no vale do alto Ródano, com espectaculares panorâmicas do respectivo glaciar.
Em Visp começamos a subir para Täsch ... e para a histórica e mítica Zermatt. A aldeia de Zermatt é talvez a mais célebre estância de montanha da Europa, desde meados do século XIX. Próximo, situam-se numerosos picos com mais de 4 mil metros de altitude, nomeadamente o Matterhorn (4.478m), ou Monte Cervino. A nossa estadia em Zermatt foi de 2 dias e meio ... mas não vimos o Matterhorn! Quase permanentemente a chover, a sensação de estar ali tão perto mas não o vermos foi frustrante. Valeu-nos o carácter da aldeia, com as suas construções tipicamente suiças, de montanha ... mas demasiado turística. Subimos no funicular do Sunnegga, o primeiro funicular suiço totalmente construído no interior da rocha, que nos levou aos 2288 metros de altitude ...
Alpes suiços: Interlaken, Grimsell, Zermatt, S. Bernardo, 1 a 5.08.2000
O "quadro" que não vimos...: o Matterhorn visto de
Zermatt (de http://en.wikipedia.org/wiki/Zermatt)
                 
E a Zermatt seguiam-se outros dois locais míticos dos Alpes: o grande e o pequeno S. Bernardo. O Grand St-Bernard separa o sudoeste da Suiça do vale de Aosta, Itália, e o Petit St-Bernard separa este de França. Uma sucessão de paisagens fabulosas, apenas ensombradas pela chuva que teimava em persistir. Entre os dois St-Bernard, Aosta deu-nos um "cheirinho" de Itália, recordando a nossa passagem por aquele vale, em sentido contrário, vindos de Chamonix, 7 anos antes. Passámos aliás o cruzamento para o Parque Nacional Gran Paradiso  ...  mas desta vez o destino era o  Parque Nacional da Vanoise,  em França.  Os
Parque Nacional da Vanoise, 7 e 8.08.2000
dois parques fazem aliás fronteira. Ao fim da tarde de 5 de Agosto, estávamos assim em Pralognan-la-Vanoise. A previsão meteorológica dava melhoria para os dias seguintes...J!
O dia 7 de Agosto amanheceu esplendoroso. Rapidamente nos esquecemos que há uma semana que andávamos à chuva! E, de entre as muitas caminhadas possíveis no Parque Nacional, escolhemos a do Mont Bochor, ao qual se sobe de teleférico desde Pralogan, para regressar depois a pé, num percurso de cerca de 10 km, com espectaculares panorâmicas de montanha. Mas voltaríamos ainda junto
Col de Iseran, 2764m alt., 8.08.2000
da fronteira italiana, para subir a Val d'Isère e aos Cols de Iseran e Galibier; a 2764 metros de altitude, o Iseran foi o ponto mais alto deste périplo. Depois, rumámos a sudoeste, atravessando o Parque Nacional des Écrins, em direcção a Grenoble, Valence, à nascente do Loire e às Gorges de l'Ardèche, onde passámos um dia. O regresso incluiu ainda uma passagem por Andorra ... e um matar de saudades do Parque Nacional de Aigües Tortes. A partir de Espot, subimos de jeep ao Lago de S. Maurício, recordando as "aventuras" ali feitas com alunos, em 1985 e 1995. E no dia 14 de Agosto ... fizemos mais de 1200 km de caravana, desde Sort, nos Pirenéus catalães ... até casa!
Alpes franceses e regresso, 8 14.08.2000

A caminhada do Mont Bochor, no Parque Nacional da Vanoise, no Wikiloc / Google Earth:


 
4 de Maio de 2011

domingo, 30 de julho de 2000

De terras pirenaicas a terras da Dordonha

22 de Julho de 2000. Terminara mais um ano lectivo. Na caravana, partimos rumo a Segovia e aos Pirenéus. Ao segundo dia, estamos no vale de Hecho, extremo ocidental dos Pirenéus aragoneses. Era mais um paraíso para descobrir, ao longo do rio Aragón Subordán  e entre picos que ultrapassam  os  2300
Ao longo do A. Subordán, a caminho de Aguas Tuertas, 24.07.2000
metros de altitude. Passada Hecho, a estrada aperta-se entre os enormes paredões rochosos da Boca del Infierno, para terminar na Selva de Oza, magnífico bosque de faias, abetos e pinheiros silvestres.
O dia 24 foi assim dedicado a uma esplêndida caminhada, subindo o curso do Aragón Subordán, paralelamente à fronteira francesa. Nos céus, cruzavam-se abutres e milhafres. Foram cerca de 11 km até ao lugar de Aguas Tuertas, nome aragonês para os meandros que o rio desenhou naqueles prados de altitude, para os quais correm numerosas cascatas e torrentes. Estávamos a 1600 metros de altitude e a pouco mais de 2 km já da fronteira ... mas havia que regressar à caravana, na Selva de Oza, e a Hecho. A aldeia é também uma pequena jóia arquitectónica, denotando já a influência da proximidade com Navarra. Tínhamos conhecido mais um recanto paradisíaco dos Pirenéus!
Hecho, Selva de Oza e Aguas Tuertas, 24.07.2000
O percurso da Selva de Oza a Aguas Tuertas
no Wikiloc / Google Earth
 
No dia seguinte, passámos de terras aragonesas para terras Navarras, por Ansó e Roncal. É o reino da montanha, em que tão depressa subimos a um puerto como descemos a um profundo vale. Passámos Isaba, subimos, e, a 1760 metros de altitude ... entrámos em França. Estávamos no Col da Pierre St-Martin. Nos meus tempos da Espeleologia, tinha ouvido falar muito da gruta do mesmo nome, situada nas proximidades do Col. Com os seus mais de 1300 metros, era considerada a gruta mais profunda do mundo.

Depois, por Pau - de onde dissemos adeus aos Pirenéus - Tarbes, Auch e Agen - onde cruzámos o Garona - o destino era a Dordogne, as terras da Dordonha, especialmente o vale do Vézère, ou Vallée de l'Homme, o berço do Homem moderno. Em Les Eyzies e nas grutas de Lascaux, revivemos o quotidiano dos nossos antepassados do Neanderthal. E, ao longo do Dordogne, sucediam-se belas paisagens, complementadas por imponentes castelos e culminando nas construções monásticas de Rocamadour, onde "venerámos" a respectiva Virgem Negra.
Rocamadour, Dordogne, 28.07.2000
Tours e o Loire, 30.07.2000

Ao fim da tarde do dia 28 de Julho estávamos mais uma vez em Tours ... e mais uma vez a bela cidade do Loire nos recebia. Lá passámos os 3 dias seguintes, em família ... para depois seguirmos para os Alpes!
 
4 de Maio de 2011

sexta-feira, 28 de abril de 2000

E ... mais um regresso ao Gerês!

Regressado havia pouco mais de uma semana das terras mágicas de Somiedo, a 25 de Abril de 2000 parto ... para as terras mágicas do Gerês! Aos valles del oso e a Somiedo, tinha ido com os meus alunos do 11º ano e com turmas de Humanísticas. Mas eu estava de novo a orientar um núcleo de estágio, cujas turmas de 10º ano ... também precisavam de actividades de campo! Com apenas 3 professores - este "carola", a sua colega e companheira e uma das duas estagiárias - 40 alunos viveram portanto os habituais 4 dias no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
No primeiro dia, o destino habitual: Pitões das Júnias. Tal como Miguel Torga ...

"Gosto de rever certas paisagens, ainda mais do que reler certos livros. São belas como eles e nunca envelhecem. O tempo não degrada a linguagem que as exprime. Pelo contrário. Enriquece-a, até, num esforço de perfeição constante que, embora involuntário, parece intencional. (...)
E eu olho, olho, e não me canso de admirar uma placidez assim permanentemente movimentada (...)."
(Miguel Torga, Gerês, 3 de Agosto de 1959, Diário VIII)
Mais  uma  visita a  Tourém,  portanto,  à  sua fonte  das
Pitões das Júnias, sempre Pitões...   26.04.2000
solteiras, ao forno do povo, ao "alcatrão" cada vez menos derretido das ruas. Depois Pitões, a velha "Casa do Preto", as Sr.as Marias ... e a magia da serra. No dia seguinte de manhã lá fomos ao Mosteiro e à cascata, regressando a tempo de um saboroso almoço e de uma tarde a caminho do Gerês ... e da velha camarata do Vidoeiro, palco mais uma vez de brincadeiras e convívio.
E o programa do dia 27 também não foi diferente: o cenário de Vilarinho da Furna e do Rio Homem, a geira romana, a explicação dos marcos miliários, da orientação no campo, o viver os sons e os silêncios, o respirar daquela Natureza agreste.

Regresso às terras mágicas do Gerês, versão ano 2000
A Portela do Homem e as piscinas naturais ficaram gravadas em mais umas dezenas de olhos jovens, que a seguir desceram ao Vidoeiro, na carrinha do Parque Nacional, para subir à Pedra Bela, à Cascata do Arado, à aldeia de Ermida. Era a 11ª vez que levava alunos ao Gerês!...
Rio Homem, albufeira de Vilarinho da Furna, 27.04.2000
No Xurés galego, Portela do Homem, 27.04.2000
4º e último dia, 28 de Abril. Como em muitas das últimas visitas ao Gerês, o regresso incluiu o almoço e uma visita ao Parque Biológico de Gaia. E ao fim da tarde estávamos em Sacavém, com mais histórias para contar. Com esta visita ao Gerês, muitos destes alunos iniciaram aqui um ciclo que, nos anos seguintes, os levaria à Cordilheira Cantábrica e à Madeira ... mas antes ainda voltaria aos Açores com o grupo que tinha ido a Somiedo e aos valles del oso...
2 de Maio de 2011

sexta-feira, 14 de abril de 2000

No paraíso de Somiedo ... no fim de uma semana mágica!

Após dois dias nos valles del oso, o périplo asturiano de 2000 ia levar-nos às terras de Somiedo. Contrariamente aos anteriores, o dia 11 de Abril amanheceu soalheiro, e saímos de Teverga para sul, em direcção ao Puerto Ventana e à "fronteira" leonesa. É que na ponte de La Riera, por onde no verão de 1999
passámos na caravana ... nessa altura não passavam ainda autocarros.
No Puerto Ventana, a 1600 metros de altitude ... o avanço só foi possível atrás do limpa-neves! As panorâmicas e a sensação de comunhão com a montanha e a neve eram indescritíveis ... e eram também o prenúncio dos dias que estavam para vir! Por momentos em terras leonesas, do Puerto Ventana passámos ao Puerto de Somiedo - esse já bem conhecido... - para em seguida descermos o espectacular vale de Somiedo. A braña de La Peral, envolta num manto branco, dava-nos as boas vindas.
Em Pola de Somiedo visitámos o Centro de Interpretação do Parque Natural. Mas não, o nosso destino não era Pola de Somiedo, nem a aldeia mítica de Valle de Lago. Durante a preparação desta actividade com alunos, tive conhecimento da existência de outro Albergue, na aldeia de Saliencia, bem no coração das montanhas de Somiedo, a quase 1200 metros de altitude. Este Albergue tinha múltiplos atractivos: a completa ruralidade do meio em que estava envolvido, o facto de ter sido adaptado a partir da antiga escola da aldeia, permitir fazer múltiplas caminhadas a partir das proximidades ... e ter o respectivo gerente, Roberto Menéndez, como guia de montanha, com quem contratei a grande Ruta de Los Lagos.
De Teverga a Saliencia, pelos Puertos Ventana e de Somiedo
O objectivo era fazer o circuito dos Lagos de Saliencia, um conjunto de lagos glaciários de altitude, acima do Lago del Valle ... aquele que tinha ficado "encantado" em 1997 mas que se tinha deixado conquistar no verão de 99. Desceríamos para o Lago del Valle a partir dos Picos Albos, aqueles que nesse verão tinham, nitidamente ... chamado por mim! Após a visita a Pola de Somiedo, foi portanto para Saliencia que nos dirigimos. A estradinha, a partir do vale do rio Somiedo, também era nova para mim ... e dava-nos a todos a sensação de estarmos, mais uma vez ... a entrar no paraíso do paraíso!
Saliencia é uma daquelas a que eu chamo uma aldeia mágica. Completa ruralidade, ruas estreitas, casas de pedra e telhados de colmo, uma capela minúscula (em frente ao Albergue!), gente simples, transparecendo tradições, amor pela terra, pelo ar que se respira, pela água pura do rio Saliencia, pelas montanhas que a rodeiam. É impossível não sermos tocados pela magia daquele lugar perdido! E, uma vez chegados, rapidamente o Roberto passaria a nosso amigo. A meteorologia, essa é que teimava em não ser muito amiga ... ou melhor, dadas as circunstâncias até estava a ser bastante. Na televisão e no jornal, em Saliencia soubemos das inundações que estavam a ocorrer um pouco por todo o lado nas Astúrias, inclusive em locais por onde já tínhamos passado, como em Tuñon, no fim da Senda del Oso.
Mas a meteorologia ia alterar completamente os planos delineados para esta "aventura". Situando-se acima dos 1700 metros de altitude, o previsto percurso dos lagos ... estava completamente coberto de neve. Mais do que isso ... a previsão era de queda de neve durante todo o dia! Pela 2ª vez, Somiedo escondia-me os seus segredos...! Mas o nosso guia Roberto, experiente conhecedor de toda a zona, rapidamente nos delineou um programa alternativo. E assim, numa manhã chuvosa do dia 12 de Abril, fomos conhecer o vale do alto Pigueña, a aldeia perdida de Villar de Vildas e a maior braña de Somiedo, La Pornacal.
Braña de La Pornacal, vale do Pigueña, Somiedo, 12 de Abril de 2000
A partir de Saliencia, em vez de subir ... descemos ao vale de Somiedo, à mítica estrada de Belmonte de Miranda, até Aguasmestas, onde subimos o curso do Pigueña, ao longo de novo vale paradisíaco, um dos últimos redutos do urso pardo em Somiedo. Passadas as aldeias de Santullano e Cores, deixámos o autocarro um pouco antes de Villar de Vildas e seguimos a pé ... e à chuva! Villar de Vildas é outra "aldeia mágica", onde o tempo parecia ter parado ... até porque a aldeia não tinha tido ainda o desenvolvimento que veio a ter 4 anos depois, ao ganhar o prémio Príncipe de Astúrias, como Pueblo Ejemplar.
Com o nosso guia Roberto, na ruta de La Pornacal, 12.04.2000
Ruta de La Pornacal, 12.04.2000
                 
A partir de Villar de Vildas, a nossa ruta levava-nos ao longo do curso do alto Pigueña, até à braña de La Pornacal, a 1200 metros de altitude ... e onde começou a nevar! O nosso guia Roberto explicava-nos tudo, os bosques do lado de lá do rio onde ainda existem ursos, as plantas carnívoras que encontrávamos no caminho, a origem vaqueira das brañas somedanas, o significado dos brasões nas portas dos teitos, tudo. Que extraordinária lição, que extraordinário professor! Obrigado, Roberto Menéndez!
A Ruta de La Pornacal no Wikiloc / Google Earth, 12.04.2000
Um dia na aldeia mágica de Saliencia, 13.04.2000
                                  
Dia 13, penúltimo dia, 8 da manhã. Abrimos as janelas ... e está a nevar em Saliencia! E são mais momentos mágicos, numa semana mágica! As encostas verdejantes desapareceram no nevoeiro, a aldeia parece fazer parte de um conto saído da mitologia, as águas do rio Saliencia correm turbulentas. Impedidos de fazer seja o que for, cada um dá liberdade à sua imaginação, introspecção, meditação. Uns deambulam pelas ruas estreitas da aldeia, outros contemplam o correr das águas, outros recolhem-se na capela frente ao Albergue. Depois do almoço, com uma ligeira aberta dos céus, proponho subirmos a encosta da margem direita do rio, pelo caminho que nos poderia levar ao Cordal de La Mesa, a cumeada que separa terras de Saliencia das terras de Teverga. A maioria do grupo vem comigo, alguns, poucos, preferem o descanso no Albergue. Subimos então aquela encosta íngreme ... ao encontro da neve. Na braña das Morteras de Saliencia, a 1450 metros de altitude ... todos extravazámos a nossa alegria de viver, de conviver, de brincar, de comungar com aquela Natureza virgem, branca e pura!
E na última noite desta semana mágica ... até houve magia mesmo! O nosso anfitrião Roberto brindou-nos com um número de ilusionismo ... em que transformou um sumo de frutos vermelhos em cerveja...J!
E chegava o dia do regresso. Dia 14 de Abril, um dia sem história ... ou melhor ... com as muitas histórias vividas, para contar e recordar!

“Astúrias, afinal de contas um verdadeiro paraíso bem perto de nós, onde o meio rural, a neve e a natural tranquilidade tiveram um plano de destaque.”
Bruno Belchior

"Estes dias deram­-me a oportunidade de conhecer novas pessoas, tradições e locais. E só por isso tornaram-­se inesquecíveis. Gostei particularmente da forma como fomos recebidos."
Carla Pinto
"Foi uma experiência única. Gostei particularmente do espírito em que a vivemos."
Ana Pinto

"Foi excelente. Que outros alunos também venham a ter a oportunidade que todos nós tivemos nesta viagem."
Tiago Sabino
"Soberbo ... no mínimo."
Nelson Rosário

30 de Abril de 2011

segunda-feira, 10 de abril de 2000

2000 ... e estamos nos Valles del Oso

O simbólico ano 2000 chegara. Novos tempos se avizinhavam. No Carnaval, o parque de campismo da Costa da Galé, próximo de Sines, recebeu-nos na caravana por 5 dias, de 4 a 8 de Março. Na escola, as turmas que tinham ido ao Gerês em Março de 99 estavam agora no 11º ano. E ... não havia eu entretanto descoberto a minha terceira "terra natal"? Era obrigatório levar os alunos ao paraíso natural de Somiedo!
Assim, de 8 a 14 de Abril de 2000, com os meus alunos de Ciências e os alunos de Humanísticas do já habitual outro casal de professores destas "andanças" ... passámos uma semana no paraíso.
Na Senda del Oso, circuito ciclista, 9.04.2000
A todos os níveis, esta foi realmente uma semana especial ... ou não fossem Somiedo e os valles del oso do sudoeste asturiano ... um paraíso especial! Com base no Albergue de juventude que tinha descoberto em Teverga no verão de 99, o primeiro destino eram precisamente aqueles vales. Entrámos nas Astúrias na já nossa bem conhecida auto-estrada A66, a autopista del Huerna. Por Pola de Lena e pelo Puerto da Cobertoria ... a sensação de todos era verdadeiramente a de estarmos a entrar num paraíso perdido ... e chuvoso. Aliás estes dias foram muito marcados pela chuva ... e não só, como veremos. Passámos Santa Marina e Bárzana de Quirós, onde voltaríamos no dia seguinte, e com quase 800 km feitos desde Lisboa, chegámos ao Albergue San Martín, em San Martín de Teverga.
Ainda nesse mesmo primeiro dia, à noite, a direcção do Albergue faria uma apresentação das Astúrias e das actividades que íamos realizar nos dois dias seguintes.  Não conhecendo eu parte do que íamos  fazer,
Senda del Oso e noite folk em Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
seria a própria guia do Albergue a acompanhar-nos. E assim, o primeiro dia no paraíso era logo destinado a uma primeira "aventura": o circuito ciclista da "Senda del Oso", numa extensão de quase 30 km. As férias de 1999 tinham-me revelado aquele velho trilho mineiro, excelentemente transformado em trilho pedestre e ciclista. As bicicletas tinham igualmente sido contratadas com o Albergue. E pouco passava das 9 da manhã ... era dada a partida! Os poucos não ciclistas do grupo partiam igualmente, a pé, para um troço mais curto. E assim, ao longo do desfiladeiro de Teverga, ou de Peñas Juntas, por vezes atravessando túneis escavados nas paredes rochosas que ladeiam o rio Trubia, lá fomos avançando na Senda, sem dificuldades, já que o percurso é suavemente descendente em toda a sua extensão. Próximo de Proaza, fizemos uma "visita" às já nessa altura "famosas" ursas Paca e Tola, duas ursas que ficaram orfãs de uma mãe abatida selvaticamente por caçadores furtivos e que foram recolhidas pela Fundación Oso de Asturias. Passaram a viver num cercado ali construído para o efeito, junto à Senda e próximo da Casa del Oso, numa semi-liberdade onde podem ser alimentadas e vigiadas ... e servir de símbolos vivos da preservação da espécie na cordilheira cantábrica.
Passada Proaza e Villanueva, a Senda del Oso termina em Tuñón, junto a um urso de pedra que assinala a reconversão da linha mineira. Aí invertemos portanto o sentido, regressando a Villanueva, onde o autocarro nos recolheu, reunificando-se o grupo ... e onde almoçámos. Este almoço e o regresso a Teverga ficaram assinalados por um episódio "histórico"...! Eu e um aluno tínhamos capas de chuva iguais. Ao almoço, tendo parado a chuva, obviamente tirámo-las. No regresso a Teverga ... o "pobre" dá por falta da carteira, onde além de todo o dinheiro tinha todos os documentos. "Eu caí da bicicleta naquele sítio", dizia ele; e lá fomos ver se víamos uma carteira caída no local indicado ... mas nada. Triste e inconformado ... regressámos. Eis senão quando eu meto a mão ao bolso da minha capa (ou da que supunha ser minha...) ... e encontro uma carteira que não conhecia e que não era minha!!! Eis a história, portanto ... de
Taberna folk, Sta Marina de Quirós, 9.04.2000
quando um professor "roubou" a carteira a um aluno...J!
Ao final da tarde, seguia-se a visita ao Museu Etnográfico de Quirós, em Bárzana. E que Museu! Que bela preservação e, diria mesmo, que amor ali transparece pela cultura e pelas tradições daqueles vales perdidos no sudoeste do paraíso asturiano! Mas, em terras de Quirós, o dia 9 de Abril iria acabar com horas mágicas, vividas na "Taberna Folk" da pequena aldeia de Santa Marina de Quirós! Quando da preparação desta actividade, encontrei publicidade a esta "Taberna", que realizava pontualmente, para grupos, umas "noites folk". Ora, que melhor forma de conciliar a minha paixão pela música tradicional com uns momentos de divulgação, àqueles alunos, de uma outra vertente das vivências culturais e etnográficas das Astúrias? O que ali vivemos foi portanto uma verdadeira "espicha asturiana", ou seja uma festa que é, ao mesmo tempo, um jantar típico e um concerto ... ao sabor da sidra! O ritual da sidra e a "espicha" fazem parte, sem dúvida, do património cultural asturiano! Da componente musical encarregou-se o grupo Dubram, na altura com alguma relevância no panorama folk asturiano. Dele faziam parte, entre outros, Alberto Ablanedo e Dolfu R. Fernández. E tocaram, cantaram e encantaram todo o nosso grupo. Outras vivências, numa festa de alegria
Ruta de Las Xanas, Sto Adriano / Pedroveya, 10.04.2000
e juventude, uma outra forma de aprender e de viver a cultura. É claro que, tratando-se de alunos, a sidra foi devidamente "racionada" ...J; e, pouco depois da meia noite, estávamos a regressar ao Albergue, em San Martín de Teverga.
No dia seguinte tínhamos a primeira caminhada. Logo o nome levantava uma aura de misticismo: Ruta de Las Xanas.  As  xanas são ninfas da mitologia asturiana, de rara beleza, que habitam as nascentes e as torrentes de água. De longos cabelos ruivos e olhos claros, penteiam-se com belos pentes de oiro ... e, nuas, encantam os rapazes jovens das aldeias, a quem prometem tesouros e encantos! Mais uma vez, tratando-se de uma caminhada que eu não conhecia, a nossa guia Margarita, do Albergue de Teverga, acompanhou-nos no autocarro até Villanueva de Sto Adriano - portanto repetindo o curso do Trubia - e guiou-nos ao longo daquela espectacular ruta. Trata-se de uma caminhada curta  -  apenas cerca de 4 km  -  subindo ao
A Ruta de Las Xanas no Wikiloc / Google Earth, 10.04.2000
longo de um espectacular desfiladeiro escavado pelo rio das Xanas. Entre densa vegetação, a parte final termina num extenso prado que prenuncia a capela de San Antonio e a aldeia de Pedroveya, já no concelho de Quirós, no caminho percorrido no século XIX por San Melchor. E, em Pedroveya, o Albergue de Teverga e a nossa guia Margarita tinham reservado para nós um típico almoço camponês, na Casa Generosa ... de que havíamos de ficar "clientes"...J!
Depois do almoço ... havia que regressar ao vale de Sto Adriano, descendo de novo os 4 km da ruta de las Xanas. Regressados também a Teverga, houve ainda lugar a uma visita guiada à Colegiata de San Pedro. Já no Albergue, na sequência de um dia chuvoso ... seguir-se-ia uma espécie de lotaria, com as botas de quase todos em roleta russa, na máquina de secar roupa! Era a despedida dos valles del oso...
 
29 de Abril de 2011