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terça-feira, 31 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (3): Terceira, Flores e Faial

25 de Outubro de 2000. Às 10 horas, o "Golfinho Azul" largou do porto de S. Roque do Pico, rumo à Terceira. A ligação Pico – Terceira fazia 2 curtas escalas de 1 hora cada, nas ilhas de S. Jorge e Graciosa. A ilha de S. Jorge merecia uma visita mais alongada, mas limitámo-nos à escala na vila de Velas.
Adeus Pico, 25.10.2000
Na Graciosa ainda deu para um pequeno passeio ... e para saborear as famosas e deliciosas queijadas...
Depois ... continuemos a acompanhar as descrições dos então alunos Cristiana e Cláudio, para o site do Clube "Amigos da Natureza":

"O “Golfinho Azul” era um navio grande, que até tinha uma sala de cinema!! Um autêntico Titanic em miniatura, que nos transportou por alto mar. Durante a viagem houve tempo para tudo... dormir, jogar às cartas, dançar, ler, escrever... Instalámo-nos junto ao bar e foi-nos permitido colocar a música que quiséssemos, porque não estava mais ninguém naquela área!
Cerca das 18h30 chegámos ao porto de Praia da Vitória, na Terceira, onde 3 carrinhas nos esperavam para nos transportar para a Pousada da Juventude, no lugar de Negrito, em S. Mateus, próximo de Angra do Heroísmo. A Pousada era um autêntico hotel de 5 estrelas: camaratas espaçosas, casas de banho luxuosas,

Do Pico à Terceira, no "Golfinho Azul", e visita à Terceira, 25 e 26.10.2000
sala de estar confortável e um terraço com uma vista deslumbrante sobre o mar! Estar no terraço ao pôr-do-sol, com toda aquela mistura de cores, o céu avermelhado, os reflexos no mar agitado... Lindo! Após a instalação nos respectivos quartos, seguiu-se o jantar, depois do qual fomos (quase) todos até um pequeno bar junto ao mar, onde dançámos (até os professores demonstraram os seus dotes rítmicos, mais ou menos ágeis!), rimos e divertimo-nos imenso! Mas estava na hora de recolher e, como o dia tinha sido agitado, adormecemos depressa...

26.10 Quinta-feira. O despertar decorreu por volta das 7h30. Tomámos o pequeno almoço na Pousada e partimos nas carrinhas para uma visita à ilha Terceira. Inicialmente, dirigimo-nos ao Algar do Carvão, que pudemos visitar e não poderia ter sido mais magnífico! Não só pela gruta em si e todas as suas estruturas mas, sendo um algar, tinha uma abertura no topo da gruta que nos permitia ver a luz do dia. Mas não só. Por essa abertura, como tinha estado a chover, caíam gotas de água de uma forma tão particular que parecia em “câmara lenta”; mas infelizmente o tempo não pára... era apenas a altura que dava essa ilusão de óptica! Sonhar não custa...!
Daí, partimos para Biscoitos, onde visitámos o museu do vinho (e provámos!) e as magníficas piscinas naturais! Água límpida mesmo aos nossos pés!! Em seguida, fizemos uma pequena paragem num miradouro sobre a vila de Praia da Vitória, onde depois almoçámos na Escola Secundária de Vitorino Nemésio.
Depois do almoço, continuámos a nossa viagem, mas entretanto parámos numa Igreja, onde o Cláudio demonstrou os seus dotes de organista!! Continuação da visita pelas piscinas naturais (cada uma mais bonita que a anterior!), pela cidade de Angra do Heroísmo, Património Arquitectónico Mundial, e Monte Brasil, de onde se tem uma vista magnífica sobre Angra.
Chegados à Pousada, não resistimos e fomos tomar uma banhoca na pequena baía rochosa mesmo em frente. Até o professor Callixto nos acompanhou neste baptismo em águas açoreanas!
Chegou a hora da caminha e ninguém contestou... No dia seguinte o despertar seria mais cedo, uma vez que nos esperava mais uma viagem de avião... à descoberta de outra ilha!

27.10 - Sexta-feira. 7h15, hora de acordar, arrumar as últimas malas, tomar o pequeno-almoço e partir rumo

Ilha das Flores, 27 e 28.10.2000
ao aeroporto das Lages. Por volta das 10h20, partimos para a ilha das Flores (ilha mais ocidental dos Açores), com escala na Horta (1h30 de voo e 20 minutos de escala), dizendo adeus à Terceira, ilha que nos acolheu e nos mostrou alguns dos locais mais belos do mundo que conhecemos! Eram 12h15 quando aterrámos no aeroporto de Santa Cruz, onde nos esperava um autocarro da Câmara Municipal de Lajes das Flores. Alojámo-nos em instalações camarárias e... bem, é necessário descrever os nossos aposentos: basicamente, eram 2 salas pequenas, onde os 20 colchões (sim, é verdade, faltava um colchão, mas como éramos um grupo de pessoas elegantes, lá nos juntámos mais e todos tiveram direito a um bocadinho de colchão!), todos juntinhos e semelhantes aos de Madalena do Pico, só que cobriam completamente o chão, havia apenas uma casa de banho; as malas foram colocadas, em pilha, junto
Admirando as maravilhas
naturais das Flores, 27.10.2000
às janelas, atrás das portas e no corredor minúsculo que dava para a casa de banho, o qual também servia de vestiário quando a casa de banho estava ocupada! Realmente, uma casa acolhedora, com instalações multiusos...!!
Almoçámos num restaurante na vila das Lages e partimos para uma visita à ilha, de acordo com programa estabelecido pela Câmara Municipal. Visitámos as famosas Lagoas das Flores, como a Lagoa Rasa, por exemplo. Cenários verdadeiramente espectaculares, de uma beleza incrível e indescritível! Olhávamos à volta e os nossos olhos só alcançavam o verde das colinas e o azul das águas... os mais diversos tons de verde e azul, sempre misturados, numa conjugação perfeita e harmoniosa!! (....)
As lagoas e as cascatas naturais são uma constante na ilha das Flores, caracterizada pela sua natureza selvagem e de destacar o curioso fenómeno geológico da Rocha dos Bordões. Visitámos ainda a Fajãzinha e a Fajã Grande, o ponto mais ocidental da Europa.
De regresso às Lages, jantámos e, depois de darmos um passeio pela vila (que é muito pequena), reunimo-nos todos (excepto os professores) no porto. Até aqui tudo bem, só que não estávamos propriamente sentadinhos, mas sim todos deitados no chão, uns em cima dos outros, literalmente! Sempre dava para aquecer (apesar de não estar assim tanto frio!) e ver as estrelas!! Ao voltar para as nossas “instalações maravilha”, ainda ficámos algum tempo a conversar no exterior, antes de entrar e recolher aos lençóis (sim, porque desta vez tínhamos lençóis! Uma conquista!...

28.10 - Sábado. Neste dia o despertar ocorreu por volta das 7h30. Depois do pequeno-almoço (....), visitámos alguns pontos emblemáticos da ilha, alguns miradouros e até conseguimos avistar a ilha do Corvo (onde não pudemos ir, pois os 14 lugares existentes no avião não chegavam para todos!). Cerca das 12h30 regressámos ao aeroporto de Santa Cruz das Flores (....) 50 minutos depois chegámos ao aeroporto do Faial, a última ilha que iríamos visitar, onde nos esperava um autocarro da Câmara da Horta. Por volta das 15 horas chegámos à cidade e instalámo-nos nos quartos da Residencial “S. Francisco”, no centro da cidade.

Na área desértica dos Capelinhos, 29.10.2000
No resto da tarde visitámos a Horta e, como não poderia deixar de ser, com um tempo excelente, fomos à praia de Porto Pim, uma baía calma, de água límpida e areia muito escura (....)

29.10 - Domingo. Às 7h30 foi o despertar geral e, após um requintado pequeno-almoço na Residencial, partimos de autocarro para uma visita à ilha do Faial. Inicialmente, fizemos uma pequena paragem no miradouro de Espalamaca, onde se tem uma vista magnífica sobre toda a cidade da Horta e as praias. Parámos ainda junto de alguns moinhos de vento bastante pitorescos que denotam a presença holandesa na ilha. A nossa próxima paragem foi na Caldeira do Faial, cratera enorme, uma imensidão de verde que, noutros tempos, devia ter sido palco de cenários bastante mais aterrorizantes, mas simultaneamente belos!
Em seguida, rumámos ao conhecido vulcão dos Capelinhos, onde encontrámos uma paisagem completamente diferente daquela a que estávamos habituados desde que tinhamos chegado a terras açoreanas: um solo árido, sem vegetação; uma paisagem agreste e seca que simboliza a terra “morta”! O solo era cinza autêntica e foi com algum esforço que chegámos ao ponto mais alto. O que dali podíamos avistar não poderia ser mais peculiar: uma terra seca e, lá em baixo, o mar azul, límpido, tentando ganhar terreno, batendo violentamente nas rochas... Impressionante!!

Ilha do Faial ... e regresso, 28 a 30.10.2000
Após mais esta aventura, regressámos ao autocarro e, a caminho da cidade da Horta, ainda parámos num parque para nos refrescarmos e onde encontrámos uns amiguinhos muito simpáticos! Numa cerca, estavam vários gamos; uns descansavam, outros brincavam, mas os mais espertos dirigiram-se até nós porque já sabiam que “turistas dão-nos sempre comidinha boa!”! E assim foi, através das redes lá lhes demos uns petiscos acompanhados de alguns mimos!
Na descida para a Horta, parámos para almoçar numa Pizzaria, seguimos a pé até ao centro da cidade, voltámos a visitar a praia de Porto Pim (mas desta vez sem banhoca!) e passeámos pelas ruas da cidade. De novo na Residencial, fomos informados que o resto da tarde, noite e manhã do dia seguinte era por nossa conta. Assim, aproveitámos para fazer compras, jantámos no Clube Naval, ainda passeámos um pouco, mas como num Domingo à noite está tudo fechado, voltámos para a Residencial mais cedo que o previsto e ficámos na sala a ver televisão, até o sono nos vencer...

E fomos notícia de jornal, na Horta!
Adeus Pico ... Adeus Açores! 30.10.2000
                         
30.10 - Segunda-feira. O despertar foi um pouco mais tardio porque não havia grandes planos para a manhã. Depois do pequeno-almoço, fizemos as últimas compras, visitámos o famoso Peter e ultimámos as arrumações da bagagem. Às 12 horas partimos de autocarro para o aeroporto e procedeu-se ao despacho das bagagens. Cerca das 13h40 partimos para S. Miguel, onde chegámos aproximadamente 1 hora depois. Como também não havia grandes planos para a ocupação desta tarde, apenas combinámos uma hora para nos encontrarmos no final do dia. Assim, almoçámos no Centro Comercial de Ponta Delgada, fizemos mais umas compras; enquanto uns foram ao cinema, outros ficaram junto ao mar a conversar, ouvir música, ou apenas a descansar o olhar nas águas, pois seria a última vez que olhávamos para elas!
Cerca das 20 horas reunimo-nos todos no centro da cidade e fomos de táxi até ao aeroporto. A excitação presente aquando da ida estava completamente desvanecida, pois ninguém queria regressar!! Estávamos todos tão bem, rodeados de amigos, em terras lindas... Que mais poderíamos querer?! Mas a hora da partida aproximava-se...! Às 21h25 partimos rumo a Lisboa, num voo de 2h05. Chegámos ao nosso destino já no dia 31, devido à diferença horária. A vontade de ir recolher as bagagens era cada vez menor! Não queríamos que tudo terminasse assim, tão depressa!
O reencontro com as famílias não foi mais que uma grande despedida daqueles 10 dias no paraíso! Antes de abraçarmos os familiares, abraçávamos os amigos que tinham partilhado tudo connosco, sorrisos e tristezas (não muitas, felizmente!), divertimento, brincadeiras, emoções, e isso é impossível de transcrever! Assim, fica a imagem de um grupo muito unido, que passou 10 dias maravilhosos, num autêntico paraíso!

                         

E desta viagem ficaram mais uma vez as imagens ... e os testemunhos, para memórias futuras...

“As recordações não são só para serem relembradas, mas também para serem revividas.”
Margarida Rodrigues

“Foram 10 dias espectaculares, num mundo misturado de verde e azul ... Queria agradecer aos “setores” por terem organizado esta viagem e por terem agido como nossos amigos.”
Mónia Nakamura

“Há certas coisas que por serem tão maravilhosas se tornam impossíveis de descrever; esta viagem foi uma delas.”
Susana Marques
6 de Maio de 2011

quarta-feira, 25 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (2): quando subo pela 2ª vez a montanha do Pico

24 de Outubro de 2000. Estamos em Madalena do Pico, preparados para a grande "aventura" da subida à montanha. Pela minha parte, era a segunda vez que a subia ... depois de 4 anos antes o ter feito também com alunos. Agora é o Cláudio Gonçalves, então aluno, a descrevê-la para o Clube "Amigos da Natureza":

"Às 7h45 lá partimos, cheios de ansiedade, rumo ao local onde se ia iniciar a grande aventura da viagem: a escalada ao Pico! Quando chegámos ao sopé do Pico, abandonámos o autocarro, que logo deu meia volta, regressando a Madalena do Pico, e que só nos viria buscar no fim da aventura. Fomos então ao encontro do nosso guia, o Joaquim Nené, que tinha vindo no seu próprio carro. A euforia e a adrenalina eram bastantes, porque o nevoeiro matinal teimava em não levantar, impossibilitando que conseguíssemos um contacto visual com o cimo do Pico, para podermos fazer uma estimativa do percurso que estávamos prestes a iniciar. Terminadas as últimas instruções e trocadas palavras de encorajamento, começámos a nossa escalada por aquilo que se chama um "caminho de cabras". O caminho era escorregadio, pois por entre a terra húmida existiam "paletes" de musgo encharcado pelo orvalho da manhã. Muitos arbustos ladeavam o pequeno trilho, não nos deixando alternativas de percurso. Depois de pouco andarmos, chegámos a umas elevações que pareciam pequenas montanhas e que foram facilmente identificados como cones secundários. Um deles permitia que se entrasse e, lá dentro, lugar onde nem todos foram, sob a protecção de um muro edificado pela mão humana, podia-se apreciar uma grande fenda escura e húmida, com plantas nas suas paredes. A escalada continuou e o caminho foi-se tornando mais íngreme, mas ao mesmo tempo mais livre, porque à medida que subíamos os arbustos iam rareando, deixando-nos a possibilidade de fugir um pouco ao caminho seguido pelo guia e, dentro do possível, sermos como pioneiros, inaugurando um novo trilho para alcançar o topo do Pico."

Foi por esta altura que se deram as primeiras desistências, tal como tinha acontecido 4 anos antes. Mas continuemos a acompanhar a descrição:

"O resto do grupo, agora mais pequeno, prosseguiu a viagem mais apreensivo e consciente do perigo. À medida que subíamos,  repetíamos tentativas frustradas de avistar a paisagem  encoberta  por  "resmas"  de
Subida à montanha do Pico, 24.10.2000
"nuvens que, além de não nos deixarem aproveitar a vista panorâmica da ilha, nos banhavam com salpicos quando as atravessávamos. No entanto, por pequenas abertas entre as nuvens, era possível vislumbrar campos cultivados, pedaços da costa onde se notava a zona da rebentação das ondas e alguns pequenos cones como os que tínhamos visto de perto lá em baixo. Aquela não era definitivamente uma simples neblina matinal. Finalmente alcançámos a nossa primeira meta, estávamos a 2280m de altitude, na borda da cratera do Pico. A cratera era enorme, de forma circular, e bastante funda, com cerca de 80m de altura, da qual irrompia o Piquinho, ao qual estávamos destinados a chegar. Perante esta magnificente "miragem", resolvemos parar para almoçar e assim juntar o útil ao agradável, pois ao mesmo tempo que enchíamos a barriga aliviávamos o peso das mochilas.
Como não podia deixar de ser, as nossas fieis perseguidoras (as nuvens) acharam que era também uma altura propícia para aliviar a carga e, para mal dos nossos pecados, começou a chover. Aconchegámo-nos todos na tentativa de nos protegermos daquela chuva persistente, que era tocada pelo vento, mas de nada adiantou. E assim, terminada a refeição, o grupo prosseguiu, deixando mais uma jogadora do nosso “plantel” naquele local, que por si só era prémio suficiente de uma escalada ao Pico, a descansar do percurso já feito e à espera de dar umas boas risadas à custa dos nossos tropeções na última e mais difícil etapa da escalada. Descemos até à cratera por um caminho íngreme e iniciámos a subida ao Piquinho. Esta subida foi muito difícil, porque as pedras estavam soltas e à medida que um subia ia deixando atrás de si uma chuva de calhaus para os outros.

No Piquinho (2351m alt.), 24.10.2000
Após muitas escorregadelas, chegámos enfim ao ponto mais alto de Portugal (2351 m de altitude). Olhámos em volta e não pudemos deixar de nos sentir bem e satisfeitos, pois apesar de as nuvens nos impossibilitarem uma panorâmica da ilha, proporcionavam-nos um espectáculo igualmente belo. Tudo abaixo de nós era branco, só com uns farrapos de azul do mar, e, acima de nós, o céu estava limpo e o sol brilhava, despertando arco-íris pela cratera. Depois de muitas fotografias e muitos risos de alegria, voltámos pelo mesmo caminho até ao local onde antes tínhamos estado a almoçar. Pegámos nas mochilas que aí tinham ficado e começámos a grande descida do Pico, que era talvez mais perigosa mas mais divertida, pois o esforço era menor e sempre podíamos dar uma corridinha de vez em quando e uns espalhos engraçados, sempre sem nos afastarmos muito do Nené (o nosso guia), pois o nevoeiro veio para ficar e não nos podíamos perder.


Quando chegámos ao sopé do Pico, o autocarro ainda não tinha chegado. O Nené levou no seu carro alguns de nós que se tinham lesionado e todo o resto do grupo seguiu a pé estrada fora, conversando, contando anedotas e ouvindo histórias que os "profs" tinham para contar. Já nem a chuva que caía nos perturbava, tínhamos conseguido o nosso objectivo. Por fim apareceu o autocarro, entrámos todos molhados como uns pintos e sentámo-nos confortavelmente como nunca tínhamos estado nas últimas horas. Eram então 16h45 e estávamos de volta a Madalena do Pico, cansados mas realizados, por termos conseguido enfrentar um desafio, com a companhia e a ajuda sempre agradavelmente presente dos nossos amigos e dos nossos professores (que também são, sem dúvida, nossos amigos)! Quando regressámos, e após uma banhoca reconfortante no Quartel dos Bombeiros, que ficava mesmo em frente às nossas instalações (porque não se podia tomar banho nos nossos balneários...), seguiu-se o jantar no mesmo restaurante do dia anterior. À entrada do restaurante, a luz não era muita e como não havia nuvens, fomos brindados com um céu no mínimo espectacular! Dava a sensação de que se estendêssemos um pouco mais o braço poderíamos tocar nas estrelas, porque elas estavam ali para nós!!
Como era a nossa última noite naquela ilha, os professores permitiram uma pequena escapadela às horas, ou seja, fomos divertir-nos para um barzinho junto ao mar, onde dançámos, rimos, brincámos... Chegámos aos nossos confortáveis aposentos e quando chegou a hora do recolher, as melgas voltaram ao ataque, o calor também (porque para não entrarem mais melgas “kamikazes”, fecharam-se as janelas, o que tornou o ambiente mais abafado), e, claro, o nosso lindo “coro” privativo!! Até houve pessoas que preferiram ir dormir para o átrio do que enfrentar toda aquela cena de filme, com aviadores, climas quentes e banda sonora (?!) !!

25.10 - Quarta-feira. 7h30... hora de despertar, fazer as últimas arrumações e partir rumo a S. Roque, onde tomámos o pequeno-almoço e onde nos esperava o navio “Golfinho Azul”, para uma aventura marítima até à ilha Terceira!
6 de Maio de 2011

terça-feira, 24 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (1): S. Miguel e Pico

Em Setembro de 2000, inicia-se um ano lectivo que entrará no novo milénio. E, com ele, os alunos que haviam vivido a semana mágica de Somiedo e dos valles del oso, estavam no 12º ano. Embora apenas com um grupo mais restrito ... os Açores esperavam por nós. Dois professores "batidos" e duas professoras "estreantes" nestas andanças, 17 alunos, 7 das 9 ilhas açoreanas percorridas! Embora S. Jorge e a Graciosa apenas com uma pequena escala, de resto só não fomos a Santa Maria e ao Corvo, a esta última pela simples razão ... de que não cabíamos todos no avião...J
Deixemo-nos levar pelas descrições da Cristiana Franco, então aluna, escritas em Novembro de 2000 para o site do Clube "Amigos da Natureza":

"Aeroporto de Lisboa, 21 de Outubro, 5 horas da manhã. A noite estava estrelada, como que a dar um toque de magia ao começo da viagem, que se esperava inesquecível (no mínimo). Aos poucos, a zona das partidas ia ficando mais composta, com alunos, professores e famílias... Sim, porque os papás, as mamãs, os manos, as manas e até os filhos deslocaram-se ao aeroporto para se despedirem e desejarem boa viagem. (....) A conversa era mais que muita, uns para disfarçar o sono, outros para controlar a ansiedade e outros ainda, para conter o nervosismo da viagem de avião. (....) Finalmente, por volta das 8 horas (hora local), o avião aterrou em terras açoreanas – Aeroporto João Paulo II, Ponta Delgada, ilha de S. Miguel.
Sobre a Lagoa das Sete Cidades, 21.10.2000
Depois da recolha das malas (uff, chegaram todas!), partimos de autocarro a caminho do centro da cidade, mais propriamente da Pousada de Juventude de Ponta Delgada, que nos iria acolher nas 2 noites seguintes. Assim que lá chegámos, colocámos as malas numa sala e partimos à descoberta da ilha. Um dos primeiros sítios visitados foi a famosa Lagoa das Sete Cidades. Primeiro, do alto de uma colina, estávamos novamente sobre as nuvens, com a lagoa aos nossos pés, mas desta vez em chão firme. As fotografias não poderiam faltar, como faltam as palavras para descrever a paisagem... Todos queriam registar cada momento, cada paisagem, cada pormenor... Ficarmos com uma recordação de tudo aquilo, para além das que ficarão para sempre gravadas nos nossos corações!
Bom, após as primeiras impressões, descemos até junto das lagoas... Sim, é verdade que uma é azul e a outra verde... Tentámos encontrar uma explicação lógica, mas a beleza era tão grande que preferimos imaginar, sonhar, inventar explicações sem nexo, mas que fizessem perdurar a magia... Uma magia que só existe nalguns sítios e que só algumas pessoas as conseguem ver! Porquê?! Bem, porque o paraíso é onde nos sentimos bem e abrimos o nosso coração para o que a vida tem de mais puro... Logo, estávamos perante uma paisagem idílica, que fotografávamos com os olhos e tentávamos captar fragmentos da sua beleza numa máquina... O que nós não sabíamos, era que essa sensação se iria repetir por muito mais vezes ao longo daqueles 10 dias... Quando a fome apertou, encontrámos um local simpático e fomos retirando das mochilas os petiscos que as “mamãs” carinhosamente tinham preparado para que os seus meninos se alimentassem bem fora de casa (ou seja, comida a mais!).

Almoço junto às Sete Cidades, 21.10.2000
Em seguida, de novo no autocarro, rumámos a uma praia como nunca tínhamos visto... Água muito azul, alguma ondulação... Até aqui tudo normal... Só que a areia era muito escura, quase preta! Estranho?! Nem por isso! Natural em ilhas vulcânicas, como é o caso de todo o arquipélago. Após esta pequena paragem, seguimos rumo a Ponta Delgada, fazendo ainda outras paragens em pontos mais ou menos emblemáticos, mas sempre deslumbrantes, como por exemplo, falésias arrepiantes onde, se nos abstraíssemos de tudo o resto, parecia que flutuávamos por cima daquela água transparente!
Chegados à Pousada, procedemos à distribuição dos quartos, arrumámos as malas e visitámos a cidade de Ponta Delgada (onde se destacam as famosas Portas da Cidade) (....) Como ainda era cedo (e o sono ainda estava escondido pela excitação do dia), alguns ficaram em frente à Pousada, num muro não muito confortável, mas que se torna um dos melhores sítios do mundo, quando se está em boa companhia, e a conversa surgiu... Uns diziam como tinham gostado do dia, outros já acusavam o cansaço, e outros diziam que iriam ter muitas saudades dos mimos das mães!...

Visita à ilha de S. Miguel, 21 a 23.10.2000

22.10 - Domingo. Por volta das 7 horas, o professor Callixto encarregou-se do nosso despertar (como já é habitual nestas viagens). O dia amanheceu tristonho mas nem isso desanimou o grupo, que já tinha recuperado as forças e estava preparado para mais um dia de descobertas! O pequeno almoço foi tomado na Pousada e em seguida partimos de autocarro para uma visita à parte oriental da ilha de S. Miguel.
A primeira paragem foi num local bastante peculiar... Deparámo-nos com uma cascata e uma pequena lagoa
"(Caldeira Velha)" , só que o cenário era deveras especial porque a água, para além de estar a ferver, apresentava uma coloração acastanhada e um cheiro não muito agradável (devido ao enxofre). A própria terra em redor da lagoa estava quente e em pequenos orifícios podia observar-se lama a borbulhar. Este foi o nosso primeiro contacto com a realidade de que a terra é um sistema vivo, em constante renovação e actividade! Seguidamente, partimos para um local de onde se poderia observar a Lagoa do Fogo... Só que quando lá chegámos, o cenário não era dos mais favoráveis, ou seja, encontrámos um nevoeiro cerrado que não nos permitia ver um palmo à frente dos nossos narizes curiosos!! Daí, um pouco desiludidos, partimos à descoberta de alguns miradouros e das suas vistas impressionantes (é quase indiscritível a beleza das paisagens que vimos... Um misto de verde e azul, com algum casario e uma imensidão de água, que tanto pode parecer um lençol calmo, como uma criança endiabrada!). A visita à vila de Ribeira Grande permitiu-nos ter um contacto mais próximo com os habitantes daquela zona, mas também nos proporcionou estar num local que, no Inverno, quando algumas tempestades assolam aquela área, tudo aquilo fica inundado e destruído.
Depois dessa pequena visita, dirigimo-nos para o vale e caldeiras das Furnas. Aí, e com a Lagoa das Furnas como cenário, observámos a forma como o típico cozido das Furnas é cozinhado, em pleno solo vulcânico. Também aqui o calor era mais que muito e o próprio chão fervilhava, tal a actividade que percorria o subsolo, bem debaixo dos nossos pés. O estômago já acusava a falta de alimento e rumámos à vila das Furnas, onde almoçámos o célebre cozido. Opiniões?! Bem, uns gostaram muito, outros acharam picante, outros nem por isso... Enfim, foi uma experiência nova!
A parte da tarde foi preenchida com a visita a mais alguns miradouros (como o miradouro de Stª. Iria) e a Cascata dos Caldeirões, que nos proporcionou mais uma visão que se ía tornando habitual aos nossos olhos: água translúcida que parecia mergulhar numa imensidão de verde!
Chegados à Pousada, e após algum descanso, a próxima paragem seria nas Instalações Militares de S. Gonçalo, onde o jantar esperava por nós. A noite decorreu de forma semelhante à do dia anterior. (....) no dia seguinte partiríamos para outra ilha...

23.10 - Segunda-feira. 6 horas da manhã... O habitual despertar do professor Callixto (....). Por volta das 7h30 partimos de táxi até ao aeroporto de Ponta Delgada, a fim de embarcarmos rumo à ilha do Pico, o nosso próximo destino. Cerca das 9 horas o avião descolou e uma hora depois aterrámos em Santa Luzia, no aeroporto do Pico. (....) Quando o autocarro finalmente chegou, qual não foi o nosso espanto quando constatámos que a carrinha não tinha porta bagagens!! Resultado: éramos 21, numa carrinha com 19 lugares, o corredor atravancado com malas, bagagens nos bancos e pessoas sentadas em cima... Foi uma aventura!! Primeiro entraram uns quantos para a parte de trás da carrinha, em seguida começaram a entrar malas que iam sendo literalmente atiradas e empurradas umas por cima das outras, e os últimos a entrar tinham que pedir licença às malas!!

Ilha do Pico, 21 a 23.10.2000
Chegados a Madalena do Pico, a aventura continuou! (....) As instalações eram, no mínimo, curiosas... As famosas instalações do Futebol Clube de Madalena do Pico eram constituídas por um edifício de 2 andares, fachada normalíssima, átrio onde começavam as escadas e 2 corredores. No 1º andar ficavam os nossos aposentos que eram, nada mais nada menos, que uma sala, com mesas e cadeiras encostadas às paredes e uma mesa de “snooker” no meio. No rés-do-chão encontravam-se os balneários do Clube que, para se falar com sinceridade, não estavam nas melhores condições... Até aqui tudo bem, mas uma pergunta começava a dominar as nossas mentes: “onde vamos dormir?!” Todos tinham levado sacos-cama, mas não serviam para dormir directamente no chão!! Pois era... Essa foi uma ideia que se alojou em nós durante todo o dia... Tentávamos encontrar soluções minimamente viáveis mas nada... Restou-nos esperar!
Depois de deixarmos as bagagens nas nossas “suites”, dirigimo-nos à Escola Secundária Cardeal Costa Nunes, onde almoçámos na cantina, juntamente com os alunos, que nos olhavam de forma intrigada (ou parecíamos extraterrestres, ou então já éramos famosos!). Findo o almoço, partimos de autocarro para uma visita de volta à ilha do Pico, com passagem por S. Roque (onde existem as antigas instalações para onde se transportavam as baleias pescadas), na costa norte, e Lages, na costa sul, onde se destaca o Museu dos Baleeiros, onde se podem encontrar instrumentos da pesca à baleia, bem como pinturas emblemáticas em ossos de baleia, entre outros.

Objectivo ... a montanha do Pico, 23.10.2000
Após a visita à ilha, regressámos às nossas instalações e demos um pequeno passeio pela Madalena do Pico, uma vila pequenina, mas muito acolhedora. Do seu porto é possível observar-se a ilha do Faial, mesmo em frente e a cidade da Horta que, de barco, dista cerca de 25 minutos do sítio onde nos encontrávamos. Ainda durante este pequeno passeio, compraram-se os almoços para o dia seguinte, que, para a maioria, iria ser passado na montanha. Seguiu-se o jantar num restaurante da vila e uma conversa com o guia de montanha sobre o dia seguinte.
Com todas estas visitas, tínhamo-nos esquecido de algo importante: os colchões!! Eram 22 horas, estávamos quase todos à porta dos nossos aposentos, o professor Callixto já tinha contactado várias pessoas a fim de saber o que se passava... E eis que chega uma carrinha de caixa aberta com as nossas caminhas!! Colchões com cerca de 6 cm de espessura mas que para o nosso cansaço seriam as melhores camas de sempre! Apressámo-nos a transportá-los, arrumámo-los todos juntos uns aos outros, numa ponta da sala, preparámos o almoço para o dia seguinte, apagámos as luzes e caminha (ou melhor, colchãozinho!)! Durante a noite, não se pode dizer que todos tenham dormido muito... As melgas invadiram o salão! Era verem-se braços no ar, cabeças tapadas com os sacos-cama, mãos a perseguir zumbidos... Mas não era só isso... Algumas pessoas tinham um sono um pouco mais sonoro, formando um desafinado coro não muito agradável a ouvidos mais sensíveis, principalmente durante a noite!!

24.10 - Terça-feira. Acordámos por volta das 7 horas e foi nessa altura que se tornaram visíveis os ataques dos nossos inimigos voadores! Todos vermelhos e inchados, tal foi o banquete!! As meninas que não se aventuraram ainda ficaram mais um bocadinho no quentinho, enquanto viam a azáfama de todos os outros, a ultimarem os preparativos.
"

Os preparativos de que fala a Cristiana eram, obviamente, para a grande "aventura" da subida ao Pico do Pico! Pela minha parte, ia subir pela segunda vez à montanha mais alta de Portugal ... ambas as vezes em actividades com alunos...J
5 de Maio de 2011