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quinta-feira, 6 de novembro de 2003

O princípio do fim do "meu" Ensino...

Recuemos uns meses no tempo, em relação ao post anterior. O ano lectivo de 2003 / 2004 havia-se iniciado em Setembro. A 6 de Novembro, levei os meus alunos ao novo Monumento Natural das Pegadas de
Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios,
Serra d'Aire, 6.11.2003
Dinossáurios da Serra d'Aire  (vulgo  "Pedreira  do  Galinha"), que não conhecia. Encontrei ali um excelente centro educativo e de interpretação, de que os alunos nitidamente gostaram. Alguns destes alunos eram ainda do grupo que viveu as aventuras da Madeira e anteriores, que infelizmente ainda tinham tido de repetir disciplinas do 12º ano; outros ... eram novos alunos.
Continuando a nunca ter tido, como em toda a minha carreira, problemas disciplinares dignos de registo, os novos alunos que me foram surgindo neste ano e nos seguintes ... eram diferentes. Nas posturas, nas relações de convívio e amizades, nos interesses ... ou, infelizmente, na falta deles. Aulas fora da escola?... Dias fora de casa?... Enquanto que várias vezes nos acontecera ter de
No trilho dos dinossáurios, 6.11.2003
gerir inscrições em  excesso  para  as  "aventuras" vividas ... no ano de 2003 / 2004 e nos seguintes confrontámo-nos com meia dúzia de inscrições para qualquer projecto que fosse.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" ... mas começavam-se a deixar de sentir vontades. "Todo o mundo é composto de mudança" ... mas à mudança dos alunos - e mais grave do que essa - somava-se a mudança do conceito de Escola e de Ensino, a burocratização das tarefas lectivas, a transformação de curricula e de programas ... em "flores" para preencher estatísticas.
Se não acompanharam de algum modo a "evolução" do Ensino, os meus alunos do "antigamente" - e muitos têm acompanhado este blog - ficam estupefactos, ao compararem os programas actuais com aqueles que lhes ensinei, particularmente no caso da Biologia do 12º ano! Não vou alongar muito este post, já que o âmbito do blog não é o sistema de ensino ... e muito menos a política e os políticos que o instituem. Mas muito do meu trabalho como professor das Ciências da Vida e muitos dos meus "instantâneos de ar livre", foram vividos com e para os meus alunos ... que comigo aprenderam a lidar com a Natureza, a respeitá-la, a amá-la. Muitos desses meus ex-alunos seguiram carreiras de algum modo ligadas à Natureza, às Ciências da Vida. Alguns são professores. Alguns ... são biólogos! A paixão e os ensinamentos do meu velho Professor Ribau tinham criado raízes bem fortes. Mas o ano lectivo de 2003 / 2004 marcaria efectivamente o princípio do fim do "meu" Ensino, do Ensino como eu o conhecera, da Escola como eu a conhecera e vivia, da Escola que ia muito para além das paredes da escola! Nos anos que se seguiram, não foi apenas a falta de interesses a responsável por uma desmotivação crescente. Sucessivas reformas, políticas educativas aberrantes, sistemas de avaliação de carreira completamente desligados da realidade ... e a desmotivação e o desalento instalaram-se na maioria dos professores que toda a vida se tinham dedicado ao ensino e aos alunos, com abnegação e dedicação, dedicando-lhes horas que nunca contabilizaram, muito para além de qualquer horário. Da profissão abraçada por paixão, das aulas, dos materiais pedagógicos e das actividades preparadas com carinho e alento, passei gradualmente a não gostar sequer das aulas que dava, senti-me cada vez mais a "encher pneus", a cumprir programas e tarefas burocráticas, a tentar vencer fragas que viraram pragas, num ensino que não era o meu, numa escola que não era a minha, numa escola transformada em campo de trabalhos forçados ... e de trabalhos forçados inúteis.
Citando o sentido comentário que o meu amigo e colega de História - co-organizador e colaborador de tantas "aventuras" com alunos - deixou no post relativo à viagem à Madeira ... "2003 até já parece ser «a pré-história da nossa existência»! ". E 'Ensino' passou a ser "uma palavra cada vez mais vazia de significado" ... ditando assim o princípio do fim do "meu" Ensino. A possibilidade de "saltar do barco" só surgiu 4 anos depois, mas não pensei duas vezes ... antes que a paixão se transformasse em ódio. A minha parceira seguiu-me o exemplo... Hoje, se fosse obrigado a lá estar ... teria medo de mim próprio...
Aqui fica o meu sincero e reconhecido obrigado a todos os que comigo construíram e viveram o "meu" Ensino, professores e alunos, amigos, uns e outros, que perduraram e perduram, muito para além das paredes de uma escola! Bem hajam!
 
9 de Junho de 2011

domingo, 21 de setembro de 2003

Da Lousã à Gardunha ... nos caminhos da transumância

A primeira actividade da época 2003 / 2004, nos Caminheiros Gaspar Correia, foram duas espectaculares caminhadas na Serra da Lousã, organizadas por um lousanense veterano do Grupo, no fim de semana de 12 a 14 de Setembro. E nesta actividade ... já éramos 3 os caminheiros do meu "clã": o nosso herdeiro mais velho resolveu participar também. Mas este fim de semana ficou marcado pelo calor abrasador, que em muito dificultou as caminhadas.
Sábado começámos no Coentral, aldeia encravada no sopé sul da serra, subindo a íngreme encosta até ao geodésico da Neve e ao Santo António da Neve, a 1193 metros de altitude. Junto aos velhos neveiros, foi o local escolhido para o almoço ... e para umas práticas misteriosas, como se pode ver no vídeo...J. Depois foi a descida para a típica aldeia de Povorais, a que se seguiria a subida aos míticos Penedos de Góis. À hora de maior calor, esta subida provocou algumas "baixas", felizmente sem consequências de maior. E o esforço foi bem recompensado pela "conquista" daquela agreste linha de cumes rochosos, da qual descemos para a aldeia da Pena ... e para um óptimo e retemperador banho, nas águas límpidas da Ribeira de Pena. Tínhamos feito cerca de 15 km.


No dia seguinte, a caminhada era a das aldeias do xisto da Serra da Lousã. Começámos na EN 236, descendo para as primeiras aldeias, Catarredor e Vaqueirinho. Com belas casas de telhados de xisto, estas aldeias têm-se mantido muito na sequência da vinda de estrangeiros, principalmente holandeses e alemães, à procura do nosso ar puro e das nossas tradições.
Seguiu-se Talasnal e Casal Novo ... onde nos esperava um espectacular e rústico almoço de chanfana, antes da descida final para a Senhora da Piedade, já sobre a vila da Lousã, onde as piscinas na ribeira foram, mais uma vez, local de retemperadores e divertidos banhos ... antes do regresso a Lisboa.
Coentral - Penedos de Góis - Pena, 13.09.2003
Aldeias do xisto, 14.09.2003
Nesse domingo à noite, 14 de Setembro de 2003 ... despedimo-nos da nossa autocaravana. Ao longo de 9 anos, ela tinha-nos proporcionado "aventuras" gratificantes, tinha-nos levado por serras, vales e paisagens de sonho, da nossa Ibéria aos Alpes, à costa selvagem da Irlanda, ao fim da Escócia. Mas tudo tem o seu tempo e o seu lugar no grande livro da vida. Sem programações sobre se viria a ter ou não alguma "sucessora", tínhamos decidido vendê-la ... e vimo-la partir pouco depois de chegarmos do fim de semana por terras da Lousã.

Ainda em Setembro, no fim de semana seguinte, 19 a 21, voltamos a Alpedrinha.  Um  fim  de  semana  em
Descamisando o milho, Alpedrinha, 19.09.2003
Alpedrinha já era habitual, no habitual convívio com grandes amigos ... mas desta vez íamos participar no Festival dos Caminhos da Transumância, ou dos Chocalhos. As ruas e os ares de Alpedrinha enchem-se de gente e de tradições, como o descamisar do milho nas ruas da vila, o folclore, as tasquinhas. No domingo, o atractivo principal é a chegada do rebanho transumante, descendo a serra pela calçada romana, ao som dos chocalhos e do chamamento dos pastores, repetindo uma prática com séculos de história.

Pelas tasquinhas de Alpedrinha, 20.09.2003
Em 2005 e 2009, voltaríamos a participar nos Chocalhos ... com o nosso Grupo de Caminheiros.
 
6 de Junho de 2011

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Nas arribes do Douro internacional ... em vésperas de meio século!

De 26 de Julho a 3 de Agosto de 2003, entre as duas intensas estadias em Vale de Espinho descritas no anterior post, pegámos na autocaravana para uma digressão pelo Douro internacional, as arribes del Duero. Começámos por Barca d'Alva, onde o Águeda se lança no Douro. Curiosamente, o Águeda e o Côa são rios irmãos, nascendo a pouco mais de 1 km um do outro, em vertentes opostas da mesma Serra das Mesas, correndo por países diferentes, até se verterem ambos no grande Douro.
Por Saucelle, fizemos alto no Camping "Balcón de las Arribes", em Pereña de la Ribera, onde passámos 3 dias de descanso, admirando belas perspectivas sobre o Douro ... e de caminhadas. No dia 28, sozinho, de bicicleta, desci ao Pozo de los Humos, no rio de las Huces, afluente da margem esquerda do Douro, a sudoeste de Pereña. E no dia seguinte desci igualmente ao Pozo Airón, no Arroyo de los Cuernos, a oeste da aldeia. Dois autênticos paraísos escondidos, nas arribes sobranceiras ao Douro. Duas sucessões de piscinas naturais, de cascatas, de verde e de frescura. A partir da meseta seca e quente, aqueles oásis pareciam saídos de um milagre da Natureza.


Pereña de la Ribera - Pozo de los Humus, 28.07.2003
Pereña de la Ribera - Pozo Airón, 29.07.2003
Depois, dia 30, rumámos a terras de Miranda, pela Bemposta e Freixiosa, ao longo dos múltiplos miradouros que se debruçam sobre o Douro. Em Miranda do Douro, fizemos o mini-cruzeiro ambiental que sobe o troço internacional a norte da cidade, apreciando as espectaculares paredes rochosas a pique sobre o rio e a vida da avifauna típica daquelas falésias abruptas.
Mas esta digressão a terras de Miranda teve como razão principal a participação no Festival Intercéltico de Sendim. Cada vez mais apaixonado pela música folk, popular, ou tradicional das comunidades do norte da Ibéria, de raízes celtas, o apelo do Intercéltico de Sendim, então na sua 4ª edição, tinha sido sempre grande desde que se iniciara, em 2000. Os 3 primeiros dias de Agosto foram, assim, de festa intercéltica ... da qual regressámos a Vale de Espinho, conforme já descrito no anterior post.
E no fim do mês migrámos de Vale de Espinho para Santa Cruz, onde este apaixonado pela vida ao ar livre ... iria completar meio século de existência ... reunindo meia centena de familiares e amigos ... entre os quais dois "velhos" companheiros do meu velho Passos Manuel, dos velhos tempos da Espeleologia e dos acampamentos, os únicos de que consegui encontrar rasto! Com muita pena minha, não consegui contacto com o meu velho professor Ribau, que hoje sei que nessa altura ainda estava entre nós...
 
4 de Junho de 2011

quarta-feira, 20 de agosto de 2003

Por trilhos e bredas da Malcata e das Mesas

No verão de 2003, a necessária catarse levou-nos a umas férias sediadas em Vale de Espinho. Acampámos a autocaravana à porta da tia que habitualmente nos dava guarida ... e de lá parti, a pé e de bicicleta, ao desbravar da Serra da Malcata, das Mesas, do Homem de Pedra. A comunhão com a serra dava-me paz, conversava com as águas, com o vento, com as perdizes fugidias ... com a memória de quem tinha trilhado aquelas bredas. Entre uma estadia no final de Julho e outra em Agosto - intervaladas por uma digressão a terras de Miranda - percorri cerca de 170 km, a pé e de bicicleta, pelas "minhas" terras raianas. E a melhor forma de catarse ... é sozinho. Sempre tive bom sentido de orientação, mas tinham entretanto chegado os tempos da navegação por GPS. Há pouco mais de um ano tinha comprado um aparelho Magellan, que já me havia acompanhado à Irlanda e nas primeiras caminhadas com os Caminheiros Gaspar Correia. Na internet, tinha também descoberto o OziExplorer, o software que ainda hoje considero ideal para o pedestrianismo. E tinha conseguido velhas cartas militares das  "minhas"  terras  raianas.  Uma  fase
Cabeço do Clérigo, a caminho de Valverde, 23.07.2003
interessantíssima do estudo dessas cartas foi a confrontação entre a toponímia nelas constante e a tradição oral para os nomes de tantos e tantos lugares que eu iria conhecer e desbravar.
Valverde del Fresno é a povoação espanhola mais próxima de Vale de Espinho ... e há muito que me chamava. Cruzar a raia, pelas velhas "bredas" do contrabando, ou dos tantos e tantos Valespinhenses que tinham olivais em Pesqueiro - o vale fértil para lá da raia - que conheciam os trilhos da serra como as suas mãos, era um apelo há muito sentido. Eu não conhecia ainda a maioria dos trilhos da serra ... mas no dia 23 de Julho parti bem cedo, a pé, para uma jornada que ultrapassaria os 34 km ... rumo a Valverde! O percurso foi o que, na carta, me pareceu mais directo, pela Quinta do Passarinho e Cabeço do Clérigo, onde me esperava a grande descida para o vale de Sobrero ... seguido da subida ao Muro Julian e Rascaderos, antes de descer para Valverde.
Regresso Valverde - Foios: a parede do Picoto, 23.07.2003
Um providencial tanque que virou piscina privativa,
antes de atacar o Picoto...J!
Os primeiros quase 6 km do regresso foram ao longo da estrada Valverde - Navasfrias, com panorâmicas cada vez mais espectaculares sobre Valverde e a planície estremenha, os vales de Corral Hidalgo e Sobrero e os extensos olivais de Pesqueiro,
Vale de Espinho - Valverde e regresso: 34 km, 23.07.2003
com a Marvana ao fundo. Mas depois, já por um estradão florestal a meia encosta ... tinha a impressionante parede do Picoto e Toriña à minha frente. Um providencial tanque de água límpida e fresca permitiu um bom e retemperador banho ... e depois "ataquei" o Picoto, em direcção ao geodésico da Pedra Monteira, na fronteira. Em pouco mais de 1,5 km ... subi 370m de desnível, dos 720m aos 1090m da Pedra Monteira ... onde descansei uns bons 15 a 20 minutos. Esta não tinha sido definitivamente a melhor opção de percurso ... particularmente no regresso...J! Mais tarde viria a ter conhecimento - e a conhecer in loco... - o percurso mais aconselhável de e para Valverde, pelo Piçarrão ... e para o qual me teria bastado continuar o estradão da vertente espanhola. Mas é assim que se aprende ... e que se conhece a Serra.
Dois dias depois estava a pegar na bicicleta para, em Quadrazais, me embrenhar na Malcata. Da aldeia de Malcata subi ao Alízio, e, de novo para leste, à Torre de vigia da Machoca. Tinha o vale do Côa aos meus pés, Sabugal e Quadrazais à vista. Ao longo da cumeada que separa a Beira Alta da Beira Baixa, passo o Barroco Branco, o Cabeço da Moura, o Passil, o Coxino. Já tenho Vale de Espinho à vista, e desço pela Quinta do Passarinho, por onde 2 dias antes tinha subido. 37 km feitos...
Depois de uma digressão às Arribas do Douro (próximo post) ... regressámos a Vale de Espinho. E a segunda quinzena de Agosto foi de um contínuo desbravar: pelo caminho de Castelo Velho e pelos Nheres (Linhares), subi ao sítio mais mítico e mágico: as Fontes Lares! Tinha conhecido aquele lugar mágico havia 30 anos, quando da minha primeira visita à minha "terra natal". Na altura, a casita rústica, o abrigo que pertencera à família, ainda estava de pé. Agora testemunhava a passagem do tempo, o abandono naquele ermo esquecido ... mas um ermo onde a água divina daquele oásis escondido continuava a brotar da terra, da nascente singela, como as gentes singelas que em tempos ali viviam e ali amavam. Contam velhas lendas perdidas no tempo e nas fragas que a menina raiana, que um dia me passou a acompanhar ... foi ali "feita". Junto às ruínas da casa e à pequena presa que guarda a água divina, o barroco "sagrado" parece igualmente transmitir energia telúrica ... ou talvez a energia do tempo e
Destino: Quinta do Major, 17.08.2003
da história, das ligações familiares àquele "altar sagrado".
Das Fontes Lares subi ao Cabeço Melhano, ao Homem de Pedra; com o Soito aos pés e a Guarda no horizonte, desci à Malhada Alta, cruzei os Urejais, desci à Có Pequena, ao Areeiro ... e estava em Vale de Espinho. Três dias depois, a 17 de Agosto, voltei à Quinta do Major, que tinha conhecido 7 anos antes. Pedalava agora ao longo da raia, com Pesqueiro bem lá no fundo, deixando para trás o morro dos Enamorados e a Escaleriña. É claro que muitos dos topónimos me intrigavam. Mais tarde viria a descobrir a origem de muitos deles, pela leitura, entre outros, do histórico "Caçadas aos Javalis", do velho Dr. Francisco Maria Manso, sob o pseudónimo de
O Bazágueda junto à Quinta do Major, 17.08.2003
Dr. Framar; por ele conheci igualmente algumas das lendas e segredos da Marvana, que reservarei para um futuro post. À beira do Bazágueda, a 620m de altitude, a Quinta do Major pode bem considerar-se o coração da Malcata. Ali já foi uma rica e grande propriedade, com história perdida nos tempos. Seguiu-se a penosa subida ao Cabeço do Pão e Vinho (outro curioso topónimo...) e ao geodésico dos Concelhos (de novo acima dos 1000m), para daí descer vertiginosamente à Ribeira da Meimoa e às margens da respectiva barragem. Mais um pouco ... e estava a entrar no Meimão, guarda avançada do concelho de Penamacor, Beira Baixa, onde nasceu a mãe da minha arraiana.
Ruínas da Quinta do Major, 17.08.2003
Ribeiro da Casinha, Quinta do Major, 17.08.2003
Faltava ... subir à Malcata e regressar a Vale de Espinho. Com quase 30 km a pedalar por "sobes e desces", a ladeira Meimão / Malcata foi penosa. Ao chegar a Malcata ... recorri aos serviços do meu júnior, para me lá ir buscar em 4 rodas, a mim e às duas rodas que transportava. Ficou o sentimento de culpa de o ter obrigado a deixar a capeia de Vale de Espinho, a que estava a assistir...L!
Quinta do Major e Meimão, 17.08.2003
Navegação por GPS, Agosto de 2003
Mas 2 dias depois ... já estava em demanda da nascente do Côa! Estrada para os Foios, desta vez é à Serra das Mesas que subo, pela Rodeira e rodeando o Cabeço dos Currais. Um estradão (hoje alcatroado) leva-me ao Lameirão dos Foios, planalto acima já dos 1100m. A carta assinala mais ou menos a nascente. Deixo a bicicleta, vou a pé à procura ... e encontro a nascente do "meu" rio, do "meu" Côa, entre 3 pequenas fragas! Hoje todo o local está diferente, sinalizado e facilmente acessível, mas em 2003 a nascente do Côa só era conhecida dos "eleitos", daqueles que a haviam descoberto...
Em demanda da nascente do Côa, 19.08.2003
Fragas singelas, águas divinas: nascente do Côa, 19.08.2003
O penedo redondo, Lameirão, 19.08.2003
Cabeço da Pedra Monteira, 19.08.2003
Do Lameirão segui para a raia. Queria acompanhar a cumeada, passar a Pedra Monteira - onde dias antes chegara meio exausto... - queria procurar o verdadeiro caminho de Valverde. E encontrei-o ... bem como às espectaculares panorâmicas para a vertente estremenha, que já no regresso de Valverde tinha percebido.  Lá  em  baixo,  numa
Piçarrão (Pizarrón), vertente espanhola, 19.08.2003
encosta, estavam também as Ellas, ou Eljas, a aldeia branca, onde se fala "lagarteiru". Nestas aldeias perdidas nos confins da Extremadura espanhola, paredes meias com as nossas Beiras, não se habla ... fala-se! Valverde du Fresnu, as Ellas e Sa Martin de Trevellu (S. Martín de Trevejo) têm uma Fala própria, que "num é castelhanu ni português", é uma fala específica de cada uma das três localidades, respectivamente o Valverdeiru, Lagarteiru e Manhegu.
E nos dois dias seguintes ... mais duas caminhadas, embora mais curtas: dia 20, à Cruz Alta e ao Cabeço do Canto da Ribeira, sobre o Côa. E no dia 21 ... volto à nascente do Côa, agora com a família. E da nascente do Côa subimos ao alto mesmo da Serra das Mesas, do lado de lá da raia, a 1256 metros de altitude. Do alto do grande marco, parecíamos dominar o mundo ... pelo menos o "meu" mundo. Para leste, os Llanos de Navasfrías e a serra para além deles, as Torres das Ellas, ainda minhas desconhecidas. A sul, o grande vale de Valverde, com a Marvana ao fundo, já a sudoeste. A Estrela e a Gardunha percebem-se ao longe. E, para oeste, a linha das Mesas e da Malcata, à direita da qual se percebe o vale do Côa, nascido ali quase mesmo aos nossos pés. Vale de Espinho lá estava, onde o Côa já corre mais célere e mais  largo  do
Cume das Mesas, 1256m alt., 21.08.2003
que nesta sua serra mãe.

Serra! Serra Mãe, Serra Dor, Serra Pão,
Traço de união entre irmãos da mesma luta!
Do teu ventre brota a voz do passado
E um sussuro magoado
Ecoa pelos ares, a contar histórias

"Serra! Serra Mãe, Serra Dor, Serra Pão"
Amélia Rei
Neste verão de 2003, neste meu intenso desbravar da Natureza, onde cabem os lameiros, as margens do Côa, as águas turbulentas do meu rio? Couberam nos convívios em família, nos banhos corajosos, nos dias e horas de permeio entre o trilhar das velhas bredas. O velho Freixial dos anos 70 já não era o mesmo, mas a nossa "praia privativa" havia-se mudado para a açude acima do Moinho do Engenho.
Bebendo os ares das margens do Côa, 18.08.2003
Açude acima do Engenho ... a "nossa" praia, 20.08.2003
E assim, este intenso mês de Agosto de 2003 - o primeiro depois da perda de um grande filho de Vale de Espinho - reforçou os meus laços àquelas terras e àquelas gentes. Usando uma expressão típica dos verdadeiros Valespinhenses ... eu já tinha bebido e saboreado a água da Fonte Grande. Era, definitivamente, um filho adoptivo da terra. E, parafraseando os contos que inspiraram o título deste blog, pelas "bredas feitas à sorte" eu havia descoberto a fonte do meu Côa, a fonte de onde brotam as "claras águas", que saltam fragas, alimentam lameiros, dão cor e vida à paisagem, "nas terras de onde se contam velhas lendas, quase negras" ... nas minhas terras raianas.

   "Fraga", (dos "Contos de Fragas e Pragas", Sebastião Antunes, Quadrilha, 1992)
 
3 de Junho de 2011

sábado, 28 de junho de 2003

Entre os fojos da Cabreira ... e do Gerês

Em Junho de 2003, a minha "colega" e companheira decide entrar igualmente nos Caminheiros Gaspar Correia. A ampulheta do tempo leva-nos os entes queridos, mas a vida continua ... e cada vez mais é para ser vivida! A 7 de Junho, partimos ambos para terras de Vieira do Minho, para uma actividade Caminheira de 4 dias, com duas caminhadas na Serra da Cabreira e uma terceira ... em terras do "meu" Gerês!


A primeira foi uma caminhada curta, de apenas 4 km, entre as aldeias serranas de Agra e Lamedo, ao longo do jovem rio Ave, aqui despoluído e bem límpido, que aliás permitiu saborosos e bem refrescantes banhos. Agora a dois, íamos ampliando e consolidando as amizades, na agora nossa família Caminheira!
No dia seguinte, o programa era o de uma espectacular caminhada de 19 km, na rota dos castanheiros da
Percursos na Serra da Cabreira, 7 e 8.06.2003
encosta sul da Serra da Cabreira. Começando próximo da aldeia de Pinheiro, contornámos a cabeceira do Ave e da ribeira da Laje, terminando em Agra, onde tínhamos começado a da véspera. E que espectaculares panorâmicas admirámos ao longo do percurso, ora atravessando as faldas da serra - com vestígios de velhos fojos de lobos - ora entre castanheiros seculares, ou cruzando pequenas represas que permitiam bons momentos de frescura.
No dia 9, mudámo-nos da Cabreira ... para o "meu" Gerês. E no "meu" Gerês ... claro que havia (e ainda há) muito para descobrir...! As fotos de grupo foram na "porta" de S. João do Campo, mas a caminhada começou na Carvalheira, num percurso cuja fase inicial me era completamente desconhecida ... e que me abriu perspectivas completamente novas sobre a barragem de Vilarinho da Furna. Paralelamente ao rio Homem, de SW para NE, chegámos à albufeira pouco antes da hora do almoço. Cruzando o paredão, seguimos a margem pelo lado norte ... e almoçámos na "praia" que em tempos foram os campos e lameiros da aldeia afundada! O dia convidava a banhos...


Mas esta era uma caminhada multiactividades...J! À tarde esperavam-nos diversas "aventuras". De novo
Percurso no Gerês, 9.06.2003
na margem sul da albufeira, nas faldas próximas ao Campo do Gerês, a organização tinha montado um esquema que incluía um cheirinho de escalada, rapel, slide, tiro ... e até uma sessão de karaoke, já no fim da actividade...J! O último dia foi o de uma visita a Guimarães, onde almoçámos ... e o regresso.

Pouco mais de duas semanas depois, em 28 de Junho, participo pela primeira vez no habitual "encontro gastronómico" dos Caminheiros, outra forma de o Grupo
Prémio "Caminheiro Revelação do Ano 2002 / 2003, 28.06.2003
se reunir, conviver, "agraciar" os mais assíduos, etc. Para minha surpresa ... recebo o prémio de "Caminheiro Revelação do Ano 2002 / 2003"! Uma lindíssima e original peça em pedra, de autoria de um dos veteranos do Grupo, que claro que guardo religiosamente. Mas mais ainda do que a originalidade da obra, é um símbolo da amizade e companheirismo que encontrei naquela "família".
2 de Junho de 2011

segunda-feira, 28 de abril de 2003

Um doloroso regresso a Vale de Espinho...

18 meses depois de diagnosticada a praga que o assolara, em Abril de 2003 a luta pela vida tornara-se inglória. Reinternado na véspera da minha partida para a Madeira, o nosso timoneiro ainda vem passar a Páscoa a casa, mas perde a última batalha, serenamente, a 28 de Abril de 2003. À cabeceira, na cama de hospital, estou eu, os meus dois filhos, uma irmã e aquela que o acompanhou durante 51 anos de uma vida de casal ... que se comemoravam naquele fatídico dia!

A MORTE CHEGA CEDO

A morte chega cedo,
Pois breve é toda a vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.

O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.

E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

Fernando Pessoa

No dia seguinte, 29 de Abril ... regressamos a Vale de Espinho. Parecendo-me hoje de novo impossível, há mais de 4 anos que não íamos lá. Mas este é o mais doloroso regresso àquela Natureza benfazeja, à aldeia que viu nascer um homem que era uma força dessa mesma Natureza. Aquelas terras foram, para ele, terras de luta, de amargura, de sofrimento. Delas teve de partir, um dia, primeiro para as Áfricas, depois para terras de França ... "pela viela da esperança, sempre de mudança". Cedo regressou contudo, pondo a família à frente de todas as lutas. Foi barbeiro, jardineiro, operário fabril, fez de Moscavide e do Bairro da Figueira a sua nova "aldeia", orgulhou-se do núcleo familiar que gerou, das filhas, dos 4 netos ... e como se orgulharia dos bisnetos, se a morte não o tivesse levado, quando tinha ainda tanto para dar.
Mas foi para a sua aldeia que sempre quis voltar, quando um dia partisse para a última mudança. Ironias do destino, mal sonhava ele o mal que o assolava, quando mandou construir ele próprio a sua última morada, para ele e para a mãe das filhas que gerou, o seu jazigo no jardim da eternidade, no cemiteriozinho da sua Vale de Espinho. No dia 29 de Abril de 2003, acompanhámo-lo a essa última morada, mas o seu carisma perdura nas recordações. A voz dele parece cantar nas águas do Côa, a presença dele parece sentir-se nas lombas e nos vales da Malcata, na Pelada, no Areeiro, no vale da Maria ... nas Fontes Lares!
Se já antes eu tinha "descoberto" Vale de Espinho, que adoptei como "terra natal", o desaparecimento físico do meu saudoso sogro exponenciou a minha relação com a aldeia que o viu nascer, com o ar livre daquelas terras e gentes, com toda a raia Sabugalense, inclusive de ambos os lados dessa mesma raia. 5 meses depois da sua morte, compramos conjuntamente com os cunhados dois palheiros e uma pequena casa adjacente ao respectivo curral ... a casa que ele havia alugado, 51 anos antes, ao casar-se com a mãe das suas duas filhas. Menos de 2 anos depois ... temos uma casa em Vale de Espinho! E passou a ser raro passar mais de um mês sem ir respirar os ares daquela que é, sem dúvida alguma ... a minha terra.
Orgulho-me de, casualmente, ter o mesmo nome dele ... e de ser hoje o "avô Zé" dos meus netos ... tal como ele era o "Avô Zé" dos meus filhos. Pelo menos o meu neto e a minha neta mais velha, ambos com 3 anos, sabem bem quem é o seu "avô Zé" ... e quem era o "Avô Zé velhinho" ... o "Avô Zé" do pai deles.
1 de Junho de 2011

terça-feira, 15 de abril de 2003

Uma "aventura" no Arquipélago da Madeira

No ano lectivo 2002 / 2003, o grupo de alunos que havia ido ao Gerês, aos Picos de Europa e a Somiedo estava, maioritariamente, no 12º ano. Que "aventura" lhes reservaria para o último ano de estudos secundários?... Por duas vezes tínhamos levado alunos aos Açores; então ... e a Madeira? Fermentado já no ano anterior, o projecto começou em organização logo em Setembro/Outubro, para partirmos a 8 de Abril.
A equipa de "profs" era a mesma que tinha acompanhado o grupo "açoriano" em 2000. Mas esta viagem teve, para mim, a amargura de ter partido ... com a incredulidade do desfecho da dramática situação do meu saudoso sogro ... reinternado na véspera da minha partida! Em fase terminal ... ele pareceu contudo esperar pelo meu regresso e o do seu neto mais novo, meu filho, igualmente com uma viagem marcada e organizada. Lutando pela vida, como toda a vida o havia feito, nunca se referiu aliás à morte...

Às seis da manhã do dia 8 de Abril,  os 26 alunos e 5 professores encontravam-se no Aeroporto da Portela;
Eira do Serrado, sobre o Curral das Freiras, 8.04.2003
pouco depois das nove estávamos na Madeira. O plano desta viagem decorreu de forma um pouco diferente do inicialmente previsto, dado que o S. Pedro esteve desta vez um pouco zangado...J. Esperava-nos o autocarro da Câmara Municipal do Funchal, para uma visita genérica à ilha. Pelas novas estradas que nos últimos anos têm rasgado a Madeira, passámos próximo do Funchal, em direcção ao primeiro ponto de visita, a Eira do Serrado, miradouro sobre o famoso Curral das Freiras, pequena vila rodeada por enormes montanhas, no coração da ilha. O caldeirão onde assenta esta vila foi formado ou pela erosão, ou, como muitos acreditam, por actividade vulcânica. Em 1566, as freiras do Convento de Santa Clara, ao fugir de piratas que atacavam o Funchal, encontraram aqui refúgio, levando consigo o tesouro do convento.



Seguiu-se uma visita à Ribeira Brava, pequena vila na costa sudoeste da ilha, ilha que a seguir cruzámos
Porto Moniz, 8.04.2003
no sentido sudoeste-noroeste, pelos novos túneis de acesso a S. Vicente, já na costa norte. Na extremidade da vila, parámos mesmo junto ao mar e ao grande rochedo onde foi construída a Capela de S. Vicente. Mar que depois acompanhámos na fantástica estrada litoral até Porto Moniz, onde as piscinas naturais são, naturalmente, a principal atracção. No regresso, subimos a estrada em direcção ao Paul da Serra, pela Fonte da Pedra e Rabaçal. O denso nevoeiro escondeu-nos contudo as fantásticas panorâmicas que noutras alturas daqui se avistam sobre a cordilheira central e a costa, no único grande planalto existente na Madeira.
A meio da tarde estávamos na Encumeada, a mais de 1.000 metros
Cabo Girão, 8.04.2003
de altitude - agora sim com uma excelente vista para a cordilheira central da ilha - e a visita terminou com uma visita ao Cabo Girão, de novo na costa sul, o promontório mais alto da Europa e o segundo do Mundo; dalguns dos pontos mais elevados e salientes daquela gigantesca escarpa vêm-se as vagas do oceano quebrarem-se 600 metros abaixo, no sopé da aprumada rocha.
Às 18:30h ... assentámos praça no RG3, o Regimento de Guarnição n.º 3, na freguesia de S. Martinho, Funchal, que nos esperava para o alojamento em 6 das 7 noites passadas na viagem. À noite, fizemos a primeira incursão à capital madeirense.

4ª feira, 9 de Abril. O autocarro leva-nos ao Parque Florestal do Ribeiro Frio, acompanhados por um guia da Câmara Municipal. Começámos por uma visita ao viveiro de trutas ali existente,  seguindo-se o percurso pedestre até  ao  Miradouro dos Balcões,
Miradouro dos Balcões, sobre a cordilheira central, 9.04.2003
de onde contemplámos a esplêndida panorâmica sobre o belo vale da Ribeira da Metade e a cordilheira central da ilha. Regressando ao Ribeiro Frio, seguiu-se o percurso pedestre Ribeiro Frio - Portela, ao longo da levada da Serra do Faial, numa extensão de cerca de 10 quilómetros.
As levadas foram introduzidas pelos primeiros povoadores da Madeira, para o transporte da água até às suas terras. Não são exclusivas da Madeira, mas o que é único é a sua acessibilidade e extensão. Os primeiros 8 km do percurso foram em plano, desde o Ribeiro Frio até à casa de divisão das águas, e nos restantes 2 km descemos até ao miradouro da Portela. A esta altitude os nevoeiros e as chuvas são frequentes, conforme aliás comprovámos, já que grande parte do caminho foi feito debaixo de uma chuva miudinha. Ao longo da levada é possível descobrir, por entre os multivariados tons de verde da floresta, delicadas flores brotando de pequenas plantas que gostam de viver em ambiente de forte humidade e fraca luminosidade.
Ao longo da levada Ribeiro Frio / Portela, 9.04.2003
Ao longo da levada Ribeiro Frio / Portela, 9.04.2003
Nesta viagem pelo interior de uma Natureza purificadora, é por vezes possível avistar o bisbis, o mais pequeno dos pássaros que povoam a Madeira, a saltitar de um ramo para outro à procura de larvas e insectos; o melro preto também por aqui aparece à procura de bagas e de pequenos bichos, alegrando o ambiente com o seu canto forte e melodioso.
Quando o nevoeiro o permitia, nalguns cotovios da levada, pudemos observar a paisagem para além da floresta: são surpreendentes os campos do Faial, São Roque do Faial e Porto da Cruz, na costa nordeste, com o casario disperso nas achadas; a enorme asa rochosa da Penha de Águia avança com audácia sobre o poderoso Atlântico e protege a oriente a baía do Faial, enquanto a ocidente a Ponta dos Clérigos faz o que pode para evitar o embate a noroeste.
Chegados à Portela, fim da caminhada, partimos de novo no autocarro para o extremo oriental da Madeira,
Ponta de S. Lourenço, 9.04.2003
a zona do Machico e da Ponta de S. Lourenço, Reserva Natural desde 1982. A vegetação da Ponta de São Lourenço é especial e única dentro da Macaronésia, não por estar ainda inalterada, mas devido à presença de grupos importantes que estão virtualmente confinados a esta área. Para além da vegetação, esta reserva é o lar de muitas espécies de aves e até de alguns lobos marinhos, que aqui são vistos ocasionalmente.
Nos dois dias seguintes ... havia uma "aventura": uma viagem às ilhas Desertas, em veleiro! Contratados previamente os serviços do "Ventura do Mar", acontece que a lotação do veleiro é de apenas 18 pessoas, pelo que, naqueles dois dias, enquanto metade do grupo se deslocou às Desertas, os restantes estiveram em visita à capital madeirense, onde o teleférico do Monte foi uma das atracções, permitindo uma panorâmica deslumbrante sobre o anfiteatro do Funchal e do porto. Alguns ... quiseram participar nas famosíssimas corridas dos carrinhos do Monte! Outros pontos de interesse foram a estátua de Gonçalves Zarco, a Sé, toda a zona antiga.


Quanto às Desertas ... às 9 horas estávamos a partir no “Ventura do Mar”, acompanhados e guiados pelos nossos 'skippers' Filipe e Susana. As Ilhas Desertas são três ilhéus (Ilhéu Chão, Deserta Grande e Bugio) situados a sudeste da Madeira, no prolongamento para sul da Ponta de São Lourenço. De origem vulcânica, na constituição geológica das Desertas predominam as cinzas de cor avermelhada e amarelada. As Desertas constituem um dos últimos redutos do lobo-marinho, ali residindo uma colónia estimada em 23 animais que se encontra em recuperação populacional. É também um importante centro de nidificação de aves marinhas, tais como a cagarra e a rara freira do Bugio, esta última com uma distribuição mundial que se restringe à Ilha do Bugio e a Cabo Verde.
A bordo do "Ventura do Mar", 10.04.2003; por enquanto ainda estava tudo bem disposto...
... mas já nem tanto...
A skipper Susana..., 10.04.2003
... e o "comandante" Filipe Alves, 10.04.2003
Ancorados ao largo da Deserta Grande, 10.04.2003
Desembarque ..., 10.04.2003
Na Deserta Grande, 10.04.2003
E até vemos golfinhos, 10.04.2003
A viagem até à Deserta Grande foi de cerca de 3 horas e meia, com tempo suficiente para uma pequena visita exploratória mas também para almoçar e, até, para nadar! O pior foi o regresso...! No dia 10, a viagem de regresso levou quase 5 horas ... e no dia 11 levámos o melhor de 6 horas e meia, entrando no porto do Funchal já noite cerrada, às 21,30h! A culpa foi dos ventos e ondulação fortes que se faziam sentir e que prognosticavam já a tempestade que no dia seguinte assolaria os Açores. A maior parte do grupo enjoou bastante; o nome Ivan ficará para sempre gravado na memória do skipper Filipe Alves ... vá-se lá saber porquê...J! No dia 11 estivemos aliás na eminência de ter de aportar ao Machico e regressar ao Funchal de autocarro, mas o Filipe e a Susana lá levaram depois o "Ventura do Mar" rentinho à costa madeirense, até ao Funchal, para fugir à ondulação. Foi uma "aventura"...!

Sábado, 12 de Abril, era suposto ser dedicado à "conquista dos céus" da Madeira. Subiríamos de autocarro ao Pico do Areeiro, para depois fazermos o percurso pedestre Pico do Areeiro - Pico Ruivo; a vereda tem uma extensão de cerca de 6 Km e tem início junto à Pousada do Pico do Areeiro. A meteorologia não nos permitiu contudo concretizar esta parte do programa: a tarde de sábado e a noite de sábado para domingo (em que dormiríamos na casa-abrigo do Pico Ruivo) foram de violento temporal, que aliás nos Açores assolou várias ilhas, com prejuízos materiais diversos. Assim, o programa foi redefinido em conjunto com o motorista do autocarro que a Câmara Municipal de Câmara de Lobos tinha de qualquer modo ao nosso dispor, começando precisamente por aquela vila piscatória.
Câmara de Lobos, 12.04.2003
Seguiu-se um circuito pela costa sudoeste da ilha, normalmente a menos batida pelas tempestades, mas onde mesmo assim o nevoeiro e a chuva pouco nos deixaram ver. Fizemos uma curta visita à Ponta do Sol e às vilas de Madalena do Mar e Calheta; nesta última, visitámos o seu original engenho de mel de cana de açúcar. Mas como a meteorologia não proporcionava melhor tarde (antes pelo contrário) ... a única hipótese foi mesmo o regresso ao Funchal. A noite que supostamente seria passada no Pico Ruivo ... acabou por ser passada pela maior parte do grupo nas discotecas do Funchal...J.
A Penha de Águia, entre Faial e Santana, 13.04.2003
Na manhã de domingo, seria a descida a pé Pico Ruivo - Santana (cerca de 11 Km), primeiro em direcção à Achada do Teixeira, depois sobre terras de Santana e Faial. A alteração a que a meteorologia nos obrigou levou-nos, contudo, a ter uma manhã de domingo livre, usada pela maior parte do grupo para pôr os sonos em dia. Visitámos depois Santana, onde terminaríamos o percurso a pé. Entre o Faial e Santana, a paisagem é espectacular, com a imponente Penha de Águia como pano de fundo; felizmente que o tempo começava já a melhorar. De regresso ao Funchal, fizemos ainda uma pequena visita à Camacha, centro da indústria de vime Madeirense. Hoje em dia, fabricam móveis, chapéus, ornamentos, utensílios de cozinha, e claro ... cestos de todos os tamanhos e feitios.


14 de Abril. Antes das sete da manhã estamos no cais de embarque da "Porto Santo Line". Vamos partir para a ilha dourada, no navio "Lobo Marinho". Alguns enjoos, mas às 11:30h desembarcamos em Porto Santo, a 40 Km da Madeira. Em Porto Santo, recebeu-nos o Destacamento local do RG3, onde arrumámos as bagagens e almoçámos, para da parte da tarde visitarmos a ilha, começando pela costa sul, em direcção à Ponta da Calheta, frente ao ilhéu da Cal. Seguiu-se uma passagem junto ao Pico de Ana Ferreira, com as suas formações geológicas resultantes da disjunção colunar do basalto. Já na parte oriental da ilha, o miradouro da Portela proporcionou-nos uma espectacular vista sobre Vila Baleira, a capital da ilha, e sobre a praia. A paisagem de Porto Santo é caracterizada pelo aparecimento, aqui e ali, dos tradicionais moinhos de vento, que surgiram para a moagem de cereais necessária ao fabrico do pão.
Chegamos a Porto Santo, 14.04.2003
Percurso pedestre dos Picos do Castelo, Facho, Gandaia e Juliana, Porto Santo, 14.04.2003
Seguiu-se a zona da Serra de Fora e a ponta do Calhau, na costa leste, contornando depois a ilha pelo nordeste, pela Serra de Dentro e Pedregal. O autocarro deixou-nos então na base do Pico do Castelo, a partir do qual efectuámos um percurso pedestre de cerca de 8 km chamado a vereda de El-Rei. Do cimo do Pico do Castelo desfrutamos um horizonte visual bastante amplo, que nos permite apreender com alguma facilidade a morfologia da ilha: dois grupos vulcânicos separados por uma área baixa onde se estende o aeroporto; o Pico do Castelo pertence ao conjunto de aparelhos vulcânicos principais que ocupa o nordeste e o leste da ilha; do cimo deste pico compreende-se facilmente a enorme diferença entre as costas norte e oriental - altas, escarpadas e com muitos recortes - e a extensa praia de areia que ocupa quase todo o litoral sul. O percurso contornou o Pico do Facho pelo lado sul; ainda no rebordo do Facho, a vereda oferece uma série de vistas espectaculares das partes central e ocidental. A pouco e pouco, aproximámo-nos do Pico Juliana, que prende a atenção pelas colunas prismáticas que apresentam os seus basaltos.
Já pela estrada norte/sul, regressámos ao 'nosso' RG3, na parte alta de Vila Baleira. Ao fim da tarde viemos à cidade/vila, onde aliás jantámos e nos divertimos ainda no Bar/Pub "Zarco".
O último dia passava-se e filmava-se na praia de Porto Santo...
...gozando a areia dourada, 15.04.2003


Toda a manhã do dia 15 foi dedicada à magnífica praia do Porto Santo; a areia e as águas cálidas e transparentes esperavam por nós ... e até houve um "treino militar"...J! Mas a "aventura" estava a acabar: às 16,30h partíamos no voo TP4777 do Porto Santo de regresso à Madeira; apenas 20 minutos de voo, num pequeno avião da AeroCondor.
A bordo do AeroCondor para a Madeira, 15.04.2003
Os 5 "profs" de quem os alunos andaram 8 dias a tomar conta...J
E de novo na Madeira, a aguardar a ligação para Lisboa. Era o fim da "aventura".
Após um intervalo de cerca de duas horas, partimos no voo TP 1642 de regresso a Lisboa ... e ao fim desta semana de "aventuras" nas ilhas do Arquipélago da Madeira. Faltaram as Selvagens ... que são mais próximas das Canárias do que da Madeira. Mas ficaram as recordações...

“Foram os sete dias mais incríveis, espectaculares e sem dúvida inesquecíveis. Cheirei ar puro, saboreei maravilhosas comidas regionais; vi magníficas paisagens, mar, terra, animais...; ouvi lindas ondas a rebentarem e vivi momentos nunca mais esquecidos. É claro que os profs foram espectaculares, cuidadosos,5 estrelas. Sem dúvida que só ficaram boas recordações.”
Dídia Duarte

“O Paraíso não é feito apenas pela beleza da natureza, mas é também feito pelas excelentes pessoas que nos rodeiam. Por este facto posso afirmar que estive uma semana no Paraíso.”
Ricardo Santos

“Esta viagem foi, é e será sempre inesquecível (temos pena, já acabou). A Madeira e "arredores" superaram as minhas expectativas”
Nuno Lopes

“Adorei a simpatia dos professores, o convívio entre o grupo e os passeios pedestres ao lado da Natureza! Grande viagem, grande ilha, um destino a repetir!”
Filipe Coelho
"Um destino a repetir" ... mas não se repetiu. Nem este nem outros. Exceptuando duas pequenas visitas na Serra d'Aire e Caparica, esta foi a última actividade que realizei com alunos, fora das paredes da Escola. Ao longo de 26 anos, tinham sido 57 visitas e actividades de campo, das quais 40 com uma duração entre 2 e 10 dias, que mobilizaram perto de dois milhares de alunos, do 7º ao 12º anos de escolaridade. No ano lectivo de 2003 / 2004 ... começaria o princípio do fim do ensino como eu o conhecia...

Fotos: Telo Ferreira Canhão
Mais fotos desta viagem, da autoria de Filipe Coelho
31 de Maio de 2011

sábado, 5 de abril de 2003

Em terras de Nisa e Cedillo: Carnaval Caminheiro

Recém estreado nos Caminheiros Gaspar Correia, desde Outubro tinha participado em 3 caminhadas, referenciadas no post anterior. Os primeiros três dias de Março de 2003 foram contudo a minha primeira actividade de mais de um dia ... e na qual senti ainda mais o carinho, a amizade e o calor com que o grupo recebia  e  recebe os novos elementos  que a ele  aderem com vontade  de continuar.  Carinho,  amizade  e
calor tanto mais sentidos, quanto mais se adivinhava o quadro negro da doença fatal do meu saudoso sogro...!
Nos três primeiros dias de Março de 2003, participei assim com os Caminheiros numa actividade em terras de Nisa, incluindo duas noites em Castelo de Vide. No primeiro dia, após a viagem desde Lisboa, a caminhada intitulava-se Na Rota do Contrabando, já que decorria em terras fronteiriças de Montalvão e Cedillo, seguindo antigas rotas e ouvindo histórias de antigos contrabandistas. Atravessámos a raia
dos medos num bote (a fronteira é o Rio Sever) ... e estávamos em terras estremenhas. Em Cedillo ... o Alcalde local recebia-nos com um opíparo lanche, e ainda participámos no Carnaval da vila.
Primeira noite em Castelo de Vide ... e no dia seguinte tínhamos outra caminhada à espera, por Trilhos de Jans. Na freguesia de Amieira do Tejo, esta caminhada desenvolveu-se entre Falagueira e a estação ferroviária/fluvial da Barca da Amieira, incluindo um espectacular troço de 3 km ao longo do
Tejo, pelo chamado muro de sirga, contemplando por vezes o voo rasante da garça-real. Na outra margem, a foz do Ocreza ficou para trás, bem como abundantes murtinheiros e medronheiros.
À noite, na Residencial em Castelo de Vide ... houve Carnaval! Todos os anos o Grupo faz a sua festa de Carnaval Caminheiro ... e que festa...J!
No último dia, a caminhada seguiu os Trilhos do Conhal. O Conhal é uma extensa escombreira formada por gigantescos amontoados de seixos, testemunhando a extracção de ouro que terá decorrido nas épocas romana e medieval. Com as Portas de Ródão no horizonte, o voo silencioso dos abutres cortava periodicamente os ares. Depois, os montes de seixos do Conhal faziam-nos parecer transportados para um outro planeta, terminando na aldeia de Santana ... cujo Presidente da junta de Freguesia nos ofereceu um espectacular almoço, baseado numa divinal sopa de peixe servida em típicos "corchos", ou "couchos",  de cortiça.  Para  além  do Presidente  da
junta, tivemos também a presença e a simpatia da Presidente da Câmara de Nisa. E já só faltava o regresso a Lisboa!

Um mês depois, a 5 de Abril de 2003, nova caminhada ... a primeira que organizei para os Caminheiros Gaspar Correia: da Lagoa de Albufeira ao Cabo Espichel, conduzi o grupo ao longo das falésias costeiras, num esplendoroso dia a saudar a Primavera recém chegada!
30 de Maio de 2011

sábado, 8 de fevereiro de 2003

E um dia, em Outubro de 2002 ... descubro a minha "família" caminheira!

Ao longo das minhas "aventuras" e andaduras,  já tinha ouvido falar  de  algumas  caminhadas  organizadas
por um grupo de pessoas inicialmente ligadas à Escola Gaspar Correia, na Portela de Sacavém, até porque duas ou três colegas da minha velha escola pertenciam a esse grupo. Precisamente através de uma dessas colegas, então Presidente da Direcção do Grupo,  quis o destino que em Outubro de 2002 eu me  "alistasse"  no
Por terras de Almoster, 19.10.2002
Grupo de Caminheiros Gaspar Correia. E ... é talvez a única coisa de que me arrependo na vida, não ter entrado mais cedo para este grupo...!
Fundado em Março de 1985, o Grupo de Caminheiros Gaspar Correia "emancipou-se" da Escola onde se formou, transformando-se numa das mais antigas Associações de Caminheiros portuguesas, com actividades pedestres realizadas um pouco por toda a Península Ibérica e ilhas, para além de actividades culturais, ciclistas e de canoagem. Mas, para além das actividades em si, vim a encontrar nos Caminheiros Gaspar Correia uma autêntica família, um grupo extraordinariamente coeso, com um extraordinário sentido de grupo, elevando bem alto valores como os da amizade, da camaradagem, do são convívio. Considerando-me "exigente" a nível de amizades (amigos verdadeiros não se fazem de um momento para o outro), vim a alargar nos Caminheiros o leque de amigos
Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, Malveira, 14.12.2002
com quem gosto de estar, de partilhar emoções, vivências e experiências. Paralelamente às caminhadas, dediquei-me ao Grupo nas áreas em que os meus préstimos pudessem ser mais úteis, nas áreas das minhas carolices e interesses; rapidamente passei a ser o camaraman de serviço, por exemplo...J!
A "estreia" foi no dia 19 de Outubro de 2002. Uma caminhada simples, na zona de Almoster e da ribeira do mesmo nome, próximo de Santarém. Mas uma caminhada na qual senti, desde logo ... que estava ali para ficar. E fiquei...! A 14 de Dezembro estava de novo com eles na Malveira, numa caminhada que envolveu a visita ao CRLI, o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico.
Por terras da Malveira, 14.12.2002
Pela costa de Sesimbra ao Cabo Espichel, 8.02.2003
Já em 2003, a 8 de Fevereiro, percorremos a costa de Sesimbra ao Cabo Espichel. Revisitei o Forte da Baralha, ao largo do qual tantas vezes havia mergulhado nos meus velhos e longínquos tempos do mergulho amador! Seria fastidioso enumerar neste
blog todas as caminhadas realizadas com os Caminheiros Gaspar Correia. À data em que este post é escrito ... seriam 88 actividades, englobando muitas delas duas e mais caminhadas. Referenciarei portanto as mais significativas, aquelas que por uma razão ou por outra mais recordações me deixaram ... dentro de um todo que é, sem dúvida alguma, uma das minhas referências mais importantes.

Obrigado, Caminheiros!


Neste post,  contudo,  voltemos por momentos a Outubro de 2002.  Pouco antes da minha entrada para  os
Nas nascentes do Alviela, 5.10.2002
Caminheiros, no fim de semana de 4 a 6 de Outubro, as nascentes do Alviela voltaram a receber-me, na caravana, com a "sócia" e um casal de grandes amigos. Estreantes num alojamento autocaravanístico, demos-lhes a cama maior, a do cappucino. Para memória futura ficou um célebre telefonema para a filha: "olha, estamos deitados com o nariz a 20cm do tecto"...J!
Também na caravana, de 1 a 3 de Novembro fizemos uma incursão por Olivença, Mourão, Barrancos, Aracena e Serpa. Em Mourão ... encontrámo-nos com o filho mais velho e a namorada, em digressão a Cáceres e Trujillo!
28 de Maio de 2011