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sexta-feira, 6 de outubro de 2006

A Ponte da Misarela ... e uma travessia abortada do Gerês, derrotado pela intempérie

O feriado e ponte do 5 de Outubro de 2006 proporcionou 4 dias de "férias" ... que eu, a "sócia" e o nosso "grupo dos sete" destinámos a uma jornada no Gerês e na cidade invicta. Os restantes cinco amigos do grupo não eram propriamente caminheiros ... mas eu lá tinha os meus planos... J. E os planos incluíam
Ponte da Misarela, ou do diabo, 5.10.2006
a visita a um lugar que há muito queria conhecer: a Ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão, entre Ruivães e Sidrós, separando o Minho de Trás-os-Montes. Esta ponte, também conhecida por ponte do diabo, é um dos lugares mais "mágicos" do Gerês e da zona envolvente. A ela estão ligadas lendas perdidas na noite dos tempos, alusivas à fecundidade, à religião, aos intentos do demo. Precisamente em Outubro de 2006, Sebastião Antunes e a "Quadrilha" lançam o seu álbum "Deixa que aconteça", que inclui a faixa "Ponte da Misarela", onde ele conta e canta magistralmente a lenda da Misarela.
Ao percorrermos a velha ponte e as muitas fragas que a ladeiam, ao som das águas agitadas do Rabagão, quase nos parecia ver surgir o mafarrico e a sua voz tonitruante:
Rio Rabagão, sob a Ponte da Misarela, 5.10.2006
"Salvo-te, pois claro, mas se me deres a alma em troca".

Nós ... fomo-nos "salvar" rumando a Pitões. Em Ferral, próximo ainda das terras da Misarela ... ficaram históricas umas monumentais postas barrosãs, no "Transmontano". E ao fim do dia 5 estávamos em Pitões das Júnias ... a "aldeia mágica". Dois dos nossos amigos já conheciam as Sr.as Marias, da "Casa do Preto", já haviam participado em várias das "aventuras" com alunos". Mas os outros não conheciam Pitões. Fomos, por isso, ao velho Mosteiro e à ainda mais velha cascata, numa magnífica tarde de Sol, em que toda a "minha" Serra do Gerês se recortava na paisagem. A não ser pela previsão meteorológica ... nada fazia pensar que o dia seguinte não fosse igual...
Pitões das Júnias ... a "aldeia mágica", 5.10.2006
Para o dia seguinte, eu tinha um objectivo há muito almejado: a travessia solitária do Gerês, de Pitões à Portela do Homem, reconstituindo assim a "aventura" feita com alunos, 17 anos antes. O resto da equipa apanhar-me-ia na Portela do Homem. 17 anos tinham apagado memória importante em termos de percurso,
São 5 da manhã na noite do Gerês: Outeiro do Grosal, 6.10.2006
mas, ao contrário de então, agora havia GPSs e software específico para estes fins. O meu fiel OziExplorer não me deixaria perder. Só que ... a previsão meteorológica apontava para chuva.
"Às vezes enganam-se", pensei eu, esperançoso, até porque realmente os dias anteriores tinham sido completamente soalheiros. E, por isso ... 10 minutos antes das 5 da manhã daquele dia 6 de Outubro ... eu estava a sair de Pitões, rumo à Serra. A noite estava escura mas estrelada ... podia ser que a chuva tivesse desistido...
E lá fui...! Outeiro do Grosal, carvalhal de Fornos, a progressão para noroeste vai avançando lentamente, por vezes iluminando o chão com a luz do GPS ... e tentando perceber as intenções do tempo. Duas horas depois tinha percorrido 6,5 km, começava a subir para a Brazalite. As estrelas tinham desaparecido ... mas não porque já fosse dia. Uma espessa e húmida neblina começou a transformar tudo em redor num reino fantasmagórico ... e comecei a sentir as pingas da chuva anunciada. Ainda numa quase escuridão, umas fragas providenciais surgiram-me no início da subida ... e serviram-me de abrigo durante quase uma hora e meia! Numa enganadora aberta, saí de lá às 8h:25 ... e continuei a subir. A chuva tinha parado! Cruzada a Corga da Tulha, estava aos pés da Fonte Fria ... mas tudo em meu redor parecia rodeado de mistério.
Coto de Fonte Fria, 6.10.2006
Fragas envoltas em mistério, Fonte Fria, 6.10.2006
A Fonte Fria é o ponto de inflexão do percurso, para quem quer seguir para os Carris e a Portela do Homem. O rumo agora seria SW, ao longo da raia. Mas ... a chuva voltou ... e com mais força. Muito perto
Carvalhal de Fornos, já no regresso, 6.10.2006
dos 1400 metros de altitude, ligeiramente a SW da Fonte Fria ... fiz nova "paragem técnica" de quase uma hora! Havia que tomar opções: ou continuar, correndo o risco de me ver no meio de um temporal de chuva, com as encostas que sabia que teria de subir, mais a sul, eventualmente escorregadias e perigosas, e, de qualquer modo, sem poder apreciar e viver as panorâmicas de serra que sabia e me lembrava que ali estavam ... ou regressar prudentemente a Pitões das Júnias. Foi esta segunda opção que tomei, prudentemente. A última coisa que alguma vez desejaria ... era vir a ser notícia, como "turista" resgatado no Gerês...! Pouco passava das 10h:30 quando iniciei o caminho de volta.
O resto da minha "equipa" tinha ido até Montalegre ... mas regressou também a Pitões, após o meu contacto telefónico. E em pouco mais de duas horas fiz o percurso de volta ... quase todo debaixo de copiosa chuva! A Srª Maria ficou descansada ao ver-me de regresso...
A tarde daquele dia 6 de Outubro foi de autêntico dilúvio. Uma rápida visita a Tourém, fugindo à chuva, a volta por Lobios ... e passámos à mesma na Portela do Homem ... mas de carro. A travessia do Gerês tinha ficado adiada.
E foi em dias de Sol radioso e com os horizontes a perder de vista que vim a fazer a travessia do Gerês, menos de 2 anos depois ... paradoxalmente por duas vezes em menos de uma semana!
Fronteira da Portela do Homem, em tarde chuvosa e agreste, 6.10.2006
26 de Julho de 2011

domingo, 24 de setembro de 2006

Deambulações à volta de um tema: a raia...

A 7 de Agosto de 2006, uma semana depois de terminar as "aventuras" em Somiedo ... estava de regresso a Vale de Espinho, para 15 dias de férias ... e de deambulações nas minhas terras raianas. Logo no dia 8, o meu "burro" levou-me às mágicas Fontes Lares e à Serra do Homem de Pedra, mas também, cruzando os Foios, ao Piçarrão, ao Cabeço da Moira, à divinal água do Espigal. Logo no dia seguinte, uma longa jornada de mais de 70 km levou-me a mostrar as "minhas" terras raianas a familiares, nascidos em Vale de Espinho, mas há muito afastados da serra. Descemos à Quinta do Major, pelas Ginjeiras e Revoltas visitámos a minha amiga ti MariZé Salgueiro, que, à beira do Bazágueda, lá continuava no seu isolamento serrano. Regressámos pelo Meimão e Malcata.
No dia 13 foi a vez da envolvência da barragem do Sabugal. Com o filho mais velho e nora, atravessei o Côa na Estrajassola, do Cruzeiro das Peladas descemos às margens da barragem, visitámos o Moinho
A caminho de Aldeia da Dona, 14.08.2006
do Cascalhal e o ti Zé Martins, que eu havia incluído no meu filme das 4 estações. No dia seguinte o "burro" ficou a descansar e a jornada foi pedestre. Também com o filho e nora e um carro em cada extremo, ligámos Sacaparte à Ponte de Sequeiros, que imperdoavelmente eu ainda não conhecia. De construção provável no século XIII, esta ponte seria um marco de fronteira antes da incorporação  das  terras  de  Riba-Côa  no  território  nacional,  pelo
Ponte de Sequeiros, próximo de Valongo do Côa, 14.08.2006
Tratado de Alcanices.
Ainda no mesmo dia 14, à noite ... fui de propósito ao Rendo, assistir a um memorável concerto do Sebastião Antunes e da "Quadrilha". Em terra de fragas ... não podia perder estas "fragas e pragas"... J!
E nos dias 18 e 19, eu e o meu "burro" servimos de novo de guias a primos e amigos, mostrando-lhes a Serra Alta, a nascente do Côa, as Mesas, a Quinta do Major, o Espigal, a Capela do Espírito Santo. Alguns já me propunham largar o ensino e enveredar pela carreira do turismo rural e de guia de percursos...; fosse eu mais novo... J!
E em Setembro lá estamos de novo na nossa Vale de Espinho, no fim de semana de 23 e 24. De ambos os lados da raia, no dia 24 exploro, de "burro", a zona compreendida entre o Cabeço Vermelho, Navasfrias, Aldeia do Bispo e a Lajeosa da Raia.

Entretanto, em 16 de Setembro tinha estado com os Caminheiros nos Coutos de Alcobaça, numa caminhada em cuja preparação tinha colaborado no último dia de Agosto.
25 de Julho de 2011

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Mais um regresso às terras mágicas de Somiedo

Com uma passagem por Vale de Espinho tanto à ida como à vinda, os últimos 10 dias de Julho de 2006 foram no paraíso dos valles del oso e de Somiedo, desta vez em versão de alojamento rural, só a dois.
Entre Aciera e Bermiego, Sierra del Aramo, 24.07.2006
A primeira parte foi em terras de Quirós, com uma "aventura" pedestre de 22 km no dia 24, pelos Puertos de Andruxas, na Sierra del Aramo. Da pequena aldeia de Aciera, onde estávamos alojados, passámos a Bermiego e ao seu teixo milenar, subimos às Andruxas e à Braña Buxana, voltámos a descer para La Rebollada e Pedroveya, esta última já nossa conhecida, já que ali iniciámos (pela 3ª vez...) a descida da Ruta de Las Xanas.
Bermiego: a Sierra del Aramo por entre a ramagem, 24.07.2006
Dois dias depois estávamos em Somiedo. Mas desta vez optámos por uma excelente casa de turismo rural em Coto de Buenamadre, logo acima de Pola de Somiedo. Ganhámos uma amiga na respectiva proprietária, Rosalía Garrido Álvarez. Tudo ali respi-ra o seu "mundo rural, afición, pasión, VIDA", tal como incluiu no título do blogue onde expressa a sua paixão pelas terras e tradições somedanas. Passámos a visitá-la cada vez que vamos a Somiedo.
Coto de Buenamadre, 27.07.2006
Casa rural Buenamadre, Coto, 27.07.2006
E a Casa Buenamadre foi a base para a descoberta de algumas das mais espectaculares panorâmicas de Somiedo. Um estudo prévio tinha-me levado a delinear um percurso circular que totalizaria mais de 30 km de montanha. A forma de o "partir" em dois ... seria deixar o carro por uma noite no Puerto de Somiedo; foi o que fizemos. E assim, dia 28, os horizontes abriram-se para a espectacular travessia Puerto de Somiedo - Alto del Moñón - Braña de Sousas - La Enramada - Coto. Que dia extraordinário e que extraordinária travessia! A paixão por Somiedo aumentava a cada caminhada ... e é claro que logo surgiu a ideia de ali levar segunda vez a minha "família" Caminheira!
Collada Putracón, 28.07.2006
Descida do Alto del Moñón para Sousas, 28.07.2006
No dia seguinte ... era preciso ir buscar o carro. A minha "sócia" ficou na Casa Buenamadre ... e eu saí pouco depois das 6h:30 da manhã, sozinho, pronto para fechar o idealizado percurso circular ... agora quase sempre a subir. Pelo Pico El Miro, cheguei às Brañas de Mumian e, depois, à Peña de Gúa. A Rosalía havia-me falado de um velho e incerto caminho que atravessava o bosque da Enramada, ligando Mumian à Braña de Sousas, de onde faria o retrocesso da véspera até ao Puerto de Somiedo.
Sobre Coto de Buenamadre e o bosque La Enramada, 29.07.2006
Não sei se efectivamente esse velho caminho ainda existia ou não; não o encontrei. Mas a alternativa foi espectacular, por um lado porque na procura desse caminho cheguei a um fantástico "miradouro" sobre a Enramada e todo o vale do rio del Lago, com Coto de Buenamadre aos meus pés (foto acima), e, por outro lado, porque o percurso me permitiu subir à Peña Salgada (1979m alt.), depois de passar as Brañas de Valdecuelabre, onde, como em tantos outros lugares "perdidos" ... as vacas "falavam" comigo.
Peña Salgada (1979m alt.), 29.07.2006
Ao chegar à Peña Salgada ... não estava sozinho. Vim
a encontrar ali um outro companheiro solitário, amante da Natureza e de Somiedo, vindo de Gijón ... e que me afirmou que todos os fins de semana vai caminhar para Somiedo! Estivesse eu lá mais perto...
E descendo de Peña Salgada estava já em terreno atravessado na véspera. Pela Collada Putracón e Machada Ordial, cheguei ao Puerto de Somiedo. O carro lá estava, tinha dormido uma noite na serra... J.
Praderas de Cebolleo, Sierra de la Mortera, Babia, 31.07.2006
Dois dias depois, no último dia de Julho, estávamos a deixar Somiedo de carro ... para voltar a Somiedo a pé. Somiedo confina com Babia, a zona montanhosa do norte leonês. Despedindo-nos da Rosalía, fomos fazer a última caminhada e a última noite na original casa de turismo rural El Rincón de Babia, próximo de La Cueta, a aldeia leonesa mais próxima de Somiedo. Subindo o Alto Sil, rumávamos à Sierra de la Mortera, paredes meias com a bacia glaciária do Lago del Valle. Transposto o Collado de la Paredina ... estava de novo em Somiedo, a descer para a Braña de Murias Llongas.
Braña de Murias Llongas, Somiedo, 31.07.2006
Morteras e Torre de Orniz, do Pico Cuetalbo (2074m alt.)
Com um transporte de cada lado, a ligação La Cueta - Valle de Lago seria fácil, por Murias Llongas; um dia...! Na falta de transporte de cada lado, havia que regressar a Leão. Mas esta jornada ainda me levaria ao Pico Cuetalbo, acima dos 2000 metros de altitude, à vista da imponente Torre de Orniz e das Morteras do Lago del Valle. Depois, descendo o jovem rio Sil, regressámos a La Cueta de Babia ... e estávamos no fim de mais uma jornada por terras do paraíso.

Na tarde do primeiro dia de Agosto ... estávamos em Vale de Espinho.
24 de Julho de 2011

domingo, 18 de junho de 2006

Com os Caminheiros em terras de Alfândega da Fé

15 a 18 de Junho de 2006 foram 4 dias intensamente vividos com os Caminheiros Gaspar Correia, numa das mais completas e mais conseguidas actividades em que com eles participei.  Depois de uma passagem
Atravessamos o Marão, 15.06.2006
pelo Porto para uma visita à então recente Casa da Música, rumámos a terras transmontanas, mais concretamente ao concelho de Alfândega da Fé e à Serra de Bornes.
Estalagem Srª das Neves: apresentação à Serra de Bornes, 15.06.2006
A aldeia de Cerejais e as instalações do Santuário do Imaculado Coração de Maria foram o nosso alojamento. E logo na primeira noite fomos brindados com um sarau musical pelo agrupamento "Vale Sempre a Pena", de que fazia parte o nosso cicerone local.

A primeira caminhada iniciámo-la próximo da barragem da Esteveinha, 4km a norte de Alfândega da Fé e na encosta sul da Serra de Bornes. Em época de castanheiros floridos, esta caminhada caracterizou-se exactamente pelo atravessar de densas manchas de castanheiros, bem carregados das flores que, no outono, darão os seus bem saborosos frutos. A meio da manhã estávamos a atravessar a aldeia de Sambade e o almoço foi, por sua vez, em Soeima.
De tarde contornámos a vertente sudeste da serra, atingindo os 1100 metros de altitude. Quando terminámos, junto à capela de S. Bernardino de Sena ... tínhamos completado 25km! E nesse mesmo dia,
à noite, voltaríamos a Gebelim para assistir a uma representação do Grupo de Cantares de Gebelim.
No dia seguinte, iniciámos o percurso no próprio Santuário de Cerejais. O dia foi dedicado ao Rio Sabor, o último rio selvagem de Portugal ... antes que aquelas terras fossem inundadas pela projectada barragem. Descemos assim à foz da ribeira de Zacarias, acompanhando depois o curso do Sabor durante mais de 7km. O almoço (e o banho...) foi junto à antiga Quinta de Santo Antão da Barca. E depois ... era preciso voltar a subir; os caminheiros com as "pilhas" mais em baixo, viram aparecer um providencial transporte, providenciado pela organização, com a colaboração da Câmara de Alfândega da Fé. E todos terminámos na aldeia de Parada, com 17km percorridos. De novo em Cerejais ... tínhamos uma merenda transmontana à nossa espera! E o Grupo de Cantares da Santa Casa da Misericórdia de Alfândega da Fé brindou-nos com mais um espectáculo musical.
No 4º e último dia, a música continuou presente nesta nossa jornada em terra transmontana: após uma visita a Alfândega de Fé, visitámos a Exposição "Sons para ver, ouvir e sentir", no Centro Cultural Mestre José Rodrigues, que nos dava a conhecer os instrumentos de música mecânica do Dr. Luís Cangueiro. Depois ... seria o rgresso a Lisboa. E que belos 4 dias ali tínhamos passado.
15 de Julho de 2011
 

domingo, 4 de junho de 2006

"Vale de Espinho, uma melodia a 4 estações" ...
em filme

Depois de ter levado os Caminheiros às minhas terras raianas, no fim de semana de 26 a 28 de Maio de 2006 ... regressámos ao nosso "retiro". Maio ... mês das maias ... a giesta! Os campos, as encostas da Malcata, tudo é um mundo amarelo cerrado, aqui e ali ainda salpicado pela giesta branca.  Dia 27 pego no
"burro" e vou precisamente explorar as encostas das Muretas e das Cortes, para o lado oposto contorno o cabeço do Colmeal, à volta do Alcambar e do regato dos Pradinhos. Mas na manhã do dia 28 lanço-me à descoberta de recantos perdidos da Malcata, faço quase 100km de "burro"! Passando o barroco branco, desço à Ventosa e à Malhada Medronheira, pelos Concelhos vou ao já meu conhecido Cabeço do Pão e Vinho, mas avanço à margem do Bazágueda, até onde o caminho o permite, frente à foz da Barroca da Moita do Padre. Se estas águas e estes lugares contassem as suas histórias e lendas...
Pelas Ginjeiras, descubro os antigos olivais da relva da Maria Mateus; do outro lado do Bazágueda é a Nogueira. Depois reentro por momentos em terreno conhecido, desço à Mouca e visito a ti MariZé, à beira dos moinhos do Bazágueda. Mas avanço para sul, e são precisamente velhos moinhos que se me revelam, contando histórias perdidas de um tempo há muito perdido. O Moinho da Marmita, o Moinho Conselheiro, o da Quarta do Vento, os moinhos do José Cavalheiro, o Moinho do Maneio, em todos parecia ouvir ainda o gemer das velhas mós, há muito paradas ... há muito perdidas. O Moinho do Maneio foi entretanto recuperado e transformado, actualmente, para turismo rural. Pena é que os restantes se encontrem no mais completo abandono ... tal como infelizmente a maioria dos moinhos do Côa.
Já na estrada Penamacor - Valverde, cruzo o Bazágueda e pouco depois entro em Espanha. Entre Valverde e a raia, perscruto novos caminhos, subo ao Labrado Alto em direcção a Corral Hidalgo, mas a dificuldade dos caminhos obriga-me a tomar o já conhecido trilho de Rascaderos e do Muro Julian. Entro pela Portela da Arraia, passo o Ribeiro Salgueiro ... e antes do meio dia estava em casa.



Entretanto, a 4 de Junho de 2006 acabei a montagem do filme que mais gozo alguma vez me deu fazer: "VALE DE ESPINHO, Uma Melodia a 4 Estações". A minha carolice pelo vídeo tinha, obviamente, de ficar ligada a Vale de Espinho de uma forma diferente de a qualquer outro sítio. Não se tratava de uma mera "reportagem" de um percurso pedestre. Ao longo dos anos, eu tinha reunido imagens suficientes para pôr aquele projecto de pé. O filme, com uma duração de pouco mais de uma hora, é assim uma amostragem documental das terras raianas ao longo das 4 estações do ano, das mutações da Natureza e da minha paixão por todas aquelas cores e sensações ... ao mesmo tempo que é, também, uma outra homenagem deixada à memória do homem sem o qual eu não me teria ligado àquelas terras e gentes.









Terminado, como já referido, a 4 de Junho, evidentemente ofereci cópias do filme a familiares e amigos ... e vi o filme ter um "sucesso", em Vale de Espinho e não só, que nunca imaginei. Chegou a haver "sessões" em casa de uns e de outros, pedidos de cópias vindos das "sete partidas". Ao longo dos 5 anos que entretanto se passaram, o filme "VALE DE ESPINHO, Uma Melodia a 4 Estações" ... fez história na história de Vale de Espinho.

E Junho é o mês dos santos populares! Em Vale de Espinho, manda a tradição que o mais venerado seja o S. João! Por isso, no S. João ... lá estávamos; as tradições do S. João estão retratadas no filme.
Mas no próprio dia de S. João, o CAAL tinha uma caminhada em Aldeia da Ponte. Fui assim encontrar-me com o grupo, regressando à "minha" Vale de Espinho. Conheci os moinhos do rio Cesarão, conheci o Santuário da Sacaparte, a própria Aldeia da Ponte. Curiosamente, os organizadores desta caminhada, naturais de Aldeia da Ponte ... no ano seguinte viriam a "alistar-se" nos Caminheiros Gaspar Correia.
Mas entretanto, também em Junho, os Caminheiros haviam-me levado ... às terras transmontanas de Alfândega da Fé.
 
10 de Julho de 2011

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Quando atravesso a Malcata ...
e levo os Caminheiros às terras de Riba-Côa

As férias da Páscoa de 2006 foram passadas ... em Vale de Espinho. Claro que quase todos os dias houve percursos, a pé ou de "burro", pela Malcata e pelas Mesas, descobrindo a linha de fronteira sobranceira ao Lameirão dos Foios, os barrocos negros, a Carambola, a Quinta das Vinhas (Quadrazais), descobrindo novos cantos e recantos do Côa, na Fontanheira, nas Colesmas, nas Bracio-
sas ... tudo era comunhão e entrega.
Mas, para o dia 13 de Abril de 2006 ... eu tinha um projecto mais arrojado. Quantas vezes eu ouvira contar ao meu saudoso sogro, o Zé "Malhadinhas", as suas travessias da Serra da Malcata, de e para o quartel, em Penamacor. Em 1952, casado e na tropa, ir e vir a casa nas licenças do serviço militar implicava, para poupar uns cobres, percorrer as bredas da Malcata, de Vale de Espinho ao quartel, com as sombras, as luzes, as cores e os sons da serra por companhia. Não necessariamente pelos mesmos trilhos, mas há muito que pensava numa travessia solitária da Malcata, que constituísse uma singela homenagem à sua memória. A oportunidade chegou naquele dia 13 de Abril, em que tanto os meus pais como o meu filho mais novo vinham ter connosco a Vale de Espinho ... pelo que portanto me podiam apanhar em Penamacor, para o regresso.
A partida simbólica para esta travessia solitária ... foi do cemitério da aldeia, do jazigo onde ele descansa o sono eterno, faltavam 5 minutos para as 6 da manhã, ainda noite escura. A lua reflectia-se no Côa, e foi já a subir a Malcata que vi nascerem os primeiros raios de um Sol revigorante. Uma hora depois, com quase 5km percorridos, estava no Cabeço do Passil, na cumeada da Malcata, limite entre as Beiras Alta e Baixa. Depois foi a descida à confluência das ribeiras do Poço do Inferno e das Ferrarias, a subida à linha de fronteira, a descida à Quinta do Major, a subida ao Pão e Vinho e às Ginjeiras,  a descida às Revoltas  e
de novo ao Bazágueda, junto à foz da Ribeira da Mouca. Velhos vestígios de velhos moinhos - os moinhos do Bazágueda - pareciam querer falar-me da noite dos tempos. Mas naquele lugar "perdido", à beira do Bazágueda e isolada do mundo ... encontrei a ti MariZé Salgueiro, da qual já tinha lido notícias, a única habitante da Reserva da Malcata. Viúva, ali sozinha com as suas cabras e cães, fazendo deliciosos queijos de pura cabra, era o exemplo vivo de uma gente simples, que dorme em paz e sem sonhos ... por quem Freud jamais teria existido e inventado a psicanálise!
Do Bazágueda e da ti MariZé a Penamacor faltavam pouco mais de 8km. Passando a sul da carreira de tiro da Meimoa e pelo Vale Longo, a "etapa" levou cerca de duas horas. Às 16h45 estava, assim, à beira da estrada que sai de Penamacor para o Sabugal. Com uma cronometragem quase "milimétrica", poucos minutos depois via chegar o filho e os pais ... que me deram "boleia" de regresso a Vale de Espinho. A travessia estava cumprida, tinha a certeza que o Zé "Malhadinhas" me tinha acompanhado...
Mas ainda nas férias da Páscoa, nos dias 14 e 16 de Abril - o próprio domingo de Páscoa - o meu velho "burro" levou-me ainda a mostrar um cheirinho da "minha" serra aos meus pais. Na altura com 81 e 83 anos ... lá andaram "aos tombos" dentro do UMM, apreciando as sempre belas panorâmicas da Pelada, da Machoca, da serra do Homem de Pedra, os lameiros do "meu" Côa, junto ao Espírito Santo, no Alcambar, na Ponte Nova, no Moinho do Rato.

Entretanto, desde que entrei para os Caminheiros Gaspar Correia,  em Outubro de 2002,  Vale de Espi-
Um "burro" manco..., 25.03.2006
... e a "perna" que ele perdeu... J
nho, a Malcata e as terras de Riba-Côa não podiam deixar de constar, em lugar de destaque, nas minhas propostas de caminhadas. Depois de 3 anos consecutivos em que tinha sido adiada, por haver outras actividades de vários dias na calha, a "minha" Malcata veio a constar, finalmente, no programa de actividades de 2006. Assim, no fim de semana de 25 e 26 de Março, tinha "convocado" duas amigas e um amigo caminheiros para fazerem comigo a habitual prospecção dos percursos a realizar. Seria complicado prospeccionar três caminhadas em apenas dois dias, mas o meu velho UMM, que dormia sempre em Vale de Espinho, seria teoricamente um apoio de prospecção, até porque ele estava bem habituado a trilhar os caminhos da serra, por vezes bem penosos. Acontece, contudo, que ninguém pode prever o imprevisível: o meu velho "burro", nesta prospecção, limitou-se a levar-nos para jantar nos Foios, na 6ª feira à noite. No sábado de manhã, quando já íamos de novo "a bordo", notei que algo de estranho se passava; pareceu-me ter perdido a tracção, ou a caixa de velocidades; na mesma fracção de segundo, diz um companheiro no banco de trás: "olha que perdeste uma roda, vai ali a andar sozinha"! Pois é, mas a roda até nem estava sozinha: levava com ela todo o semi-eixo traseiro do lado direito! Lá parámos, sem problemas ... e só praticamente quando parou é que o meu pobre "burro" tombou para o lado manco! O apoio de jeep estava, pois, finalizado! Felizmente estávamos ainda em alcatrão, o reboque levou-o para o Sabugal, e nós, que tínhamos arranjado as mochilas com o farnel para o caminho ... acabámos por almoçar em minha casa, depois de cravar um cunhado para nos ir buscar ao local
Valdedra e Bazágueda, 29.04.2006
do incidente. Depois ... fizemos as prospecções a pé...; apenas duas ... mas o meu conhecimento da "minha" Malcata dispensava a terceira...J
Assim, no fim de semana grande de 29 de Abril a 1 de Maio, os Caminheiros Gaspar Correia estavam pela primeira vez na Malcata, pela minha mão! A primeira caminhada iniciou-se no fim do alcatrão da antiga estrada do Meimão, cortada pela barragem da ribeira da Meimoa. Ao longo da cumeada sobranceira à ribeira de Valdedra, subimos depois às Revoltas, descemos à ribeira da Mouca ... e almoçámos nas margens do Bazágueda, onde os mais afoitos até foram ao banho. Depois ... depois os Caminheiros conheceram a ti MariZé e o isolamento em que vivia ... e conheceram os seus queijos. E que bem os apreciaram! E a caminhada
Da nascente do Côa a Vale de Espinho, 30.04.2006
terminou nas Quelhinhas, já na estrada Penamacor - Valverde del Fresno.
As duas restantes caminhadas tiveram Vale de Espinho como ponto de referência. Dia 30, a jornada começou no estradão (ainda não estava alcatroado) que levava à nascente do Côa. Da nascente subimos às Mesas, percorrendo depois toda a cumeada Mesas / Malcata, pela "minha" casa dos Carabineiros, barroco ratchado, Pedra Monteira, Canto da Ribeira, Colesmas, Braciosas, Moinho dos Pecas, Engenho, Ponte, e enfim Vale de Espinho ... terminando em minha casa J. O jantar desse dia foi nos Foios, onde a costeleta de vitela da Ramitos (a gerente do "El Dorado" local) encheu as medidas a todos.
E de Vale de Espinho a Malcata, 1.05.2006
A terceira e última caminhada ... começou em Vale de Espinho, no mesmo ponto onde terminara a da véspera. Ao longo do Côa até ao Moinho do Rato, subimos depois ao Cabeço da Moira, passámos o barroco branco, fomos almoçar ao Espigal, subimos à Machoca ... e fomos terminar em Malcata.

Não me cabe a mim fazer a apreciação do que foram estes três dias "por terras de riba-Côa e Malcata"... mas o que é facto é que os Caminheiros já voltaram à zona raiana por mais três vezes, depois desta primeira abordagem... J.
9 de Julho de 2011

terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Das terras do Demo à Serra de S. Mamede ... com um inverno raiano pelo meio

"Uma vez um homem travou do bordão e partiu a correr as sete partidas do Mundo. Andou, andou, até que foi dar a uma terra de que ninguém faz ideia."
(Aquilino Ribeiro, "Terras do Demo")

No fim de semana de 26 e 27 de Novembro de 2005, uma actividade do CAAL (Clube Ar Livre) nas "Terras do Demo", próximo de Moimenta da Beira, aliciou-nos a ambos a participar.

"Era o tempo das madrugadas nevoentas de Novembro e dos nevões prestes a cair, da aldeia embiocada no burel, dos lobos saindo a medo dos seus fojos, dos caçadores furtivos do defeso, dos medronhos silvestres já maduros sobre os cómoros."
(Alberto Correia, in Jornal do Centro)

No sábado 26, a Casa-Museu Aquilino Ribeiro, em Soutosa, onde viveu, ajudou-nos a compreender o mundo retratado pelo mestre. Mas logo aí fomos brindados por alguns farrapos de neve, como cartão de visita de um inverno a aproximar-se, que se iria revelar gélido. Depois visitámos Ariz, com as suas tradicionais casas de granito, onde iniciámos o percurso pedestre pela Serra da Nave, por caminhos que serpenteiam pelo meio das penedias, junto a um conjunto de moinhos de água recuperados, pelo castro do "Castelo", penedo da Fonte Santa e capela da Senhora dos Aflitos, terminando em Pêra Velha. No dia seguinte, o percurso foi a partir do Santuário da Senhora da Lapa e pelas cristas da Serra da Lapa, com magníficas vistas dos vales dos rios Paiva, Vouga e Távora, a barragem do Vilar e as serras da Nave e Leomil,  com  a  Estrela no horizonte.
Vale de Espinho, do Areeiro, 10.12.2005
Terminámos na aldeia de Penso.

Menos de 15 dias depois ... estávamos em Vale de Espinho J. E no dia 11 de Dezembro saio de casa antes das seis da manhã, sozinho, a pé ... com 7ºC negativos! O objectivo era ir ver o nascer do Sol na Casa dos Carabineiros, no Picoto da raia. E assim foi. O frio e a noite escura foram recompensados com o espectáculo grandioso dos primeiros raios do astro rei sobre aquela paisagem grandiosa, a perder de vista sobre a Extremadura espanhola, com a Marvana a sudoeste.
Um esplendoroso nascer do Sol no Picoto da raia,
sobre as ruínas da antiga Casa dos Carabineiros, 11.12.2005
" Eu nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse... "
Janela aberta para outro dia que amanhece, 11.12.2005
Os primeiros raios de Sol sobre Valverde, 11.12.2005

"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
"

    (Alberto Caeiro, "O Guardador de Rebanhos")
E o "guardador de rebanhos" passou à encosta extremeña
Aquele nascer do Sol na Casa dos Carabineiros acabou por ser o mote para uma caminhada em que desci à estrada de Valverde, percorri o Picoto e o Piçarrão, reentrei pela Portela da Arraia, Ribeiro Salgueiro ... e à hora do almoço estava em casa, em Vale de Espinho, com 27km percorridos.

E os últimos dias do ano de 2005 foram de novo na raia! Nos dias 29 e 30, o meu "burro" levou amigos, filhos, sobrinhos, à Serra Alta, à nascente do Côa, à cumeada das Mesas e da Malcata. Os céus pressagiavam neve ... que se veio a concretizar!

Serra Alta e Aldeia Velha, num dia a pressagiar neve, 30.12.2005
Marco geodésico da Serra Alta, 1144m alt., 30.12.2005
Naquele inverno de 2005 / 2006 ... até na grande Lisboa nevou, no dia 29 de Janeiro. Paradoxalmente, não vi esse nevão na capital ... porque estava mais uma vez em Vale de Espinho. Nesse dia 29 de Janeiro de 2006 vi neve sim, mas na cumeada do Coxino e do Cabeço da Moira ... e nas "minhas" Fontes Lares. A magia daquele local continuava a mostrar-me as suas faces ... numa autêntica melodia das quatro estações.
E Vale de Espinho pintada de branco,
29.01.2006

Fontes Lares em tons de branco, 29.01.2006
Nas férias de Carnaval de 2006 voltamos lá, de 23 a 28 de Fevereiro. 6 dias ... 7 caminhadas, a pé e "de burro", quase 200km percorridos, por "bredas feitas à sorte", ao longo das fragas, bebendo as águas, as cores, os sons e os cheiros da "minha" Malcata, do Côa, do Bazágueda, das lendas perdidas da Marvana, dos barrocos, das terras e gentes raianas.
Rio Côa,  no Moinho  do  Rato,
Vale de Espinho,  26.02.2006

Torre de vigia da Machoca, Serra da Malcata, 26.02.2006
Paisagem "siberiana", Serra da Malcata, 26.02.2006
Paisagem "siberiana", Serra da Malcata, 26.02.2006
Travessia da Serra de S. Mamede com o CAAL, 5.02.2006
Entretanto, no fim de semana de 4 e 5 de Fevereiro, tinha estado com o CAAL na Serra de S. Mamede. Sábado, 16km entre Marvão e Castelo de Vide. Domingo foi a travessia completa da serra, no sentido SE/NW, 24km entre Alegrete e a barragem da Apartadura, passando pelo ponto mais alto da serra, a 1027 metros de altitude. Sem dúvida um belo fim de semana de ar livre.
7 de Julho de 2011