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sexta-feira, 6 de outubro de 2006

A Ponte da Misarela ... e uma travessia abortada do Gerês, derrotado pela intempérie

O feriado e ponte do 5 de Outubro de 2006 proporcionou 4 dias de "férias" ... que eu, a "sócia" e o nosso "grupo dos sete" destinámos a uma jornada no Gerês e na cidade invicta. Os restantes cinco amigos do grupo não eram propriamente caminheiros ... mas eu lá tinha os meus planos... J. E os planos incluíam
Ponte da Misarela, ou do diabo, 5.10.2006
a visita a um lugar que há muito queria conhecer: a Ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão, entre Ruivães e Sidrós, separando o Minho de Trás-os-Montes. Esta ponte, também conhecida por ponte do diabo, é um dos lugares mais "mágicos" do Gerês e da zona envolvente. A ela estão ligadas lendas perdidas na noite dos tempos, alusivas à fecundidade, à religião, aos intentos do demo. Precisamente em Outubro de 2006, Sebastião Antunes e a "Quadrilha" lançam o seu álbum "Deixa que aconteça", que inclui a faixa "Ponte da Misarela", onde ele conta e canta magistralmente a lenda da Misarela.
Ao percorrermos a velha ponte e as muitas fragas que a ladeiam, ao som das águas agitadas do Rabagão, quase nos parecia ver surgir o mafarrico e a sua voz tonitruante:
Rio Rabagão, sob a Ponte da Misarela, 5.10.2006
"Salvo-te, pois claro, mas se me deres a alma em troca".

Nós ... fomo-nos "salvar" rumando a Pitões. Em Ferral, próximo ainda das terras da Misarela ... ficaram históricas umas monumentais postas barrosãs, no "Transmontano". E ao fim do dia 5 estávamos em Pitões das Júnias ... a "aldeia mágica". Dois dos nossos amigos já conheciam as Sr.as Marias, da "Casa do Preto", já haviam participado em várias das "aventuras" com alunos". Mas os outros não conheciam Pitões. Fomos, por isso, ao velho Mosteiro e à ainda mais velha cascata, numa magnífica tarde de Sol, em que toda a "minha" Serra do Gerês se recortava na paisagem. A não ser pela previsão meteorológica ... nada fazia pensar que o dia seguinte não fosse igual...
Pitões das Júnias ... a "aldeia mágica", 5.10.2006
Para o dia seguinte, eu tinha um objectivo há muito almejado: a travessia solitária do Gerês, de Pitões à Portela do Homem, reconstituindo assim a "aventura" feita com alunos, 17 anos antes. O resto da equipa apanhar-me-ia na Portela do Homem. 17 anos tinham apagado memória importante em termos de percurso,
São 5 da manhã na noite do Gerês: Outeiro do Grosal, 6.10.2006
mas, ao contrário de então, agora havia GPSs e software específico para estes fins. O meu fiel OziExplorer não me deixaria perder. Só que ... a previsão meteorológica apontava para chuva.
"Às vezes enganam-se", pensei eu, esperançoso, até porque realmente os dias anteriores tinham sido completamente soalheiros. E, por isso ... 10 minutos antes das 5 da manhã daquele dia 6 de Outubro ... eu estava a sair de Pitões, rumo à Serra. A noite estava escura mas estrelada ... podia ser que a chuva tivesse desistido...
E lá fui...! Outeiro do Grosal, carvalhal de Fornos, a progressão para noroeste vai avançando lentamente, por vezes iluminando o chão com a luz do GPS ... e tentando perceber as intenções do tempo. Duas horas depois tinha percorrido 6,5 km, começava a subir para a Brazalite. As estrelas tinham desaparecido ... mas não porque já fosse dia. Uma espessa e húmida neblina começou a transformar tudo em redor num reino fantasmagórico ... e comecei a sentir as pingas da chuva anunciada. Ainda numa quase escuridão, umas fragas providenciais surgiram-me no início da subida ... e serviram-me de abrigo durante quase uma hora e meia! Numa enganadora aberta, saí de lá às 8h:25 ... e continuei a subir. A chuva tinha parado! Cruzada a Corga da Tulha, estava aos pés da Fonte Fria ... mas tudo em meu redor parecia rodeado de mistério.
Coto de Fonte Fria, 6.10.2006
Fragas envoltas em mistério, Fonte Fria, 6.10.2006
A Fonte Fria é o ponto de inflexão do percurso, para quem quer seguir para os Carris e a Portela do Homem. O rumo agora seria SW, ao longo da raia. Mas ... a chuva voltou ... e com mais força. Muito perto
Carvalhal de Fornos, já no regresso, 6.10.2006
dos 1400 metros de altitude, ligeiramente a SW da Fonte Fria ... fiz nova "paragem técnica" de quase uma hora! Havia que tomar opções: ou continuar, correndo o risco de me ver no meio de um temporal de chuva, com as encostas que sabia que teria de subir, mais a sul, eventualmente escorregadias e perigosas, e, de qualquer modo, sem poder apreciar e viver as panorâmicas de serra que sabia e me lembrava que ali estavam ... ou regressar prudentemente a Pitões das Júnias. Foi esta segunda opção que tomei, prudentemente. A última coisa que alguma vez desejaria ... era vir a ser notícia, como "turista" resgatado no Gerês...! Pouco passava das 10h:30 quando iniciei o caminho de volta.
O resto da minha "equipa" tinha ido até Montalegre ... mas regressou também a Pitões, após o meu contacto telefónico. E em pouco mais de duas horas fiz o percurso de volta ... quase todo debaixo de copiosa chuva! A Srª Maria ficou descansada ao ver-me de regresso...
A tarde daquele dia 6 de Outubro foi de autêntico dilúvio. Uma rápida visita a Tourém, fugindo à chuva, a volta por Lobios ... e passámos à mesma na Portela do Homem ... mas de carro. A travessia do Gerês tinha ficado adiada.
E foi em dias de Sol radioso e com os horizontes a perder de vista que vim a fazer a travessia do Gerês, menos de 2 anos depois ... paradoxalmente por duas vezes em menos de uma semana!
Fronteira da Portela do Homem, em tarde chuvosa e agreste, 6.10.2006
26 de Julho de 2011