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quarta-feira, 25 de outubro de 2000

Açores, ano 2000 (2): quando subo pela 2ª vez a montanha do Pico

24 de Outubro de 2000. Estamos em Madalena do Pico, preparados para a grande "aventura" da subida à montanha. Pela minha parte, era a segunda vez que a subia ... depois de 4 anos antes o ter feito também com alunos. Agora é o Cláudio Gonçalves, então aluno, a descrevê-la para o Clube "Amigos da Natureza":

"Às 7h45 lá partimos, cheios de ansiedade, rumo ao local onde se ia iniciar a grande aventura da viagem: a escalada ao Pico! Quando chegámos ao sopé do Pico, abandonámos o autocarro, que logo deu meia volta, regressando a Madalena do Pico, e que só nos viria buscar no fim da aventura. Fomos então ao encontro do nosso guia, o Joaquim Nené, que tinha vindo no seu próprio carro. A euforia e a adrenalina eram bastantes, porque o nevoeiro matinal teimava em não levantar, impossibilitando que conseguíssemos um contacto visual com o cimo do Pico, para podermos fazer uma estimativa do percurso que estávamos prestes a iniciar. Terminadas as últimas instruções e trocadas palavras de encorajamento, começámos a nossa escalada por aquilo que se chama um "caminho de cabras". O caminho era escorregadio, pois por entre a terra húmida existiam "paletes" de musgo encharcado pelo orvalho da manhã. Muitos arbustos ladeavam o pequeno trilho, não nos deixando alternativas de percurso. Depois de pouco andarmos, chegámos a umas elevações que pareciam pequenas montanhas e que foram facilmente identificados como cones secundários. Um deles permitia que se entrasse e, lá dentro, lugar onde nem todos foram, sob a protecção de um muro edificado pela mão humana, podia-se apreciar uma grande fenda escura e húmida, com plantas nas suas paredes. A escalada continuou e o caminho foi-se tornando mais íngreme, mas ao mesmo tempo mais livre, porque à medida que subíamos os arbustos iam rareando, deixando-nos a possibilidade de fugir um pouco ao caminho seguido pelo guia e, dentro do possível, sermos como pioneiros, inaugurando um novo trilho para alcançar o topo do Pico."

Foi por esta altura que se deram as primeiras desistências, tal como tinha acontecido 4 anos antes. Mas continuemos a acompanhar a descrição:

"O resto do grupo, agora mais pequeno, prosseguiu a viagem mais apreensivo e consciente do perigo. À medida que subíamos,  repetíamos tentativas frustradas de avistar a paisagem  encoberta  por  "resmas"  de
Subida à montanha do Pico, 24.10.2000
"nuvens que, além de não nos deixarem aproveitar a vista panorâmica da ilha, nos banhavam com salpicos quando as atravessávamos. No entanto, por pequenas abertas entre as nuvens, era possível vislumbrar campos cultivados, pedaços da costa onde se notava a zona da rebentação das ondas e alguns pequenos cones como os que tínhamos visto de perto lá em baixo. Aquela não era definitivamente uma simples neblina matinal. Finalmente alcançámos a nossa primeira meta, estávamos a 2280m de altitude, na borda da cratera do Pico. A cratera era enorme, de forma circular, e bastante funda, com cerca de 80m de altura, da qual irrompia o Piquinho, ao qual estávamos destinados a chegar. Perante esta magnificente "miragem", resolvemos parar para almoçar e assim juntar o útil ao agradável, pois ao mesmo tempo que enchíamos a barriga aliviávamos o peso das mochilas.
Como não podia deixar de ser, as nossas fieis perseguidoras (as nuvens) acharam que era também uma altura propícia para aliviar a carga e, para mal dos nossos pecados, começou a chover. Aconchegámo-nos todos na tentativa de nos protegermos daquela chuva persistente, que era tocada pelo vento, mas de nada adiantou. E assim, terminada a refeição, o grupo prosseguiu, deixando mais uma jogadora do nosso “plantel” naquele local, que por si só era prémio suficiente de uma escalada ao Pico, a descansar do percurso já feito e à espera de dar umas boas risadas à custa dos nossos tropeções na última e mais difícil etapa da escalada. Descemos até à cratera por um caminho íngreme e iniciámos a subida ao Piquinho. Esta subida foi muito difícil, porque as pedras estavam soltas e à medida que um subia ia deixando atrás de si uma chuva de calhaus para os outros.

No Piquinho (2351m alt.), 24.10.2000
Após muitas escorregadelas, chegámos enfim ao ponto mais alto de Portugal (2351 m de altitude). Olhámos em volta e não pudemos deixar de nos sentir bem e satisfeitos, pois apesar de as nuvens nos impossibilitarem uma panorâmica da ilha, proporcionavam-nos um espectáculo igualmente belo. Tudo abaixo de nós era branco, só com uns farrapos de azul do mar, e, acima de nós, o céu estava limpo e o sol brilhava, despertando arco-íris pela cratera. Depois de muitas fotografias e muitos risos de alegria, voltámos pelo mesmo caminho até ao local onde antes tínhamos estado a almoçar. Pegámos nas mochilas que aí tinham ficado e começámos a grande descida do Pico, que era talvez mais perigosa mas mais divertida, pois o esforço era menor e sempre podíamos dar uma corridinha de vez em quando e uns espalhos engraçados, sempre sem nos afastarmos muito do Nené (o nosso guia), pois o nevoeiro veio para ficar e não nos podíamos perder.


Quando chegámos ao sopé do Pico, o autocarro ainda não tinha chegado. O Nené levou no seu carro alguns de nós que se tinham lesionado e todo o resto do grupo seguiu a pé estrada fora, conversando, contando anedotas e ouvindo histórias que os "profs" tinham para contar. Já nem a chuva que caía nos perturbava, tínhamos conseguido o nosso objectivo. Por fim apareceu o autocarro, entrámos todos molhados como uns pintos e sentámo-nos confortavelmente como nunca tínhamos estado nas últimas horas. Eram então 16h45 e estávamos de volta a Madalena do Pico, cansados mas realizados, por termos conseguido enfrentar um desafio, com a companhia e a ajuda sempre agradavelmente presente dos nossos amigos e dos nossos professores (que também são, sem dúvida, nossos amigos)! Quando regressámos, e após uma banhoca reconfortante no Quartel dos Bombeiros, que ficava mesmo em frente às nossas instalações (porque não se podia tomar banho nos nossos balneários...), seguiu-se o jantar no mesmo restaurante do dia anterior. À entrada do restaurante, a luz não era muita e como não havia nuvens, fomos brindados com um céu no mínimo espectacular! Dava a sensação de que se estendêssemos um pouco mais o braço poderíamos tocar nas estrelas, porque elas estavam ali para nós!!
Como era a nossa última noite naquela ilha, os professores permitiram uma pequena escapadela às horas, ou seja, fomos divertir-nos para um barzinho junto ao mar, onde dançámos, rimos, brincámos... Chegámos aos nossos confortáveis aposentos e quando chegou a hora do recolher, as melgas voltaram ao ataque, o calor também (porque para não entrarem mais melgas “kamikazes”, fecharam-se as janelas, o que tornou o ambiente mais abafado), e, claro, o nosso lindo “coro” privativo!! Até houve pessoas que preferiram ir dormir para o átrio do que enfrentar toda aquela cena de filme, com aviadores, climas quentes e banda sonora (?!) !!

25.10 - Quarta-feira. 7h30... hora de despertar, fazer as últimas arrumações e partir rumo a S. Roque, onde tomámos o pequeno-almoço e onde nos esperava o navio “Golfinho Azul”, para uma aventura marítima até à ilha Terceira!
6 de Maio de 2011

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