Eu já conhecia o "
ventre das Mesas" e o correr do
Côa serra abaixo. Já conhecia muitos dos seus meandros, já
tinha ouvido os seus lamentos, as suas histórias perdidas, contadas nas
poldras, nas velhas açudes, nas ruínas dos velhos moinhos abandonados no "
tempo que passou ". Mas há muito que me fervilhava a ideia de ligar
esses meandros e essas histórias, de seguir o curso do Côa ... a pé.
Em Junho e Julho de 2010, nas nossas habituais estadias em
Vale de Espinho ... iniciei a minha descida pedestre do
Côa. A primeira "etapa" foi nos dias 27 a 29 de
Junho. E a etapa começou acima da nascente
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Abutre de asas abertas, porque não me dás boleia?...
Lameirão dos Foios, Serra das Mesas, 27.06.2010
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do Côa, no
Lameirão dos
Foios, a 1160 metros
de altitude, onde o lençol freático muito próximo da superfície será,
provavelmente, a origem primária dos dois rios irmãos, o
Côa
e o
Águeda. A
Serra das Mesas, já
minha velha conhecida, é bem o ventre de onde eles nascem, ponto de partida
obrigatória desta minha "peregrinação". Depois, foi seguir o curso do jovem
"
ser que quis nascer e correr serra abaixo". Contornando o
Cabeço dos Currais e cruzada a estrada do Lameirão, chegamos
aos primeiros declives acentuados e entramos na ampla curva do
Prado da Barrosa. Do curso sul/norte que o caracteriza na
generalidade, nos Foios o Côa corre no sentido nordeste/sudoeste. Primeiros
lameiros, primeiros campos de cultivo ... e estamos nos
Foios.
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Atravessando o prado da Barrosa, 28.06.2010
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Praia fluvial dos Foios, 28.06.2010
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Logo a seguir aos Foios, o Côa recebe os seus dois primeiros afluentes
propriamente ditos, na margem esquerda: os ribeiros do
Colmeal e do
Picoto.
Cama Grande ... e os granitos vão dando lugar aos xistos ...
a Serra das Mesas vai dando lugar à da
Malcata. Chegamos à
Fontanheira, aos pés do
Cabeço do Canto da Ribeira, às
Colesmas, às
Braciosas. As velhas açudes, as poldras para atravessar o
rio,
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Pontão e Moinho dos Pecas (vista de nascente), 29.06.2010
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começam a soltar-me o gemido do "
tempo que passou ", das gerações que
as águas viram passar, do labor dessas gerações.
Nas Braciosas, o rio
entra em terras de
Vale de Espinho, contornando os Cabeços da
Cruz Alta e do
Pisão. Surgem os primeiros
moinhos ... ou o que resta deles.
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Memórias que a memória não esquece...
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Primeiro o
Moinho do Sr. Vital, depois o
Moinho dos Pecas.
Passada a ribeira dos
Abedoeiros, chegamos às
Veigas ... e ao
Engenho. Antigo moinho,
antiga fábrica de mantas, antiga "fábrica de luz", o Engenho vale só por si um
compêndio de história, de memórias, de grandezas e fracassos. Quantas páginas
ali se escreveram da história e da vida das gentes de
Vale de Espinho e da raia...
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A velha ponte de Vale de Espinho há muito que vê passar o Côa!
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Pouco depois chegamos à velha
Ponte, ícone de Vale de
Espinho. O
Moinho do Ti Xico Barbeiro é dos poucos na margem
esquerda. E seguimos para o
Pisão, a foz da ribeira do
Vale da Maria, o
Moinho do Ti Zé Lucas e o
da
Nogueira. Das
Aleguinhas e do
Freixial, que viu tantos e tantos convívios nos anos 60, 70,
80, já quase não restam vestígios, varridos pelo envelhecimento e pela
desertificação. Em qualquer destes lugares, vem-me sempre à memória o
pensamento de Sérgio Paulo Silva, também ele "filho adoptivo" de Vale de
Espinho, da raia, da Malcata, do Côa. Escrito para uma
minha foto do
Moinho do Rato
...
1 comentário:
Parei a descansar a vista no moinho da Ervaginha...
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