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segunda-feira, 1 de maio de 2006

Quando atravesso a Malcata ...
e levo os Caminheiros às terras de Riba-Côa

As férias da Páscoa de 2006 foram passadas ... em Vale de Espinho. Claro que quase todos os dias houve percursos, a pé ou de "burro", pela Malcata e pelas Mesas, descobrindo a linha de fronteira sobranceira ao Lameirão dos Foios, os barrocos negros, a Carambola, a Quinta das Vinhas (Quadrazais), descobrindo novos cantos e recantos do Côa, na Fontanheira, nas Colesmas, nas Bracio-
sas ... tudo era comunhão e entrega.
Mas, para o dia 13 de Abril de 2006 ... eu tinha um projecto mais arrojado. Quantas vezes eu ouvira contar ao meu saudoso sogro, o Zé "Malhadinhas", as suas travessias da Serra da Malcata, de e para o quartel, em Penamacor. Em 1952, casado e na tropa, ir e vir a casa nas licenças do serviço militar implicava, para poupar uns cobres, percorrer as bredas da Malcata, de Vale de Espinho ao quartel, com as sombras, as luzes, as cores e os sons da serra por companhia. Não necessariamente pelos mesmos trilhos, mas há muito que pensava numa travessia solitária da Malcata, que constituísse uma singela homenagem à sua memória. A oportunidade chegou naquele dia 13 de Abril, em que tanto os meus pais como o meu filho mais novo vinham ter connosco a Vale de Espinho ... pelo que portanto me podiam apanhar em Penamacor, para o regresso.
A partida simbólica para esta travessia solitária ... foi do cemitério da aldeia, do jazigo onde ele descansa o sono eterno, faltavam 5 minutos para as 6 da manhã, ainda noite escura. A lua reflectia-se no Côa, e foi já a subir a Malcata que vi nascerem os primeiros raios de um Sol revigorante. Uma hora depois, com quase 5km percorridos, estava no Cabeço do Passil, na cumeada da Malcata, limite entre as Beiras Alta e Baixa. Depois foi a descida à confluência das ribeiras do Poço do Inferno e das Ferrarias, a subida à linha de fronteira, a descida à Quinta do Major, a subida ao Pão e Vinho e às Ginjeiras,  a descida às Revoltas  e
de novo ao Bazágueda, junto à foz da Ribeira da Mouca. Velhos vestígios de velhos moinhos - os moinhos do Bazágueda - pareciam querer falar-me da noite dos tempos. Mas naquele lugar "perdido", à beira do Bazágueda e isolada do mundo ... encontrei a ti MariZé Salgueiro, da qual já tinha lido notícias, a única habitante da Reserva da Malcata. Viúva, ali sozinha com as suas cabras e cães, fazendo deliciosos queijos de pura cabra, era o exemplo vivo de uma gente simples, que dorme em paz e sem sonhos ... por quem Freud jamais teria existido e inventado a psicanálise!
Do Bazágueda e da ti MariZé a Penamacor faltavam pouco mais de 8km. Passando a sul da carreira de tiro da Meimoa e pelo Vale Longo, a "etapa" levou cerca de duas horas. Às 16h45 estava, assim, à beira da estrada que sai de Penamacor para o Sabugal. Com uma cronometragem quase "milimétrica", poucos minutos depois via chegar o filho e os pais ... que me deram "boleia" de regresso a Vale de Espinho. A travessia estava cumprida, tinha a certeza que o Zé "Malhadinhas" me tinha acompanhado...
Mas ainda nas férias da Páscoa, nos dias 14 e 16 de Abril - o próprio domingo de Páscoa - o meu velho "burro" levou-me ainda a mostrar um cheirinho da "minha" serra aos meus pais. Na altura com 81 e 83 anos ... lá andaram "aos tombos" dentro do UMM, apreciando as sempre belas panorâmicas da Pelada, da Machoca, da serra do Homem de Pedra, os lameiros do "meu" Côa, junto ao Espírito Santo, no Alcambar, na Ponte Nova, no Moinho do Rato.

Entretanto, desde que entrei para os Caminheiros Gaspar Correia,  em Outubro de 2002,  Vale de Espi-
Um "burro" manco..., 25.03.2006
... e a "perna" que ele perdeu... J
nho, a Malcata e as terras de Riba-Côa não podiam deixar de constar, em lugar de destaque, nas minhas propostas de caminhadas. Depois de 3 anos consecutivos em que tinha sido adiada, por haver outras actividades de vários dias na calha, a "minha" Malcata veio a constar, finalmente, no programa de actividades de 2006. Assim, no fim de semana de 25 e 26 de Março, tinha "convocado" duas amigas e um amigo caminheiros para fazerem comigo a habitual prospecção dos percursos a realizar. Seria complicado prospeccionar três caminhadas em apenas dois dias, mas o meu velho UMM, que dormia sempre em Vale de Espinho, seria teoricamente um apoio de prospecção, até porque ele estava bem habituado a trilhar os caminhos da serra, por vezes bem penosos. Acontece, contudo, que ninguém pode prever o imprevisível: o meu velho "burro", nesta prospecção, limitou-se a levar-nos para jantar nos Foios, na 6ª feira à noite. No sábado de manhã, quando já íamos de novo "a bordo", notei que algo de estranho se passava; pareceu-me ter perdido a tracção, ou a caixa de velocidades; na mesma fracção de segundo, diz um companheiro no banco de trás: "olha que perdeste uma roda, vai ali a andar sozinha"! Pois é, mas a roda até nem estava sozinha: levava com ela todo o semi-eixo traseiro do lado direito! Lá parámos, sem problemas ... e só praticamente quando parou é que o meu pobre "burro" tombou para o lado manco! O apoio de jeep estava, pois, finalizado! Felizmente estávamos ainda em alcatrão, o reboque levou-o para o Sabugal, e nós, que tínhamos arranjado as mochilas com o farnel para o caminho ... acabámos por almoçar em minha casa, depois de cravar um cunhado para nos ir buscar ao local
Valdedra e Bazágueda, 29.04.2006
do incidente. Depois ... fizemos as prospecções a pé...; apenas duas ... mas o meu conhecimento da "minha" Malcata dispensava a terceira...J
Assim, no fim de semana grande de 29 de Abril a 1 de Maio, os Caminheiros Gaspar Correia estavam pela primeira vez na Malcata, pela minha mão! A primeira caminhada iniciou-se no fim do alcatrão da antiga estrada do Meimão, cortada pela barragem da ribeira da Meimoa. Ao longo da cumeada sobranceira à ribeira de Valdedra, subimos depois às Revoltas, descemos à ribeira da Mouca ... e almoçámos nas margens do Bazágueda, onde os mais afoitos até foram ao banho. Depois ... depois os Caminheiros conheceram a ti MariZé e o isolamento em que vivia ... e conheceram os seus queijos. E que bem os apreciaram! E a caminhada
Da nascente do Côa a Vale de Espinho, 30.04.2006
terminou nas Quelhinhas, já na estrada Penamacor - Valverde del Fresno.
As duas restantes caminhadas tiveram Vale de Espinho como ponto de referência. Dia 30, a jornada começou no estradão (ainda não estava alcatroado) que levava à nascente do Côa. Da nascente subimos às Mesas, percorrendo depois toda a cumeada Mesas / Malcata, pela "minha" casa dos Carabineiros, barroco ratchado, Pedra Monteira, Canto da Ribeira, Colesmas, Braciosas, Moinho dos Pecas, Engenho, Ponte, e enfim Vale de Espinho ... terminando em minha casa J. O jantar desse dia foi nos Foios, onde a costeleta de vitela da Ramitos (a gerente do "El Dorado" local) encheu as medidas a todos.
E de Vale de Espinho a Malcata, 1.05.2006
A terceira e última caminhada ... começou em Vale de Espinho, no mesmo ponto onde terminara a da véspera. Ao longo do Côa até ao Moinho do Rato, subimos depois ao Cabeço da Moira, passámos o barroco branco, fomos almoçar ao Espigal, subimos à Machoca ... e fomos terminar em Malcata.

Não me cabe a mim fazer a apreciação do que foram estes três dias "por terras de riba-Côa e Malcata"... mas o que é facto é que os Caminheiros já voltaram à zona raiana por mais três vezes, depois desta primeira abordagem... J.
9 de Julho de 2011

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